Crianças
sequestradas, albinos massacrados, corpos mutilados... Para atrair riqueza e
poder, alguns se aventuram fazer cerimonias macabras ou tráfico de órgãos. Inquérito
sobre um escândalo que, estranhamente, se
repete antes de cada eleição.
É
uma litania(ou ladainha) altamente desaconselhável às almas ou pessoas sensíveis, um longo
martirológio que os jornais do continente fazem suas delícias, a crónica de uma barbárie ordinária e
terrivelmente corrente. Domingo, 25 de maio, 2014, bairro Mimboman em
Yaounde, Camarões: Pela terceira vez em duas semanas, o corpo mutilado de uma
jovem é encontrado no mato, algumas dezenas de metros do terreno
baldio onde há um ano e meio, sete irmãs tinham sido esventradas.
Quarta-feira
14 de maio, na província de Simiyu no norte da Tanzânia, pela enésima vez, a
polícia prendeu um casal de curandeiros, assassinos de um albino, que cortaram as
pernas depois de o terem massacrado com um machado.
Estado
de Benue, no sul da Nigéria, no mesmo dia dois adolescentes escaparam
milagrosamente, contaram como foram sequestrados no caminho para a escola e
levados para uma clareira, onde uma dúzia de jovens amarados uns aos outros aguardavam
ser decapitados por ordem de uma mulher idosa.
Ibadan,
terceira maior cidade da Nigéria, 22 de março. Uma unidade anti-gangues deu
um assalto a um prédio abandonado, ferozmente defendido por milícias armadas com armas, arcos e flechas. No
interior, o que a imprensa chamou de " casa de horror ": um pesadelo, esqueletos, corpos
cortados e quinze prisioneiros acorrentados num estado de desnutrição extrema.
Makokou,
capital da província de Ogooué-Ivindo lugar de alta concentração de feitiçaria
no noroeste do Gabão, em fevereiro, a polícia investigou o caso de uma dúzia de
Camaronesas desaparecidas sem deixar vestígios.
Aqui
como em outros lugares, de Costa do Marfim à África do Sul, do Togo, ao Quénia, as crianças, os deficientes, os adultos continuam a ser engolidos em espiral mortífera
de fascínio para os valores materiais e questões de poder.
Crimes rituais e tráfico de órgãos tornaram-se um comércio transnacional , atraente e próspero, onde tudo se compra e se vende em peças sobresselentes: coração, olhos, pénis, clítoris, cérebro, pernas, cabelos, unhas, sangue, língua … Os órgãos, os mais procurados, portanto os mais caro (até o equivalente a 2.000 euros, ou três vezes mais quando se trata de pagar mais um fornecedor assassino), sendo esses albinos, mestiços, pigmeus, gémeos e seus pais. Num país como a Nigéria, na vanguarda da inovação no campo mercantil, várias "fábricas de bebés", onde as mulheres entregavam seus filhos contra efeitos de indemnização em pedaços, foram desmantelados em 2011 e 2012. Ninguém tem ilusões: era apenas a ponta de um iceberg de ritual assassino.
Medo de vampirismo
Em
todos os lugares, o nível de frequência desta criminalidade aumenta fortemente
com a abordagem dos acontecimentos sociais e políticos, especialmente em tempo pré-eleitoral.
No Gabão, nos Camarões, os dois Congos, no leste de África, na Nigéria e até
na Guiné-Bissau, a população vive um estado de stress permanente.
Fábulas de canibalismo
É verdade que, também estamos aqui no campo envenenado de
falsos rumores, como o caso os "ladrões de sexos", que ficou famoso e fez dezenas
de vítimas inocentes linchados até a morte no Senegal, Gana, Gabão e Nigéria,
entre 1999 e 2001 - que reapareceu em Nkongsamba, nos Camarões, início de 2014.
É claro que, a fábula espalhada pelos seus opositores, segundo a qual, o Presidente
da Guiné Equatorial Obiang Nguema teria por hábito devorar testículos
humanos, nada tem de realidade que antropofagia atribuída a Jean-Bedel
Bokassa ou vampirismo rabinos russos do século XIX, culpados, segundo a polícia do tsar de confeccionar o pão ázimo com
o sangue dos cristãos. Leia mais aqui em Francês - Jeuneafrique.com