Fonte: Jornalista guineense, Umaro Djau, via facebook
Há alguns anos atrás, um alto dirigente político guineense disse-me o seguinte: “nas lutas políticas no país [Guiné-Bissau] deve-se fazer tudo para não alienarmos os que estão do nosso lado, caso contrário corremos o risco de lutarmos sozinhos”.
E os “que estão do nosso lado” podem até ser os piores podres deste planeta, mas são indispensáveis numa política fratricida, como no caso do nosso país. Já pensaram nas razões porque alguns governantes nunca são demitidos das suas funções, mesmo quando apanhados em flagrante delito?
E os “que estão do nosso lado” podem até ser os piores podres deste planeta, mas são indispensáveis numa política fratricida, como no caso do nosso país. Já pensaram nas razões porque alguns governantes nunca são demitidos das suas funções, mesmo quando apanhados em flagrante delito?
Já pensaram nas razões porque alguns empresários guineenses vão continuando a gozar o estatuto de “grandisiodade” empresarial, mesmo tendo conduzido várias empresas à falência?
Já pensaram nas razões porque alguns lideres políticos nunca são substituídos nas lideranças dos seus partidos, apesar de nunca terem eleito um único deputado, muito menos vencido uma única eleição?
Reposta: na Guiné-Bissau tudo é político e nas lutas políticas “deve-se fazer tudo para não alienarmos os que estão do nosso lado”, mesmo quando esses são os piores da banda. E esta tal maneira de pensar pode ter uma explicação, no quadro da prática do culto político. Mais do que partidos, na Guiné-Bissau muitas formações políticas – pequenas e grandes, significantes ou insignificantes -- funcionam como se tratassem de um culto. E em tempos de crise, nada é mais benéfico para um partido do que o tal sentimento de pertença, impenetrável, inquebrável e fechado.
E tais como em cultos, ou sobrevivem todos juntos ou ficam pelo caminho, também todos juntos.
Foi assim em 1998 quando toda a classe política do PAIGC ficou ao lado de Nino Vieira até ao último reduto. Não fosse a ala militar, certamente não teria existido uma outra ala contrária. E tem sido assim também em muitos outros acontecimentos político-partidários recentes, quando os militantes partidários preferem acompanhar os seus lideres até ao último fôlego, sem nunca os questionar ou aconselhar a tomar medidas mais prudentes.
Alguém quererá perguntar, mas onde está o mal de um partido político ser um culto político-partidário? Não há mal nenhum para a liderança de um tal partido. De facto, é o que cada liderança partidária teria desejado – seguidores cegos e fieis, movidos pelas emoções e não pelo pensamento racional, tirando as dependências. E tais como em cultos, há sempre um Chefe. Absoluto, poderoso, venerado, manipulador, carismático à sua maneira, resoluto e incontestável.
Deduzo que continue assim até o içar da bandeira ou até o trocar da guarda. Afinal, verdadeiros amigos vivem juntos e morrem juntos, diz o ditado popular. Eu teria preferido a "vida". Uma vida ajustada aos tempos presentes e alicerçada numa dinâmica política mais progressiva e mais realista.
Todavia, estaremos atentos até ao último episódio. Só espero que não termine como normalmente terminam os cultos – em motins ou em tragédias induzidas pelas superioridades intelectuais, psicológicas, e até financeiras das chefias.
Abraços,
Umaro Djau, 28 de Novembro de 2016