quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Editorial: EMANCIPAÇÃO FEMININA NÃO SE DECRETA…SE CONQUISTA

 
A luta pela emancipação das mulheres marcou e continua a marcar as páginas da história da humanidade. Em cada canto de globo terrestre, as mulheres reclamam e querem que sejam corrigidas injustiças incorporadas nas práticas culturais e sempre perpetuadas nas estruturas de Estado moderno.
 
A legitimidade da luta pela emancipação feminina é indiscutível e concerne tanto homens como mulheres. Contudo, é urgente na nossa opinião reenquadrar o debate a volta desta importante temática no nosso país, tendo em conta a proliferação de discursos e abordagens simplistas sobre o tema. Há vozes que entendem que basta tirar um decreto ou aprovar uma lei, se pode mudar a condição da mulher guineense. Falso. É preciso atacar as raízes do problema.
 
A questão da fixação da quota a favor das mulheres nas instituições da República, com destaque para o governo e o Parlamento, carece de sustentabilidade e cheira um pouco de facilitismo e populismo.
 
A verdade deve ser dita à camada intelectual das mulheres guineenses. As principais promotoras de acções de reivindicação, de advocacia a favor da participação política das mulheres, estão fora das estruturas dos partidos políticos legalmente constituídos.
 
Falam da participação política mas têm medo de assumir a vida partidária activa. As nossas mulheres, as mulheres deste país devem abandonar discursos, retóricas, e fazer a política de forma clara e engajada. Só assim será possível inverter os indicadores actuais desfavoráveis às mulheres.
 
Os dados do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) publicados em 2013, indicam que na Guiné-Bissau o analfabetismo nas mulheres situa-se aos 64% contra 47% nos homens.
 
Adopção de declarações, a semelhança daquela de Canchungo entregue recentemente aos órgãos de soberania, não terá grande impacto na participação das mulheres na vida pública, pelo contrário, pode contribuir no adiamento de um verdadeiro debate nacional sobre a questão.
 
O Parlamento, o Governo, a Presidência enquanto órgãos do poder de Estado devem ser dirigidos por pessoas (mulheres e homens) vestidas de legitimidade popular. Reclamar o direito de assumir postos de responsabilidade no sistema é uma mera fuga para frente.
 
Este país já conta com várias mulheres Engenheiras, Médicas, Sociólogas, Advogadas, Enfermeiras…, capazes de participar positivamente na construção do ideal democrático à condição que elas saibam assumir plenamente o seu papel político na sociedade a semelhança de Titina Silá e demais heroínas nacionais que tiveram a coragem de erguer a cabeça ao lado dos homens. A actual geração de mulheres intelectuais guineenses deve sair da sombra e fazer a política activa. Não há dúvidas de que se deve rever a lei-quadro dos partidos políticos com vista a uma participação feminina quer nas listas à deputação, quer na atribuição de responsabilidades nos cargos de tomada de decisões depois das eleições. Para isso, as mulheres devem ter a coragem de embarcar no comboio do combate político. Têm de passar de estatuto de simpatizantes para o de militantes! O futuro está nas vossas mãos!
 
António Nhaga
Diretor-Geral/Editor