Uma farmacêutica galega está a produzir, juntamente com duas colegas da Tanzânia, a primeira pomada solar para albinos feita em África.
Zawia, uma tanzaniana albina, percorreu todo o país com uma tia (os pais abandonaram-na quando ainda era muito pequena), até chegar ao Centro Médico Cristão do Kilimanjaro. Tinha cancro no queixo, mas nem ela nem a tia perceberam o que era. No hospital, explicaram que já não se podia fazer nada, porque era tarde demais e o cancro estava muito espalhado. Devolveram o dinheiro a Zawia e mandaram-na para casa – aquilo que fazem a todos os pacientes albinos. A rapariga ainda agradeceu, lembrando que a vida dos albinos na Tanzânia é cruel e que aquele dinheiro, ainda que devolvido, era a primeira coisa que alguma vez lhe tinham dado.
Mafalda Soto é uma farmacêutica galega que vive na Tanzânia, e que trabalha em África há mais de seis anos. Dedicou-se, com as companheiras tanzanianas Grace e Leah, ao albinismo. Ao fim de três anos de pesquisas, chgou o primeiro protetor solar para albinos produzido em África. E um dado é certo: se Zawia se tivesse protegido do sol, e se soubesse que aquela mancha no queixo tinha de ser controlada, a história da sua vida seria outra, provavelmente.
Prevenção, prevenção, prevenção. Soto repete esta espécie de mantra há seis anos a todos os albinos que encontra, a todas as crianças, aos pais, às mães, aos professores, e até aos médicos que trabalham na Tanzânia, um lugar complicado para albinos – que são, no país, mais de 25.000.
A falta de tratamento faz com que a expectativa de vida das pessoas com albinismo se fique pelos 30 anos. Apenas 2% vivem para além dos 40. A baixa taxa de escola leva a que estas pessoas acabem por se dedicar ao trabalho no campo. Passam a maior parte dos seus dias ao sol, e acabam por adoecer e morrer cedo. Tão mau ou ainda pior: são estigmatizadas, perseguidas, às vezes até assassinadas. Aliás, a Tanzânia regista o maior número de ataques violentos contra albinos em África. Ainda assim, Mafalda Soto não hesita em afirmar que a falta de proteção contra o sol é a principal ameaça. Os poucos produtos que existem são caros e difíceis de encontrar. Algumas associações tentam ajudar com donativos, mas estes são francamente insuficientes.
Soto chegou ao Malawi em 2008, como voluntária da ONG Africa Direto. Ali, começou a trabalhar com albinos, e quando percebeu o quanto era difícil protegê-los do sol, devido à falta de cremes, começou a desenvolver a ideia de fabricar um creme mais barato e de fácil acesso, que protegesse a pele e prevenisse o cancro. Sempre que vinha a Espanha testava diferentes misturas, para encontrar uma que fosse específica para a proteção de albinos; falou com laboratórios alemães e com investigadores africanos. No final, tinha duas fórmulas possíveis, e foi assim que em 2011 chegou à Tanzânia e começou a testá-las em mais de 150 albinos. A partir de 2013, e aí já com apoio de Grace e Leah, o creme – chama-se «Kilisun» – começou a ser produzido localmente, contando para isso com apoios de uma série de organizações. Uma importante parceria foi conseguida com a BASF, na Alemanha, que ajudou a melhorar ainda mais a fórmula (os testes e os ajustes mantêm-se até hoje).
O «Kilisun» chega hoje às zonas mais remotas do Kilimanjaro. Os albinos são avaliados a cada seis meses, e alguns são transferidos para hospitais. No entanto, os acessos a estes locais continuam a ser muito difíceis, e 80% dos albinos continuam a morrer em casa, porque não chegam ao tratamento – ou porque o tratamento não chega a eles.
A sensibilização para a proteção do sol é também importante. «É preciso fazer mais do que criar um creme e distribuí-lo. Queremos incentivar uma componente de educação e capacitação, para que os albinos adquiram hábitos de cuidado e se esforcem pelo seu futuro», diz Soto. E é preciso também explicar como é que o creme funciona: «Muitos ainda acham que devem pô-lo antes de ir dormir», lamenta.
A sensibilização para a proteção do sol é também importante. «É preciso fazer mais do que criar um creme e distribuí-lo. Queremos incentivar uma componente de educação e capacitação, para que os albinos adquiram hábitos de cuidado e se esforcem pelo seu futuro», diz Soto. E é preciso também explicar como é que o creme funciona: «Muitos ainda acham que devem pô-lo antes de ir dormir», lamenta.
O passo seguinte será exportar o «Kilisun» para países como o Uganda ou o Malawi, que já fizeram pedidos. Há já um acordo com a Unicef para ajudar na distribuição pelo sul de África. O sonho de Soto e das suas companheiras é apenas um: que todos os albinos possam um dia ter acesso gratuito e simples à proteção solar. Fonte: Aqui