segunda-feira, 30 de junho de 2014

“TRABALHO VOLUNTÁRIO”?

Por: Okutó Pisilon
Disse o recém-eleito Primeiro-ministro, Domingos S. Pereira - dirigindo-se cidadãos que tiveram a sorte da formação capaz - numa entrevista à Agência Lusa, que todos estão convidados a trocar algumas horas de trabalho pela tarefa de professor. Disse também ter muito respeito pelos professores, por isso entende que seja importante passar o sinal que não temos outro investimento mais importante do que a Educação.

É de registar a preocupação do chefe do executivo para com o setor. Mas, no meu ouvido, a mensagem soa aos tempos do partido único, em que o cidadão era obrigado a participar em ações “patrióticas” chamadas de “trabalhos voluntários”, sem pedir nada em troca. Disse: "Se temos uma escola debaixo do mangueiro, é porque não lhe demos prioridade". Mas, quem não deu prioridade à escola, os professores? Não! Por outro lado, é preciso explicar que a Educação não é o único parente pobre do sistema. O nosso sistema de saúde, os tribunais, os quartéis, a polícia, etc., também estão “debaixo do mangueiro”. É preciso descer ao país profundo e deixar de viajar pela Europa. Esses assuntos não podem ser tratado com ligeireza de análise. A situação do professor, do juiz, do médico, do soldado,  do polícia, etc., tem sido, deliberadamente, por sucessivos governos, debilitada na nossa terra.

Se fossemos a analisar, facilmente chegaríamos a conclusão de que a questão não está na necessidade de “despender tempo” para a tarefa em causa, mas sim na formação, apetrechamento e robustecimento da função do Estado. Então, pergunto: como é que podemos interpretar a situação em que o aluno perante a reprimenda do seu tutor responde-o enraivado e por cima com arrogância dizendo que não lhe atemorizava o castigo do “mestre”, visto que o seu pai nem sequer estudou, mas consegue empregar e pagar mais de vinte professores? O problema é que quando o sistema transforma “professor” num indigente na sociedade, isso é sinal claro de que o Estado não funciona. Tem sido assim há mais de quarenta anos da governação do PAIGC.  Conclusão: é preciso repensar o apelo de “trabalho voluntário” dirigido aos guineenses que tiveram sorte da formação capaz.