segunda-feira, 18 de agosto de 2014

OTAN(NATO) PRECISA DESESPERADAMENTE DE GUERRA


A Organização do Tratado do Atlântico Norte está desesperada; comicha de desejo de guerra no campo de combate ucraniano, quer-que-quer custe o que custar
Comecemos pelo Supremo do Pentágono, Chuck Hagel, secretário de Defesa dos EUA, que entrou em surto poético ao falar da "ameaça" do Urso Russo: "Quando se veem aquelas tropas chegando, a sofisticação daquelas tropas, o treino daquelas tropas, o equipamento militar pesado acumulado ali, naquela fronteira... ah, claro que é real, é ameaça, é possibilidade - com certeza. É."
 
Pepe Escobar, Asia Times Online
 
Oana Lungescu, porta-voz da OTAN, não conseguiu decidir se era "ameaça" ou "realidade", "com certeza" ou sem, mas ela viu tudo: "Não vamos nos pôr a adivinhar o que anda pela cabeça dos russos, mas se vê, sim, o que a Rússia está fazendo em campo - e o que se vê é muito preocupante. A Rússia postou cerca de 20 mil soldados prontos para combate na fronteira leste da Ucrânia." 
Em OTANês, língua de OTAN, marca registrada de absoluta precisão e rigor, Lungescu então acrescentou que a Rússia "bem provavelmente" estaria enviando tropas para o leste da Ucrânia disfarçadas como "missão humanitária ou de paz". E estamos conversados.

Hagel e Lungescu, sua assecla romena telecontrolada, obviamente não leram o boletim de informação detalhada distribuído pelo porta-voz das Forças Armadas Russas:[1] a "ameaça" e a "acumulação de exércitos" acabarão nessa 6ª-feira, último dia de exercícios militares que os russos anunciaram com antecedência.

Fog(h) da Guerra está muito nervoso, preocupado, desagradavelmente excitado

Imediatamente na sequência, o secretário-geral da OTAN Anders "Fog(h) da Guerra" Rasmussen chegava a Kiev praticamente espumando guerra pela boca, pronto para lançar os fundamentos da reunião de cúpula da OTAN que acontecerá em Gales, dia 4/9, quando a Ucrânia, já entronizada como principal aliado não membro da OTAN, deve ser lançada avante, à velocidade da luz, já armada (até os dentes) pela OTAN. E, além do mais, a OTAN está pronta para ser seriamente "ampliada" na Polônia, Romênia, nos Bálticos e até na Turquia.

Mas foi quando todas as variantes derivadas do Khaganato dos Nulands ("Nuland" como em "Victoria Nuland", secretária-assistente de Estado para Assuntos Europeus e Eurasianos dos EUA) saltaram fora dos parafusos, completamente fora de controle. Pode-se imaginar o vaidoso, presunçoso Fog(h) da Guerra tentando em vão exibir alguma compostura.

Exigiu considerável esforço, quando teve de assistir ao show que lhe apresentou o presidente da Ucrânia Petro Poroshenko - oligarca de carteirinha, praticante obstinado das práticas menos decentes - que furiosamente tentava expulsar da praça Maidan os manifestantes originais, que estão de volta ao centro de Kiev;[2] é o mesmo povo que no final do ano passado começou a protestar e que depois foi sequestrado pelos patrões dos neoconservadores dos EUA e nazistas do Setor Direita do Banderastão (tipo príncipe Bandar bin Sultan).

Os manifestantes originais da praça Maidan em Kiev - uma espécie de "Occupy Kiev" - opunham-se à monstruosa corrupção e queriam o fim da dança sem fim dos oligarcas ucranianos. Só conseguiram ainda mais corrupção; a mesma dança dos oligarcas; um estado falido, em guerra civil e que já assumiu que promove limpeza étnica de pelo menos 8 milhões dos próprios cidadãos; e, além do mais, estado falido-falhado a caminho de ser ainda mais empobrecido pelo "ajuste estrutural" promovido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Não surpreende que não arredem pé da praça Maidan.

Quer dizer: Maidan - O Retorno - já começou, antes até da chegada do General Inverno. Poroshenko-rei-do-chocolate tem de conseguir esvaziar aquela praça o mais depressa possível, porque a volta dos protestos de rua em Kiev absolutamente não combina com a narrativa histérica da imprensa-empresa ocidental segundo a qual "é tudo culpa de Putin". Na verdade, a corrupção é hoje ainda pior que antes - porque incorporou muitos sobretons neonazistas.

Com Fog(h) da Guerra já espumando porque "a Rússia não invade", o pomposamente denominado "Secretário" de Segurança Nacional e do Conselho de Defesa da Ucrânia, o neonazista Andrey Parubiy - que é candidato nato à acusação de ter ordenado o tiro que derrubou mês passado um avião civil malaio [MH17] - resolveu renunciar; é rato confirmado que abandona navio que afunda, movimento provocado provavelmente por o rato não ter conseguido estender sua limpeza étnica para toda o leste da Ucrânia e estar tendo de engolir um cessar-fogo. Poroshenko não é idiota; depois de toneladas de números péssimos nas pesquisas de aprovação popular, já viu que o "apoio amplo" com que contou está evaporando minuto a minuto.

Completando toda essa agitação, um míssil cruzador entra no Mar Negro novamente para "promover a paz". O Kremlin e a inteligência russa facilmente veem aí o que há para ver.

E há ainda a horrenda crise de refugiados que cresce no leste da Ucrânia. 3ª-feira passada, Moscou, em reunião do Conselho de Segurança da ONU, exigiu que se tomem medidas humanitárias de emergência - sem resultado, como se pode prever. Washington bloqueou a ação, porque Kiev a bloqueou ("Não há crise humanitária alguma"). O embaixador russo Vitaly Churkin descreveu a situação em Donetsk e Luhansk como "desastrosa"; e disse que Kiev está intensificando as operações militares.

Segundo a própria ONU, pelo menos 285 mil pessoas já se tornaram refugiadas no leste da Ucrânia. Kiev insiste que o número de refugiados internos é de "apenas" 117 mil; a ONU duvida. Moscou continua a afirmar que assustadores 730 mil ucranianos fugiram para a Rússia; o Alto Comissariado da ONU para Refugiados confirma. Alguns desses refugiados, em fuga de Semenivka, em Sloviansk, informaram detalhes sobre o N-17 que Kiev está usando: é versão ainda mais mortífera do fósforo branco.

Quando o embaixador Churkin mencionou Donetsk e Luhansk, referiu-se aos bandidos de Kiev que se preparam para atacar massivamente. Já estão bombardeando os arredores de Petrovski em Donetsk. Quase metade dos moradores de Luhansk já fugiram, a maioria para a Rússia. Os que ficaram são quase todos aposentados idosos e famílias com filhos pequenos.

Falar de "crise humanitária" é muito pouco: não há água, nem eletricidade, nem comunicação, nem combustível, nem remédios em Luhansk. A artilharia pesada de Kiev destruiu quatro hospitais e três clínicas. Para resumir: Luhansk é a Gaza ucraniana.

Numa simetria sinistra, assim como dá passe livre para Israel destruir Gaza, o governo Obama também está dando passe livre para os açougueiros de Luhansk. É há até uma variante. Obama estava sem saber se bombardeava os bandidos do Estado Islâmico do Califa no Iraque, ou se, quem sabe, jogava pacotes de ajuda humanitária. Optou por (talvez) bombardeio "limitado" com correspondentes, podem-se prever, doses também limitadas de água e comida.[3]

Assim sendo, em palavras bem claras: para o governo dos EUA "pode ser que haja uma catástrofe humanitária" no Monte Sinjar no Iraque, envolvendo 40 mil pessoas. Como também pelo menos 730 mil leste-ucranianos, aqueles iraquianos têm pleno direito de serem bombardeados, detonados, atacados por aviões armados, e de serem convertidos em mortos ou em refugiados.

A nova Somália 

A linha vermelha de Moscou é bem explícita: a OTAN não põe os pés na Ucrânia. A Criméia é parte da Rússia. Nenhum soldado dos EUA põe os pés perto das fronteiras russas. Integral proteção à identidade cultural russa no sul e leste da Ucrânia.

De qualquer modo a crise humanitária - real (mas Washington nega) - é completamente outro assunto muito grave. As forças de Kiev não estão equipadas para sustentar prolongado confronto de guerra urbana. Mas, assumindo que aquelas forças - misto de militares regulares; esquadrões-da-morte/terrorismo financiados pelos oligarcas; guarda nacional "voluntária" ucraniana infestada de neonazistas; mercenários de várias nacionalidades treinados pelos EUA - decidam atacar em carnificina-de-massa para tomar Donetsk e Luhansk, pode-se argumentar que Moscou terá de considerar o que os 'especialistas' da OTAN chamam de "limitada intervenção por solo" na Ucrânia.

Os 'especialistas' da OTAN são suficientemente tolos a ponto de crer que, se Putin pode disfarçar a intervenção sob a máscara de uma missão humanitária ou para preservar a paz, ele conseguiria também convencer, da mesma falcatrua, também a opinião pública russa. A verdade é que Putin ainda não "invadiu" porque a opinião pública russa não quer a invasão. A popularidade de Putin já alcançou espantosíssimos 87%.[4] Só uma carnificina em massa (improvável) perpetrada em Kiev poderia alterar esses números e separar a opinião pública e o governo russos. Considerando que esse afastamento é precisamente o que a OTAN mais deseja, Fog(h) da Guerra estará trabalhando horas-extras para forçar seus vassalos a produzir a tal carnificina em massa.

De qualquer modo, considerando-se desenvolvimentos recentes, o que os fatos em campo apontam é que a atual dança dos oligarcas em Kiev já começou a desandar - como se vê nesse evento, em que mulheres queimam os documentos de alistamento militar obrigatório bem diante dos militares.[5] Moscou nem terá de se incomodar com avaliar a possibilidade de "invadir". Enquanto isso, o genocídio em câmera lenta de Poroshenko no leste da Ucrânia e os ataques contra Maidan "O Retorno" em Kiev continuarão a usufruir direitos de passe livre. Aí está, diante de todos, a Ucrânia como nova Somália; adequada Criatura gerada pelo Frankenstein Império do Caos excepcionalista. *****
 
Pepe Escobar, Asia Times Online, em Pravda.ru