sábado, 1 de abril de 2017

ESTUDANTES APELAM INTERVENÇÃO DE GOVERNOS AFRICANOS PARA ESTANCAR ATOS DE XENOFOBIA NA ÍNDIA

Os estudantes africanos na Índia apelam os seus governos a pressionarem as autoridades daquele país asiático para acabar com ondas de ataques que se registam contra os africanos.
 
Nos últimos dias, a população da Índia tem vindo a acusar africanos que se encontram no país de venda de droga. Segundo as nossas informações, os indianos acusam ainda estudantes africanos de assassinato de cidadãos locais e consumo de carne humana.
 
A preocupação dos estudantes africanos, em particular dos guineenses, foi avançada ao Jornal ‘O Democrata’ por um dos responsáveis da Associação dos Estudantes da Guiné-Bissau na Índia e igualmente vice-presidente da Comissão de Estudantes Africanos, Edmundo Ferreira Bari.
 
Os ataques contra africanos teriam iniciado  na sequência da morte de um jovem indiano, de 17 anos, que desaparecera na passada sexta-feira [24 de março de 2017] junto de familiares e que voltou no dia seguinte (sábado) à casa  num estado precário de saúde e que acabara por falecer no hospital.
 
Os familiares da vítima acusaram um grupo de estudantes nigerianos de vender droga e de terem “drogado” o jovem. De acordo com os familiares, os nigerianos estão habituados a matar cidadãos indianos, “consumir carne humano e guardar o resto de carne no frigorífico”.
 
A pedido dos familiares da referida vítima, a polícia local deteve estudantes nigerianos e que mais tarde foram libertos. Os médicos, segundo o nosso interlocutor, concluíram que o corpo do jovem não apresentava nenhum sinal de tortura e que teria morrido por excesso do consumo de droga.
 
Perante à decisão da polícia, os familiares mostraram-se descontentes e incitaram  um grupo de jovens indianos para atacar africanos que acusam de prática de canibalismo.
 
Em entrevista a O Democrata, Edmundo Ferreira Bari, membro da associação da Associação de Estudantes  na cidade universitária ‘Greater Noida’, concretamente no Estado de Uttar Pradesh, confirmou a onda de ataques xenófobos contra africanos.
 
Bari conta que são no total 12 guineenses a estudarem na Índia por conta própria, entre os quais, seis (6) estudam na cidade universitária ‘Greater Noida’, cinco na cidade de Ludhina (Estado de Punjap) e uma menina a cumprir um estágio numa empresa em Nova Deli, na área da Gestão de Negócios.
 
Bari acrescentou ainda que cerca de 4 mil africanos vivem na cidade Greater Noida (a 20 quilómetros da Nova Deli) que acolhe grandes estabelecimentos universitários.
 
Edmundo assegurou por outro lado que, até ao momento, nenhum guineense foi vítima de ataques xenófobos desencadeados a 24 de março, contudo informou que a associação aconselhou os estudantes guineenses a permanecerem em suas residências até que a situação se acalme.
 
Interrogado se a associação terá sido contactado pela Embaixada da Guiné-Bissau em Pequim (China) que cobre igualmente a Índia, Bari respondeu que até no momento da entrevista não houve nenhum contactado por parte da Embaixada.
 
“Nenhum estudante guineense aqui foi contactado pelo pessoal da embaixada e muito menos pelo próprio Embaixador. O que posso confirmar aqui, é o contacto que mantivemos com os responsáveis do Ministério dos Negócios Estrangeiros que nos telefonaram a partir de Bissau, através do Secretário de Estado da Cooperação Internacional e do Diretor-Geral das Comunidades, que apelaram à calma. Prometeram ajudar a resolver a situação junto do Cônsul da Índia em Bissau, bem como através do Cônsul Honorário da Guiné-Bissau na Índia, que se encontra em Nova Deli”, contou.
 
Questionado sobre as diligências feitas pelo Cônsul Honorário da Guiné-Bissau junto das autoridades indianas, o jovem estudante disse desconhecer qualquer diligência levada a cabo pelo Cônsul Honorário junto das autoridades do país asiático.
 
Bari indicou que desde o início do incidente,  os estudantes não receberam visita do Cônsul, muito menos telefonema do mesmo para tentar saber das suas situações.
 
“Há um empresário indiano aqui nomeado pelo Governo de Transição como Cônsul Honorário no período, em 2013. Chama-se Surinder Mehta, ele é o proprietário de uma indústria de tecnologia. Desde o início do incidente não nos contactou para saber da nossa situação. Só ontem (quinta-feira) que o seu protocolo me ligou a perguntar da nossa situação, pediu dados sobre números de cidadãos guineenses que vivem na Índia”, esclareceu.
 
Edmundo Ferreira Bari disse ainda que a comissão das associações de estudantes africanos naquela cidade universitária contactou a comissão das Embaixadas africanas em Nova Deli, pedindo o seu engajamento para resolver a situação e consequentemente evitar perdas de vidas humanas.
 
“Na quarta-feira, uma menina de nacionalidade queniana foi obrigada a descer do táxi em que se encontrava e agredida brutalmente. Ela se encontra neste momento no hospital e agora ninguém confia sair à rua. Organizamo-nos em grupos e somos acompanhados pelas polícias para ir buscar a comida. Cada edifício com maior concentração de africanos, tem agentes da polícia para garantir a segurança, mas essa situação não pode continuar. Nós precisamos de ir à escola. É urgente a intervenção dos nossos governos de uma forma mais séria para resolver a situação”, assegurou o vice-presidente da comissão das associações de estudantes africanos na Índia.
 
GOVERNO PEDE CALMA A FAMILIARES E GARANTE QUE ESTUDANTES GUINEENSES ESTÃO BEM E EM SEGURANÇA
 
Entretanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação Internacional e das Comunidades, através da Secretaria de Estado das Comunidades, reagiu hoje, através de uma nota de imprensa, na qual informa que tomou conhecimento com muita preocupação dos últimos acontecimentos que se têm registado na Índia.
 
“Uma situação que suscitou a rápida tomada de medidas com vista a ter mais informações sobre o caso. De acordo com as informações recebidas do nosso Embaixador para Índia com residência na China, o caso tem a ver apenas com os estudantes nigerianos”, lê-se na nota dos Negócios Estrangeiros.
 
A nota pede ainda a calma aos pais e encarregados de educação dos estudantes, para ficarem tranquilos, porque os estudantes guineenses estão bem e em segurança.
 
Na nota, o governo promete acompanhar o caso de perto para em caso de necessidade tomar diligências necessárias.
 
 
Por: Assana Sambú
Fotos: Edmundo Bari