quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

MALI: NEOCOLONIALISMO E FASCISMO


Rui Peralta, Luanda

IN PG
 
O Mali converteu-se, desde 2011, num dos campos de operações do fascismo islâmico. Após a destruturação da Líbia, os mercenários dos grupos fascistas islâmicos (em particular os mercenários ao serviço do príncipe saudita Bandar al-Sultan) espalharam-se por toda a região do Sahel. Foram utilizados no Mali com o objectivo de possibilitar a intervenção francesa, efectuada sob o pretexto de combater a revolta tuaregue e a de combater a al-Qaeda.
Em 2012, chegaram ao Mali mais de seis mil tuaregues, leais ao deposto líder líbio, Kadhafi. Reforçaram as fileiras do Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA) e tomaram o controlo desta região, no Norte do Mali. A ineficiente resposta do governo maliano, liderado por Amadou Toumani Touré levou os militares malianos a um golpe de Estado, em Abril de 2012. Enquanto isso, as revindicações do MLNA, eram apoiadas pelos sectores ultraconservadores islâmicos e pelos grupos fascistas. A al-Qaeda do Magreb, o Ansar Dine (os Defensores do Islão), organização liderada por Iyad Ghali, o Movimento para a Unidade e Jihad na África Ocidental (MUJAO), o al-Mulathameen (Os Mascarados) grupo liderado por Mokhtar Belmokhtar, tentam disputar a liderança da revolta tuaregue, apoiando as revindicações da nação tuaregue.
A França, com os seus interesses neocoloniais na região, lança uma intervenção militar com o objectivo de fazer calar, pela força das armas, a revolta tuaregue. Quanto aos bandos fascistas islâmicos, os franceses permitiram a sua fuga,refugiando.se estes no Sul da Argélia. Aí foram cridas novas células e organizações, que acabaram por prestar lealdade ao ISIL e alargaram as suas actividades na Argélia, no Mali e na Tunísia.
Em Janeiro de 2013 o al-Mulathameen ocupa a refinaria de In Amenas, na Argélia. No mesmo ano o Jund al-Jilafa(Soldados do Califado) sequestrou e executou um turista francês, em 2014. Na fronteira entre este país e a Tunísia, na serra de Chaambi, o Okba Ibn Nafaa, um bando fascista islâmico, dissidente da al-Qaeda do Magreb, efectuou diversos ataques a patrulhas dos exércitos tunisino e argelino. Na Tunísia, em 2015 o bando Ansar al-Sharia, vinculado ao ISIL, foi responsável pelo ataque ao museu de Bardo, que vitimou 22 pessoas. Meses depois acontece o atentado no complexo turístico de Sousse, que originou cerca de 40 mortos.
 
O atentado a um hotel no Mali, no passado dia 21 de Novembro, foi levado a cabo por 13 operacionais do al-Mulathameen (Os Mascarados) e do al-Muaqioon Biddam (Assinatura de sangue), que vitimou mais de 30 pessoas é um dos muitos atentados que ocorrem no Mali, mas que as autoridades militares francesas impedem a sua divulgação. Motkar Belmoktar, o líder do al-Mulathameen, é um veterano do Afeganistão. O seu nome aparece relacionado com diversos atentados na Argélia, Tunísia, Líbia, Níger e Mali e os serviços de segurança franceses e argelinos já anunciaram, diversas vezes, a sua morte, sem nunca haver confirmação. Atendendo às características deste atentado ao hotel, pode-se afirmar que Motkar continua activo, pois é nítida a sua influência no modus operandi.
 
O desemprego, a pobreza e o descontentamento da juventude, no Mali (metade da população tem menos de 14 anos e 19% entre 15 e 24 anos) representam “condições de viveiro” para os grupos fascistas (islâmicos ou não) captarem seguidores. Por sua vez a corrupção e a grande permeabilidade das fronteiras facilitam os movimentos aos grupos fascistas islâmicos, que deslocam-se por toda a região sem dificuldades.
 
Os atentados de Paris e de Bamaco têm uma mesma raiz, mas não a da “violência em nome de Deus” como afirmam alguns “sabáticos filisteus”. A raiz é a violência económica que se exerce contra os milhares de jovens muçulmanos, que sem qualquer hipótese plausível de construírem o seu futuro, entregam-se ao passado, às tradições. É um resgate de valores, tal como foi o nazismo na Alemanha, o fascismo em Itália, o culto ao Imperador em Tóquio, o franquismo em Espanha e Salazar em Portugal. É que os valores do passado assumem-se sempre que o futuro não existe e, curiosamente, quando o futuro não existe o universo torna-se concentracionário e o totalitarismo espalha-se como erva daninha.
 
E o Mali, neocolonizado, não é excepção…