Fonte: odemocratagb.com
A grande baixa de preços dos produtos é a razão principal que convida os citadinos da capital a deslocarem-se, no período da noite, ao pequeno mercado da Chapa de Bissau (ao lado da rua que vai dar à discoteca Cabana) para compras, por ocasião da festa do nascimento do “Menino Jesus Cristo – Natal”. Os produtos mais comprados ou procurados no pequeno mercado improvisado são roupas e calçado usados (Fuka N’djai).
MERCADO DE CHAPA DE ‘FUKA N´DJAI’ É O MAIS PROCURADO A NOITE, EM BISSAU
A nossa reportagem deslocou-se este fim-de-semana ao mercado improvisado, para um trabalho e cobertura jornalística e tentar perceber a razão principal que motiva a grande concentração de pessoas naquele sítio. A concentração de pessoas por vezes acaba por provocar engarrafamentos porque os transportes públicos, toca-tocas e táxis principalmente, também improvisam aí parques de estacionamentos para pegar ou largar passageiros.
Tradicionalmente não é hábito dos guineenses vender no mercado a noite. Uma das razões para isso tem a ver com a questão da falta da energia electrica, um problema crônico no país desde a independência. Mas os comerciantes conseguiram mobilizar os citadinos da capital que na sua maioria são moradores de bairros mais próximos do mercado.
A partir das dezanove horas os comerciantes de roupas e calçado usados fazem promoções dos produtos referidos. Os calçados que normalmente são vendidos a sete mil francos cfa ou mais o par, podem ser comprados a noite a um preço de três mil francos cfa ou menos. A mesma situação se verifica com as roupas usadas para homens e mulheres e crianças são vendidas a um preço muito baixo.
Este pequeno mercado improvisado funciona até por volta das vinte e duas horas. O fecho das suas portas depende da circulação e movimento de clientes. Muitas vezes o mercado funciona até perto das 23 horas, sobretudo neste período das festas de Natal e do Ano Novo.
A maioria dos clientes daquele mercado são mulheres e jovens. Os jovens procuram mais os calçados usados de marca (ténis) e os chamados calçados pretos ou castanhos (sapatos finos), enquanto as mulheres na sua maioria procuram roupas para elas mesmas e para os filhos.
FALTA DE SEGURANÇA NÃO INTIMIDA COMERCIANTES E COMPRADORES
Apesar de estarem desprotegidos e de trabalharem num clima de constante insegurança sem apoio das autoridades, contaram à nossa reportagem, estão cientes dos riscos que correm todos os dias e da possibilidade de serem roubados por bandidos. Contudo sustentam que vão continuar a vender, porque naquele horário conseguem fazer mais negócios. Contaram também que as pessoas preferem esperar até o período da noite para irem comprar calçados e roupas usadas, porque sabem que naquela hora regista-se uma baixa de preços.
Informaram ainda que muitas vezes os produtos vendidos àquela hora são restos das vendas do dia no período dito normal, e têm de ser vendidos a um preço baixo para que possam ter negócios o mais depressa e isso permite-lhes ir comprar mais produtos para revender no dia seguinte.
Ainda durante a conversa que mantivemos com um jovem de 22 anos que vende calçados usados para senhoras, explicou-nos que mesmo sem iluminação pública estendem os seus produtos no chão e usam lanternas de mão.
Este jovem contou a nossa reportagem que estuda 8ª classe no liceu Samora Moisés Machel durante o dia e à noite vai buscar aos seus colegas roupa e calçado usados para vender. Acrescentou que faz aquela actividade para ganhar algum dinheiro e sustentar os seus estudos. Informou igualmente que vive com um tio que também enfrenta enormes dificuldades.
“Muitas vezes os jovens chegam e tiram-nos os nossos produtos e fogem. Não podemos persegui-los para recuperar os nossos produtos, porque podem agredir-nos. Até os clientes são saqueados aqui, mas isso não vai fazer-nos desistir. Acho que as autoridades deveriam pôr polícias aqui para nos proteger, porque é um local de muita concentração de pessoas que chegam de diferentes bairros para fazerem as suas compras”, explicou o jovem vendedor.
Uma mulher moradora de bairro de Pisack nas periferias da capital contou a nossa reportagem que estava no mercado desde as dezasseis horas, mas preferiu esperar até as dezanove para comprar calçado (sapatilhas) para os seus filhos a um preço mais barato.
“Comprei três pares de sapatilhas usadas para os meus filhos por mil e quinhentos francos cfa. Os calçados estão em bom estado. Lá em casa vão pensar que custaram cinco mil francos cfa. Agora os meus filhos já têm roupas e calçados para festejar o natal”, disse.
Interrogada sobre os riscos que corria por frequentar o mercado e fazer compras a noite, reconheceu que era verdade que estava consciente dos riscos, mas que acreditava que Deus iria ajudá-la porque fora lá comprar roupas os filhos.
A nossa reportagem falou com outro jovem de 24 anos de idade, que assegurou que frequentava o mercado a procura de calçado (ténis). Sabia que àquela hora vendia-se tudo mais barato. Avançou ainda que comprara um par de ténis branco em boas condições por um preço de quatro mil francos cfa.
“Este calçado, se fosse no período do dia ou num outro mercado seria muito mais caro. Se os meus colegas virem isto, pensarão que é um calçado de doze mil francos cfa. São de uma grande marca e neste momento qualquer jovem quer usá-los”, disse.
NO PASSEIO DO BANCO BDU VENDE-SE MAIS PEIXE FRITO E ESPETADINHAS À NOITE
No outro lado da rua, no passeio que vem do ao Banco da União – BDU e até a junto à sede do Partido da União para a Mudança – UM vende-se apenas produtos alimentícios tais como peixe frito, carnes (espetadinhas) e mesmo comida e saladas.
A nossa reportagem constatou que os pratos de comida mais procurados naquela zona são peixe frito, espetadinhas, sopa (Mon di Baca), pão e “torre”, um tradicional prato fula preparado com a farinha de mandioca seca batida e misturada com folhas de árvore (Lalu).
A maioria das pessoas que abordamos contaram que trabalham até tarde e depois compram a comida para jantarem em casa. A comida é vendida na rua, ao ar livre. Cada vendedeira instala uma mesa e cadeiras para os seus clientes.
Por: Assana Sambú