quarta-feira, 28 de maio de 2014

MOÇAMBIQUE: CONSEQUÊNCIAS DA GRAVIDEZ PRECOCE EM NAMPULA


Guiné-Bissau i lubu ku kema costa
Mulheres(foto) de Nampula, Moçambique, discutem consequências da gravidez precoce.
Em Moçambique, muitas raparigas são obrigadas a casar antes dos 18 anos, principalmente na província de Nampula. Assim sendo, o índice de gravidez prococe também é elevado, segundo o inquérito demográfico de 2013.
Mais de dois mil casos de fístulas obstétricas são notificados no país, com maior incidência na província de Nampula, devido aos casamentos na adolescência, segundo dados divulgados na semana finda pelo Programa Ação para a Rapariga (PAR).
O Programa refere que uma em cada duas meninas contrai matrimónio antes de completar 18 anos e cerca de 40% das grávidas, algumas das quais com graves complicações, surgem em raparigas com idades entre 12 e 15 anos de idade.
Esta situação tem deixado graves traumas e compromete a vida futura de muitas raparigas que são obrigadas a casar na sua idade de desenvolvimento, psico-motor e físico.

Aliás, este problema além de provocar o aumento de doenças de transmissão sexual, faz com que muitas raparigas interrompam a sua formação académica por capricho de alguns cidadãos.
Uma escola primária em Moma, Nampula
Abandono escolar forçado
Rabia Calisto Sualito, de 17 anos de idade, interrompeu a sua formação académica, porque alguns dos seus familiares obrigaram-na a casar com um líder comunitário, no distrito de Murrupula.

A jovem relata: "Obrigaram-me a casar com um idoso lá em casa em Morrupula, na altura tinha 12 anos. Obrigaram-me a abandonar os estudos e agora assim eu vivo mal."
Margarida Jeambe, do PAR, que na semana passada organizou um seminário para 30 ativistas sobre saúde sexual e reprodutiva, apelou toda a sociedade moçambicana no sentido de reflectir sobre as consequências dessa prática.

A ativista disponibilizou dados que indicam que "a taxa de fecundidade na adolescência continua alta, situando-se em 167 nascimentos por 1000 mulheres com idades compreendidas entre os 15 e 19 anos. "
Ela informou ainda que "as uniões forçadas e prematuras se situam em 17,7%. As raparigas são obrigadas a casarem-se antes de completarem os 15 anos".
Face à situação Maragarida Jeambe propõe uma solução: "Para reverter este quadro sombrio uma parceria com o setor da educação e saúde está a ser implementada em parceria com Ação para a Rapariga."
Em muitos casos, as percentagens cobrem faixas etárias em torno dos 14, 15 anos de idade. A maioria destas mulheres desenvolve fístulas na sua primeira gravidez, numa idade muito jovem e em culturas em que a mulher é encaminhada para o casamento ainda na fase púbere e “o ser mãe” é um indicador de acesso ao estatuto de mulher casada e adulta.

Jovens mães moçambicanas
Nampula com taxa mais alta de analfabetismo
A governadora da Província de Nampula, Cidália Chaúque, disse que as adolescentes da povíncia com idade entre 15 e 19 anos lideram as estatísticas de gravidezes ao nível do país, com uma média de 49.5% e de 41.5% das mortes materno-infantil dos 15 a 24 anos, o que representa uma média acima das estatísticas nacionais, avaliadas em 36.8 .
Relativamente ao lado masculino, Cidália Chaúque relata que "apenas 13.2% dos homens e rapazes na nossa província utilizam preservativo na sua última relação sexual para uma média de 43,5%."
Mas a governadora lembra um dos principais fatores que deixa a província na cauda da classificação: "A nossa província também detém maior taxa de analfabetismo em mulheres a nível nacional e queremos registar e garantir o acompanhamento desta iniciativa, acreditando que em breve seremos o centro de referência para garantir os direitos da rapariga e uma vida mais próspera."
O Programa para Ação da Rapariga ė uma iniciativa desenvolvida pela Associação Coligação da Juventude Moçambicana, em parceria com Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Família (AMODEFA), com o objetivo de contribuir para a criação de competências no seio das raparigas com idades compreendidas entre 10 e 24 anos.
A ação consiste na formação de grupos de raparigas em matérias de saúde reprodutiva num período inicial de seis meses, como forma de reduzir o índice de abortos, fístula obstétrica e infeções de transmissão sexual, para além da desistência escolar. DW - Oiça
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