[REPORTAGEM] O administrador do sector de Bubaque, região de Bolama/Bijagós, sul do país, denunciou numa entrevista conjunta concedidas aos repórteres dos jornais ODemocrata e Nô Pintcha, que os comerciantes locais, estrangeiros e nacionais, compram a castanha de cajú actualmente no valor de 150 a 300 francos cfa (menos de um Euro) por quilograma (kg).
O preço de mil francos cfa por kg anunciado pelo Chefe de Estado, José Mário Vaz, em Gabú criou muita expectativa em torno dos camponeses a nível do país, mas a castanha está a ser comprada a preços muito inferiores ao valor anunciado pelo Chefe de Estado, facto que, ainda segundo o administrador, criou um sentimento de frustração da parte dos camponeses que se encontram neste momento num beco sem saída.
ADMINISTRADOR: CAMPANHA DE CAJÚ TEVE REFLEXOS MUITO NEGATIVOS EM BUBAQUE
Para o administrador Francisco António Morreira, a presente campanha de comercialização da castanha de cajú está a ter um reflexo muito negativo a nível nacional, principalmente no sector de Bubaque devido à sua insularidade.
“No ano passado, o preço mínimo estipulado foi de 500 francos cfa por quilograma. Porém subiu depois até 1000 francos cfa. Este ano o preço estipulado foi de 1000 francos cfa, infelizmente acabou por descer até aos150. Isso prejudicou e muito os camponeses que viram a sua renda familiar descer e sem solução à vista”, lamentou.
Explicou neste particular que a maioria dos camponeses daquele sector continua a armazenar a sua castanha, com a esperança do um dia, se houver um interessado, poder vendê-la a 1000 francos cfa por quilo, um preço muito acima dos 150 a 300 francos cfa que está a ser praticado.
Sobre a situação administrativa do sector de Bubaque, Francisco António Morreira assegurou ao repórter que herdou uma administração com enormes dificuldades em diferentes sectores. Contudo, diz ter elegido algumas como prioridade para os restantes quatros meses antes das eleições legislativas marcadas para 18 de novembro.
Uma das maiores preocupações dos populares tem a ver com o estado do troço principal da estrada que liga o centro da cidade de Bubaque à praia de Bruce, com buracos que não permitem a circulação normal de veículos. No entanto, o administrador informou que a sua equipa tomou o engajamento de diligenciar junto ao ministério das Obras Públicas para uma avaliação actualizada para que se possa investir na sua reabilitação, através de mobilização de fundos junto dos parceiros.
“Uma cidade como Bubaque é tida como centro que acolhe todos os estudantes de outras pequenas ilhas ao seu redor, como Canogo, Sogá, Canhabaque, Orangozinho. Eles procuram a cidade para prosseguir os seus estudos. Por isso regista-se uma aglomeração de pessoas. A atividade comercial também traz pessoas de outras ilhas a Bubaque”, observou.
BUBAQUE ENFRENTA PROBLEMAS DE ÁGUA POTÁVEL
Relativamente à questão da falta de água potável no sector, explicou que a cidade tem apenas um furo de água que é “muito bom”. Fica a três quilómetros do centro. Contudo, avançou que de momento a electrobomba que bombeava a água está com avarias técnicas, razão pela qual regista-se a falta de água potável na cidade.
Afiançou, no entanto, que a administração está empenhada nas diligências necessárias para aquisição de materiais para a reparação do aparelho, de forma a ser retomado o abastecimento de água a cidade.
No concernente a limpeza da cidade efectuada pela população local uma vez por ano, garantiu que doravante será programada para duas vezes anuais e vai ser estendida até a praia de Bruce. Acrescentou que a primeira acção de limpeza será na primeira semana de agosto e a segunda será em novembro.
“Esta iniciativa evitará perigos a vida das pessoas por causa de cobras, como também ajudará na prevenção de doenças como o paludismo, transmitido através de mosquitos. E como se sabe, essa acção será voluntária e será uma ação conjunta que contará com a participação de todas as instituições privadas e estatais que atuam em Bubaque”, notou.
Explicou ainda que as suas ações são orientadas através do plano diretor setorial, que está dentro do plano diretor regional. Sublinhou, no entanto, que meses atrás o plano foi atualizado, o que permitirá a sua execução.
Em relação às receitas recolhidas pela administração, Francisco António Morreira disse que, na verdade, está sob a dependência do ministério da Administração Territorial. Contudo explicou que o sector consegue as suas rendas por meio das receitas recolhidas nas cobranças do mercado como também de algumas taxas municipais aplicadas aos sectores do turismo, comércio, pequenos butiques e restaurantes, terrenos ocupados pelos hotéis.
ENERGIA ELÉTRICA É MAIS CARRA EM BUBAQUE EM COMPARAÇÃO COM A CAPITAL BISSAU
Confrontado com as queixas dos citadinos da ilha, em particular dos comerciantes, sobre a alta taxa de cobranças da eletricidade que pode custar até 1000 francos cfa para um período de sete horas de consumo para as casas normais e pequenos estabelecimentos de negócios e 2000 a 3000 francos cfa para hotéis e apart-hotéis, dependendo da sua grandeza, explicou que depois de assumir a função de administrador, estava a funcionar o gerador que foi oferecido à comunidade, dado a um grupo de técnicos e que trabalha sob gerência privada.
“Existem duas tarifas: uma de 1000 (mil francos) e outra de 500 (quinhentos) francos cfa, mas os motivos de diferenciação das tarifas ainda não foram explorados pelo governo local. De facto existem duas tarifas, mas desconhecemos as explicações. Vamo-nos reunir para recolher informações saber do funcionamento do gerador e as condições de cobranças”, espelhou.
Reconheceu ainda que existe uma grande dificuldade das pessoas para pagar a electricidade. Contudo, sustentou que em termos da comparação, a electricidade em Bissau é mais barata, porque em Bubaque custa 15.000 FCFA mensal enquanto em Bissau, para casas normais, o valor é menor.
Solicitado a pronunciar-se sobre as medidas que a sua administração vai adoptar sobre naufrágios que muitas vezes são verificados na época chuvosa, disse que na verdade nos últimos tempos registou-se uma redução de naufrágios devido a vigilância rigorosa do Instituto Marítimo Portuário.
“O instituto marítimo tem estado a fazer um ótimo trabalho porque está a ordenar todas as embarcações a obrigarem os passageiros a usarem os coletes salva-vidas. Portanto é preciso reforçar mais medidas deste tipo”, notou.
Explicou ainda que algumas pirogas tentam resistir às medidas adotadas, ignorando-as. Por exemplo, no princípio deste mês uma piroga saiu de Bissau e ficou sem combustível junto à ilha das Galinha, que é um lugar considerado algo turbulento.
EROSÃO INVADE AS PRAIAS DE BUBAQUE E ASSUSTA OS POPULARES
As praias da ilha de Bubaque e outras ilhas deparam-se com enormes problemas de erosão, fato que preocupa os citadinos daquele sector. Contudo, o administrador explicou à repórter que a situação merece igualmente a preocupação das autoridades regionais, tendo frisado que programaram um encontro com os responsáveis do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) e da UICN, de forma a poderem analisar em conjunto o assunto e pensar numa solução a curto prazo, ou seja, nas medidas a serem adotadas para estancar a erosão devastadora e acelerada que se regista mais a cada dia.
Assegurou ainda que a situação precisa de uma avaliação do Conselho de Ministros, tendo avançado que a falta de canais de drenagem contribuiu muito no avanço da erosão.
“Esta zona norte está a cair e até ao monumento histórico, o Comité de Estado, a antiga residência do Presidente Luís Cabral. Os portos, como sabemos, são antigos e resistentes, mas já não estão a resistir a erosão. Isso preocupa-me e muito” sublinhou.
Em relação à prostituição que se especula que existe nas ilhas, disse que a situação é discreta e que não tem provas, no entanto, “se isso acontece mesmo, então é mantida discretamente, por isso é difícil afirmar que acontece”. Afirmou neste particular que o que pode levar as pessoas pensar que existe prostituição nas ilhas é o desenvolvimento que se regista a cada dia e o aumento do número de turistas.
“Bubaque é uma zona com características turísticas e é muito ativa. Antes, as raparigas e rapazes não demoravam na rua como agora tudo é ao contrário. Há 20 anos Bubaque não era assim, agora não há controlo familiar sobre adolescentes e jovens”, lamentou.
Neste sentido, disse que o Estado não pode desencorajar o turismo, mas “as famílias são fatores determinantes para fazerem face à esta situação que se especula, se é que existe, porque senão não haverá controlo nem por parte da família e nem do Estado”.
“Os jovens podem iludir facilmente a vigilância familiar, devido a precariedade das famílias e da vida que gostariam de ter”, afirmou para de seguida revelar que agora regista-se um aumento do consumo de droga (canábis) na ilha.
Francisco António Morreira afiançou que o nível da escolarização é muito bom, porque há uma aceitação de escolarização, apesar da falta de professores bem como de carteiras.
“Há ainda ilhas que não têm escolas, como também professores que rejeitam trabalhar nas ilhas. Preferem ficar em Bissau ou outras zonas insulares. Portanto esta é a grande dificuldade da delegacia de educação, até porque não tem subsídios de incentivo” enalteceu.
Por: Epifania Mendonça
Foto: E.M
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