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Martinho Júnior, Luanda (textos anteriores)
24 – Ao tornar Cuba, a partir do período especial em 1991, num “laboratório experimental” onde foram aplicadas as mais variadas técnicas e acções de terrorismo e propaganda (por parte de redes de características fascistas fieis a Fulgêncio Batista de exilados cubanos residentes sobretudo na Florida, estimulados pelos serviços de inteligência norte americanos) e ingerência directa em assuntos internos de carácter sócio-político e psicológico de Cuba (inclusive a partir dos Escritórios Representativos dos Estados Unidos da América em Havana), ou indirecta utilizando canais apropriados, foram conjugadas as políticas de bloqueio e guerra psicológica a um nível sem precedentes.
Até 2013, segundo Salim Lamrani, em “50 verdades sobre a Revolução Cubana”, Cuba sofreu “mais de 6 mil atentados, que custaram a vida de 3.478 civis e incapacitaram 2.099 pessoas.
Os danos materiais são avaliados em vários bilhões de dólares e Cuba teve de gastar somas astronómicas em sua segurança nacional, o que limitou o desenvolvimento dos programas sociais.
O próprio líder da Revolução foi vítima de 637 tentativas de assassinato”…
Os Estados Unidos prolongaram de facto a Guerra Fria contra Cuba, muito para lá do episódio do derrube do muro de Berlim e ao fazê-lo assumiram as vestimentas dum autêntico estado terrorista!
25 – O bloqueio não foi pois um simples “embargo económico”, por que as técnicas aplicadas na sua geometria variável foram sempre conjugadas e intimamente associadas a actos de inteligência, ingerência, manipulação, desestabilização, sabotagem e terrorismo, visando de algum modo hostilizar, ou transformar a vontade do povo cubano, procurando-o desviar do seu rumo socialista, procurando subverter a democracia participativa por que se regem estado e sociedade, procurando minar a sua capacidade de resistência e procurando inibir inclusive todos aqueles que se relacionam duma maneira ou de outra com Cuba, como por exemplo os simples turistas que vão em busca de paz e de lazer, de contacto humano e de contacto com a natureza!...
Têm sido vários os substratos sociais autóctones em Cuba que têm sido alvo preferencial da ingerência “laboratorial” norte americana e do seu labor em função dos conceitos que se prendem ao pregão de “liberdade democrática” em prol dum modelo de “democracia representativa” moldado pelos interesses e conveniências do império, entre eles, por exemplo:
- A intelectualidade, duma forma geral, incluindo cientistas, médicos, artistas… assim como algumas instituições ou organizações a que eles tenham aderido;
- A juventude, em especial aquela que tende a usar alguma das múltiplas capacidades instaladas nos telemóveis e computadores;
- Trabalhadores independentes, particularmente blogueiros e jornalistas;
- Familiares de contra-revolucionários presos, que respondem directamente aos estímulos (e pagamentos) da ingerência;
- Igrejas cujo carácter ou perfil possa ser vulnerável a financiamentos especializados feitos por adequados canais;
- Instituições ou organizações vocacionadas a acções sócio-políticas que conformam os propósitos directos da contra-revolução.
26 – Os Serviços de Inteligência norte americanos, em especial a CIA, utilizam canais como a USAID (“Agência dos Estados Unidos para a Assistência Internacional”) ou a NED (“National Endowment for Democracy”), ou seus “desdobramentos” que podem incluir canais por via de outros países latino americanos, que colocam ao dispor manancial humano para as operações em curso, evitando detenções como a ocorrida com o espião norte-americano Alan Gross, apesar dos riscos que correm os agentes assim recrutados e instrumentalizados.
Esse procedimento ajusta-se também melhor, de acordo com a perspectiva de ingerência norte americana, com a arregimentação que faz dos círculos mais reaccionários de migrantes cubanos na Florida redundantes dos apoiantes de Fulgêncio Batista, inclusive de organizações que têm pautado sua actuação utilizando medidas terroristas, que o foram desde a invasão ocorrida em Praia Girón, até à colocação de bombas em hotéis, ou à explosão no ar de aviões civis cubanos com a utilização de cargas explosivas colocadas através de suas operações.
O FBI tem tido conhecimento e ligação com esses grupos terroristas, conforme outro exemplo: um documento próprio com data de 23 de Setembro de 1977 que foi publicado por investigadores porto-riquenhos que a ele tiveram primeiro acesso.
O documento revela conhecimentos acerca da organização terrorista com as siglas CORU (“Coordinación de Organizaciones Revolucionarias Unidas”), a que pertenciam a essa data Luis Posada Carriles, Orlando Bosch e Frank Castro, reconhecidos autores do atentado a uma aeronave da “Cubana”, que causou explosão do aparelho e a morte de 73 de todos os seus ocupantes.
Os Estados Unidos que colocaram Cuba na lista dos “estados terroristas”, foram denunciados dezenas de vezes, ano após ano, como os promotores de actos terroristas dessa natureza, em função da protecção e estímulo que organizações como essa sempre mereceram em seu território ou a partir dele, espalhando o seu “perfume” pela América Latina.
A persistência desse contexto, levou a que os Serviços de Inteligência cubanos se decidissem a infiltrar esse tipo de organizações terroristas e criminosas, a fim de melhor poder defender Cuba de suas acções, para além de estabelecer “cordões sanitários” que isolassem outros sob a mesma tutela, a actuar dentro do seu próprio território e fazendo uso da independência e da soberania revolucionária!
Ao transformar Cuba num “laboratório experimental” dessa natureza, os Estados Unidos não podiam esconder que o que priorizavam em direcção a Cuba, iriam depois aplicar um pouco por todo o Mundo e também na América Latina, pelo que a percepção dos fenómenos que artificiosamente desencadeava, pouco a pouco acabou por ser cada vez mais entendida por cada vez maior número de estados e de entidades, até aos seus detalhes mais íntimos.
Os Estados Unidos não podem esconder hoje que, sempre que assim actuarem são um estado terrorista nos seus relacionamentos internacionais e por isso mesmo se tornaram um verdadeiro santuário de terroristas, no caso de Cuba ao nível de organizações como a CORU!
Os países vulneráveis do Terceiro Mundo percebem por outro lado, que resistências poderão ser estimuladas, que respostas no quadro dessas resistências devem ser encontradas, que argumentos sócio-políticos poderão mobilizar de forma a, ao mesmo tempo, aprofundar a democracia, livrando-a de nefastas representatividades e tornando-a efectivamente cada vez mais participativa!
Hoje é possível perceber como são geradas as “revoluções coloridas”, ou as “primaveras árabes”, como se mobilizam, como actuam e quais os objectivos de que se nutrem, por que durante décadas os Estados Unidos assumiram-se enquanto estado terrorista pelo que puseram em prática no“laboratório experimental” de Cuba!
Com esse conhecimento a América Latina percebeu quão importante é a integração, quão importante é a revolução bolivariana, quão importante é gerar culturas de resistência (particularmente com o concurso de culturas indígenas, como na Bolívia), quão importante é a mobilização popular e a equação de suas organizações sociais, quão importante é, salvaguardando para a sua causa as oligarquias patrióticas, colocar as oligarquias anti-patrióticas arregimentadas pelo império contra a parede impedindo a sua vassalagem e instrumentalização, ou seja, desmascarando os seus procedimentos comprometidos só possíveis no âmbito dos espectros mais conservadores que definem as “democracias representativas”!
Cuba, (entenda-se seu Povo, sua Revolução e seus heróis), é um farol e simultaneamente um exemplo que todos os progressistas, nos países vulneráveis do Terceiro Mundo devem estudar, para entender por que razão há tanta pressão para tornar impactantes determinados factores sócio-políticos que, por via do capitalismo neo-liberal, por via da “abertura dos mercados”, aderem “por osmose”, ao arregimentar oligarquias anti-patrióticas, aos interesses e conveniências da aristocracia financeira mundial!
A doutrina de choque, tem sido aplicada a Cuba de forma permanente e persistente, desde o início da Revolução Cubana e agora não pode mais passar despercebida aos olhos de todo o Mundo!
Por que Cuba foi um fruto que não caiu, é hoje possível, mais do que antes, avaliar as capacidades de ingerência do império instrumentalizando os processos de globalização com características de hegemonia unipolar, da propositada supremacia das culturas anglo-saxónicas, da instrumentalização das “revoluções coloridas” e das “primaveras árabes”, bem como de elitismos que, sendo inteligentes, acabam por desembocar nos mesmos objectivos de jugo e domínio ao fazer ascender e consolidar o poder de 1% sobre o resto da humanidade!
Notas:
- Según un documento secreto descubierto por investigadores puetorriqueños
Gravura representativa da simbiose CIA-USAID