Pela liberdade, alguém profetizou que “ Honra é a força que nos impele a prestigiar nossa personalidade. É o sentimento nobre do nosso património moral, um misto de bravura e de virtude. Ela (Honra) exige a posse da perfeita compreensão do que é justo, nobre e respeitável, para elevação da nossa dignidade; a audácia para desafrontar perigos de toda ordem, na defesa da verdade, do direito e da justiça.” No dia 3 de Agosto de 1959, os estivadores defenderam as balas dos colonos tugas com os remos no porto de Pindjiguiti. O massacre foi a gota que impeliu a nossa gente a pegar em armas para expulsar os tugas da nossa terra. A Honra exigiu os nossos pais a erguerem-se firmes contra a dominação estrangeira, para que possamos viver assim hoje, na paz e tranquilidade na nossa terra..
Este ano, mais do que reivindicar pela manutenção da paz, estabilidade e promoção de dialogo entre os guineenses, deveríamos Honrar e Glorificar aqueles homens e mulheres que deram as suas próprias vidas para que estejamos aqui na nossa terra, em paz e em liberdade. Deveríamos contar às gerações mais novas o que passou ontem. Dizer-lhes como esta nossa “Casa” era antes. Contar os nossos filhos e netos que aqui houve um período em que o inquilino virou senhorio desta nossa “Casa” e passou a cobrar-nos renda da casa. E para inverter esta situação os nossos avós lutavam com flechas e catanas. Os nossos pais e avós não eram cidadãos de pátria nenhuma. Eram, simplesmente, indígenas. O que faziam e eram não entrava para a “contabilidade” de ninguém que não fosse a deles mesmos.
Os Chefes de Postos ou Regedores não andavam. Os nossos filhos e netos deveriam saber que antes de aparecer as motocicletas utilizadas pelo exército alemão, na II Grande Guerra, para as missões de reconhecimento e de comunicação, os Sidecar acoplados ao veículo, os nossos avós carregavam os agentes coloniais - geralmente enviados de cabo-verde para a nossa terra - num espécie de andor ou maca, de povoação em povoação, aldeia em aldeia, para as missões administrativas, cobrança de taxa, etc.. Os chefes de posto trazia no coldre, de um lado pistola do outro palmatória e na mão asseguravam chicotes cavalo-marinho com que batiam a nossa gente, homens e mulheres, novos ou velhos, quando não pagassem tributo, ou simplesmente não comportassem bem, por exemplo, não tirassem chapéu com vénia diante do colono, ou ainda quando o dinheiro entregue não fosse bem arrumado com a face certa voltado para cima, etc., etc.. As gerações mais novas deviam saber que a maior parte das estradas da nossa terra foram construídas manualmente com força braçal da nossa gente, obrigadas a trabalhar sob chibatadas dos sipaios,, sem salário, água ou comida. Quando o colono introduziu o ensino, os concursos para os postos de trabalho dos brancos e mestiços eram sempre ganhos pelos seus familiares, parentes e afins. Na medicina colonial, não éramos gente, mas sim animais de laboratório.
Foi sempre pela liberdade e contra a tirania de quem quer que fosse, que a nossa se ergueu firme para impor o respeito e dignidade. Porque homem honrado é aquele que tombou no campo da batalha e morreu pela pátria, disse Cabral. Por isso a nossa obrigação política é Honrar todos os mártires do colonialismo e os homens e mulheres que combateram contra essa força desumana que nos atrasaram e quiseram destruir. Alguns dos ex-combatentes estão ainda entre nós a acompanhar o reconhecimento do seu testemunho ou o nosso respeito pela liberdade que nos outorgaram.
Meus irmãos e compatriotas, não iludamos, o progresso chegará aos nossos lares apenas se honrarmos e glorificarmos o legado da libertação e da dignidade humana que as gerações precedentes delegou.
Deus abençoe Guiné-Bissau e a livre da tirania!