Jean-Charles Tall é senegalês. E arquiteto. Formou-se na Escoa Superior de Arquitetura de Marselha. Tem 58 anos. Tornou-se conhecido quando denunciou os excessos da agência nacional senegalesa responsável por gerir a cimeira da Organização da Conferência Islâmica (OIC), em Dakar, em 2008. Agora, envolveu-se numa nova batalha. Em setembro, a escola particular de arquitetura que fundou em 2008 no Senegal com a sua amiga e colega Anna Jouga Mouhamadou Naby Kane pretende iniciar um Mestrado em Arquitetura, em parceria com a Universidade de Thies (no oeste do Senegal). Tall quer apostar na formação de arquitetos no país, como mostram as suas iniciativas. E insiste também no alerta para as abordagens bioclimáticas.
A escassez de arquitetos e os receios da Ordem
Por agora, o Conselho da Ordem dos Arquitetos, ao qual presidiu de 1998 a 2003, não está disposto a reconhecer o futuro mestrado. "Alguns temem que estejamos a formar a concorrência – e uma concorrência forte. Mas o Senegal sofre de uma grave escassez de profissionais! O país tem apenas 130 arquitetos. É um por cada 100 mil habitantes (contra 45 por 100 mil habitantes em França)", refere Tall. Desde que a Escola de Arquitetura de Dakar fechou, em 1991, não se diplomou mais um único arquiteto. Resultado: em Dakar, mais de nove em cada dez edifícios são construídos de forma amadora, sem recurso a arquitetos.
Para o fundador do Colégio Universitário de Arquitetura, ainda que a licenciatura forme técnicos superiores e permita que alguns alunos prossigam os seus estudos em França ou na escola de arquitetura de Lomé, as coisas devem mudar. E não é a oposição do “poder estabelecido” que o fará mudar de planos.
A sua formação militar em St. Louis forjou-lhe o caráter firme e determinado, essencial para manter o seu compromisso no interior de associações de africanos em França no final dos anos 70. E essa experiência deu-lhe o gosto pela luta.
A preocupação com o meio ambiente
Em termos de arquitetura, a Jean-Charles Tall não faltam as convicções. Regista com satisfação o crescente interesse por projetos que têm em conta o meio ambiente. "Antes de considerar a instalação de um ar condicionado, vejamos como podemos criar ar natural e evitemos grandes alterações nas fachadas", argumenta. Esta foi a abordagem que o guiou na conceção do edifício ClairAfrique, na Praça da Independência, em Dakar, onde grandes varandas servem de guarda-sóis. Jean-Charles Tall encontrou esta ideia na Escola Nacional de Arquitetura de Marselha, onde estudou. "Na Escola havia um grupo de investigadores interessados no terceiro mundo, que davam também grande importância às dinâmica sociais", recorda.
O fraco lado identitário das construções senegalesas atuais
Quando regressou ao Senegal, no início dos anos 80, Jean-Charles Tall não seguia as diretrizes do Presidente Senghor. Todos os edifícios oficiais deviam, na altura, responder aos cânones da arquitetura sudano-saheliana. "Eu sou Africano. Não preciso de reivindicar tal coisa", assume Tall. No entanto, lamenta as mudanças excessivas dos últimos vinte anos: "Hoje construímos em Dakar como se estivéssemos em Berlim", lamenta. E é aqui que se nota, diz, a diferença entre os arquitetos e os decisores políticos. "O hábito, por aqui, é ir à procura de competências para projetos de grande envergadura fora do Senegal", lamenta Tall, dando como exemplo o novo aeroporto de Diass.
Jean-Charles Tall fala com conhecimento de causa. De 1990 a 1997 foi o diretor técnico do atelier do grande arquiteto senegalês Pierre Goudiaby Atepa, para quem supervisionou a construção do aeroporto de Banjul, na Gâmbia. No Senegal, é também o ‘pai’ das estações de serviço Elton, cujo telhado em forma de onda é reconhecível por todos. E são estas, entre muitas outras experiências, que Tall quer partilhar através da sua faculdade. Fonte: Aqui