José Goulão *, IN PG
Os acontecimentos relacionados com o derrube de um avião militar russo em território sírio pela Força Aérea da Turquia já estão esclarecidos, embora as informações relevantes sejam escondidas de grande parte do mundo pela comunicação social dominante.
A saber: o caça F-16 turco que abateu o bombardeiro russo SU-24 durante um ataque a alvos terroristas no Norte da Síria internou-se dois quilómetros no espaço aéreo sírio, onde permaneceu durante um minuto e 17 segundos; O SU-24, atingido na traseira por um míssil ar-ar quando picava para a segunda fase do ataque contra território controlado por terroristas, violou durante 17 segundos, e “de raspão”, o espaço aéreo turco; os pilotos russos do SU-24 foram alvejados por terroristas já depois de se terem ejectado de paraquedas, comportamento que viola as Convenções de Genebra. Um deles morreu. Não se conhecem posições de dirigentes de países da NATO condenando a agressão.
A NATO conhece estes dados até ao mais ínfimo pormenor, o que não impediu a organização de se ter declarado solidária com o lado turco, posição que, levada às últimas consequências na análise do comportamento da Turquia na guerra de agressão contra a Síria, comprova mais uma vez a cumplicidade da Aliança Atlântica com o terrorismo.
Mantenhamo-nos ainda nos factos relacionados com o derrube do avião russo, episódio onde os Estados Unidos se abstiveram de confirmar a versão turca de violação do seu espaço aéreo, o que é significativo. Nos termos do memorando de 26 de Outubro estabelecido entre Washington e Moscovo sobre os bombardeamentos contra alvos do Estado Islâmico, a Força Aérea russa informou o Pentágono, com 12 horas de antecedência, sobre a missão que iria realizar no Norte da Síria. As informações incluíram, designadamente, hora de descolagem dos SU-24 (9 e 40), altitude prevista (entre 5600 e 6000 metros), regiões a atingir (Chefir, Matiou e Zahi), que confinam com a região turca de Hatay e onde actuam grupos terroristas turquemenos (ditos “moderados”), da Al-Nusra (Al-Qaida) e do Estado Islâmico.
Os dados apurados através das análises de radares e canais de rádio permitem concluir o seguinte: os caças turcos saíram às 8 e 40 de uma base a cerca de 400 quilómetros do local da operação russa e manobraram de acordo com as informações que tinham sido transmitidas por Moscovo ao Pentágono; isto é, a operação turca serviu-se dos dados fornecidos pela Rússia no âmbito da confiança e coordenação no combate ao terrorismo. Além disso, nos canais de comunicação via rádio, incluindo os exclusivos que funcionam no âmbito da cooperação antiterrorista, não há registo de qualquer advertência turca contra os aviões russos antes dos disparos. Quando os dirigentes da NATO se reuniram a pedido da Turquia tinham conhecimento destas informações e, no entanto, colocaram-se do lado agressor.
Este episódio é um pouco mais do mesmo que tem sido a agressão da NATO contra a Síria, pelo que a responsabilidade por factos de tal gravidade deve ser assacada, um por um, aos responsáveis de cada Estado membro da Aliança Atlântica.
Um ataque contra uma esquadrilha que bombardeava grupos terroristas infiltrados na Síria só pode ser interpretado como um apoio ao terrorismo pelo regime turco e seus cúmplices.
Acresce que a maior parte dos mercenários destes grupos terroristas estão na Síria depois de terem entrado clandestinamente a partir de território turco, onde recebem financiamento, treino e armas com o patrocínio dos serviços secretos da Turquia e de outros Estados da NATO. Caso houvesse dúvidas, basta repescar a recente declaração do presidente francês, François Hollande, pedindo o encerramento das fronteiras entre a Turquia e a Síria para que conter as infiltrações terroristas.
Recorda-se que este mesmo regime turco, que acaba de falsificar eleições gerais para continuar o processo gradual de transformação em ditadura fundamentalista islâmica, tem sido objecto de manobras de charme da União Europeia e receptáculo de milhares de milhões de euros sugados às vítimas da austeridade para que a Turquia impeça refugiados de entrarem no espaço da União, assim contribuindo para que não se manche ainda mais a pureza do nosso “civilizado modo de vida”.
Somado tudo isto não é difícil detectar a teias de cumplicidade entre a União Europeia, a NATO e a corrupta família do presidente Erdogan, que encabeça o regime. Família que, conforme se provou através de escândalo recente, tem laços estreitos com o príncipe saudita considerado o “tesoureiro da Al-Qaida”, para o qual são encaminhadas ilegalmente verbas resultantes tanto de mercado negro como de actos de abuso de confiança de que são vítimas os contribuintes turcos.
Por falar em mercado negro, fica também a informação de que existem provas abundantes de que um dos filhos de Erdogan, conhecido pelopetit nom de “Bilal”, é o coordenador do contrabando de petróleo que representa a principal e milionária fonte de receitas do Estado islâmico.
A existência de cumplicidades entre a NATO e o terrorismo dito “islâmico” são tantas e tão diversificadas que só não as vê quem não quer ver, apesar das tentativas para as negar e mistificar através de mil e uma formas de censura e propaganda.