No Malawi já é possível fazer o teste da SIDA em casa. Um novo método permite detetar a doença longe dos olhos curiosos do mundo. Por proteger do estigma e da discriminação, o teste pode ajudar a combater melhor o vírus.
Actualmente, a prevalência do HIV e da SIDA no Malawi ronda os 10%. O Governo e investigadores da área da saúde adoptaram agora um teste que dizem ser a forma mais rápida e eficaz de detectar o HIV. O método permite realizar auto-exames de HIV em casa, sem envolver profissionais de saúde.
Chama-se OraQuick e parece um teste de gravidez. Retira-se da embalagem, passa-se nas gengivas inferiores e superiores, coloca-se a tampa e aguarda-se. Vinte minutos depois, surge o resultado. Uma linha significa que o teste deu negativo. Duas significam que o indivíduo testado é HIV positivo. Trata-se de um teste simples e discreto, cuja fiabilidade ultrapassa os 90%.
Envolvimento de toda a comunidade
O kit completo custa normalmente cerca de 60 dólares (cerca de 54 euros). Mas, no Malawi, investigadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e de um programa de investigação clínica entre o Malawi e a cidade inglesa de Liverpool têm estado a dar formação e a distribuir kits OraQuick de forma gratuita.
Até agora, já foram feitos mais de 8200 testes no Malawi. Um dos responsáveis por esta iniciativa, Rhodrick Sambakunsi, diz que está satisfeito com a forma como decorre o programa: "Temos o apoio de líderes locais, das igrejas e de todas as comunidades nas áreas onde estamos a trabalhar".
O Malawi tem um número elevado de órfãos da SIDA
Apesar das várias campanhas de sensibilização sobre o HIV/SIDA e a disponibilização, pelo Governo, de testes e aconselhamento nos serviços de cuidados pré-natais, ainda há muitas pessoas no Malawi que não se submetem a testes de HIV com medo de serem discriminadas. Frequentemente, mulheres infectadas com HIV dão à luz em centros de saúde sem saberem da infecção.
A doença que destrói famílias
Joshua Mwale, de 26 anos, soube da pior forma que a sua mulher estava infectada. "Senti-me traído porque, antes do parto, os médicos recomendaram um teste. O da minha mulher foi positivo. Forçaram-me a fazer também o teste e o resultado foi negativo". conta. "Senti-me enganado pela minha mulher, especialmente quando ela deu à luz um bebé prematuro, que morreu cinco dias depois. Separámo-nos e, desde então, faço um teste de HIV a cada três meses".
Num total de 14 milhões de malauianos, dois milhões de pessoas vivem com HIV/SIDA. Masuzgo Amos tem dois filhos. Vive na capital, Blantyre, e já fez o auto-exame. Diz que o teste OraQuick é a melhor arma na luta contra o vírus. "Como mulher, preciso de privacidade. Fiz o auto-exame várias vezes e ninguém soube o resultado".
Não basta fazer o teste
Segundo Amos, a maior parte das pessoas não quer que os profissionais de saúde saibam do seu estado.
"As pessoas vêem alguém ir a um centro de saúde para realizar o teste e pensam que a pessoa é promíscua. Por isso, é difícil entrar numa clínica só para fazer o teste", diz.
Os especialistas, no entanto, lançam o alerta: depois do teste, é preciso agir conforme os resultados. Os testes OraQuick são eficazes e fáceis de usar, mas qualquer resultado positivo tem de ser confirmado num centro de saúde através de uma análise ao sangue. Fonte: DW África