[segunda e última parte da Entrevista 29.10.2016] Ex-Presidente da República de transição, Manuel Serifo Nhamadjo, afirmou durante uma entrevista ao semanário O Democrata que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) está mais invadido por militantes de conveniência que por militantes de convicção.
Falando a’O Democrata para analisar a atual situação do impasse político que se regista no país, Nhamadjo aproveitou a ocasião para esclarecer que não pretende apresentar-se como o candidato à presidência do PAIGC, por não se sente capaz de dirigi-lo. Acrescentou ainda que o PAIGC é uma máquina superior as suas capacidades e na sua opinião um partido histórico deveria ser dirigido por uma pessoa mais preparada de que o Serifo.
Para o ex-presidente Nhamadjo, o líder do PAIGC teria que ser uma pessoa muito humilde, uma pessoa politicamente bem preparada e que criasse uma ambição única de interpretar a ideologia do PAIGC no sentido mais puro da palavra. Acrescenta ainda que o PAIGC privilegia pessoas que não têm projetos para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.
OD: O senhor sente-se igualmente responsável desse naufrágio colectivo?
MSN: Sim. Como guineense sinto-me responsável e é por isso que estou a dar esta entrevista. É uma das formas de dar o meu contributo. Cada um de nós deve contribuir, aconselhar, participar. Acredito que se eu fosse um membro do Comité Central do PAIGC seria muito mais fácil, mas como não tenho espaço, vou aproveitar as entrevistas e as conversas com amigos.
A minha contribuição é aconselhar para a busca de grandes consensos. A pequena experiência que tive dá-me certa possibilidade de dizer, cuidado que aí a frente há um buraco. Portanto, a única forma de contornar é assim. Enfrentei uma máquina terrível na gestão de transição com múltiplos problemas. A minha arma era essa juntar as pessoas para conversar e buscar grandes consensos.
Não escolheria a expulsão ou prisão. Nunca mandei prender ninguém. Não obstante os insultos de que fui alvo nas rádios. Deixei isso de lado, porque o meu objectivo era juntar o povo guineense. E quando avancei com a ideia da inclusão, houve os que acharam que eu era do PAIGC e que traria elementos do partido para o governo. Desafiei-os perguntando se não quisessem a ideia de juntarmo-nos todos, então que fossem buscar alguém para me substituir, porque eu ia-me embora.
OD: Qual foi a má recordação dos anos de transição política que dirigiu?
MSN: Foi a incompreensão! A guerra política fez com que muitos viram no Serifo, como me apelidaram que “eu era incapaz de assumir o cargo e que era um golpista”. Mas toda gente séria sabia que eu nunca faria parte e, inclusive tinha recusado a primeira proposta que me fizeram para ser presidente. Isto está nos arquivos de várias imprensas.
Infelizmente ninguém se lembra disso. Eu disse que se não houvesse o retorno à normalidade constitucional através do parlamento, eu não daria a minha contribuição e foi a minha insistência que fez com que o Parlamento persistisse. Essa incompreensão mágoa, mas sinto-me confortado porque, com o tempo, as pessoas agora começam a compreender que afinal essa pessoa que crucificámos não era nada golpista. Simplesmente tinha a ambição de dar um contributo. Durante a campanha eleitoral em que participei, sempre disse: Se Deus achar que eu posso juntar o povo guineense que me dê o poder. Nunca esqueci isso e isso está nos arquivos.
Até avançaram com a ideia de que eu proibia as pessoas pegar água na minha casa. Imaginem a barbaridade das calúnias. Mas para mim tudo isso é política de baixo nível. Essa é a má recordação, a incompreensão! Mas sinto-me confortado por ter contribuído para a estabilização do país.
OD: O que mudou no Serifo Nhamadjo, dois anos e meio depois de ter deixado o Palácio da República?
MSN: Não sei… talvez a fama de ser Presidente e não posso negar isso. Já não me vêem como benfiquista, como deputado, como proprietário da empresa “Nô Cumpo”, mas vêem como antigo Presidente. Pessoalmente não mudou nada em mim, sou sempre humilde e continuarei assim.
OD: O Senhor é candidato à presidência do PAIGC no próximo congresso?
MSN: Eu já tinha dito isso, que gostaria de ser tudo menos o candidato ao cargo do presidente do PAIGC.
OD: Porquê?
MSN: Porque não me sinto capaz de dirigir o PAIGC. O PAIGC é uma máquina superior as minhas capacidades, portanto para mim é um partido histórico que deve ser dirigido por uma pessoa “mais completa” de que o Serifo.
OD: O actual presidente do partido é “mais completo” do que o Serifo Nhamadjo?
MNS: Não. Porque se fosse, não estaria em problemas.
OD: Defina o perfil do presidente do PAIGC…
MSN: Teria de ser uma pessoa muito humilde. Uma pessoa politicamente bem preparada e que crie uma ambição única de interpretar a ideologia do PAIGC, no sentido mais puro da palavra. O PAIGC privilegia pessoas que não têm um projeto para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.
O líder do PAIGC não deveria, neste momento, ter a ambição crescer de facilmente para ter alta promoção. Teria de ser uma pessoa já promovida, uma pessoa idónea e com experiência política. Uma pessoa que não tenha uma ambição senão a de juntar os militantes e capacitá-los para o desafio maior que o PAIGC enfrenta para o desenvolvimento do país.
OD: Existe essa figura dentro do PAIGC neste momento?
MSN: Haverá. Sabes que muitas vezes nós vemos as figuras, só depois de estarem a frente. Nós crescemos no PAIGC e sabemos que existem pessoas capazes, mas como não são muitos publicitadas, ninguém as vê. Se calhar como não gostam de fazer muitos discursos, ninguém as vê. Há dentro do PAIGC pessoas idóneas que eu conheço que deram toda a vida para que o PAIGC fosse um PAIGC libertador. Essas pessoas existem dentro do partido e não são nem duas, nem três.
OD: Fala-se nos últimos tempos nos corredores da reaproximação do Senhor Presidente com o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira. Confirma isso?
MSN: Eu não me reaproximo de ninguém. Eu sou do PAIGC, então estando lá o Domingos, o Joaquim ou o Tamba. Por sinal, os que estão hoje na direção do partido são meus camaradas, mas eu defendo o PAIGC. Porque é a partir dessa máquina que se pode trabalhar e projectar o país para um desenvolvimento sério. E não por grupos de militantes de conveniência.
O PAIGC está muito mais invadido por militantes de conveniência de que por militantes de convicção. Portanto, não se trata de uma questão de me aproximar ou afastar-me do Domingos. Eu estou para o PAIGC, porém serei sempre crítico tal como fui no passado, quando tive a coragem de enfrentar o meu líder que a um dado momento falhou com os princípios e práticas do PAIGC.
Não sou muito de publicidade, mas quando chegar o momento, eu aponto o dedo e assumo. Neste momento eu quero ver o PAIGC e o país numa normalidade na qual a Nação estava. É este o meu maior desejo.
OD: Após o congresso de Cacheu havia uma enorme expectativa dos guineenses e em particular dos militantes do PAIGC na atual direção. Regista-se agora uma onda de turbulência no partido, será que actual direção falhou na missão de unir os militantes ou o que aconteceu?
MSN: Isso demostra justamente que não se deve pensar apenas numa pessoa. Deve-se pensar numa equipa, porque ninguém faz milagres sozinho. O Domingos, por mais inteligente que possa ser, sozinho não pode fazer milagres. Ele tem que trabalhar com a equipa e o PAIGC é uma equipa grande.
Só o Comité central tem 351 membros. A maioria desses membros tem que trabalhar na estabilização. São esses 351 membros que deveriam fazer os bons ofícios para que a direção do topo não se desmantelasse. O Bureau Político devia fazer o trabalho e a Comissão Permanente não devia ser uma ‘Caixa de Ressonância’, porque os nossos líderes têm uma falha quando formam a Comissão Permanente onde a maioria das pessoas vai dizer ‘sim senhor’ ao líder.
Isso é mau e eu defendo que o líder tem de juntar ideias diversas para poder gerir as contribuições de todos. Mas quando se tem à volta só aqueles que dizem: Chefi aós bu papia diritu ó bu dá carta mas aós. Esses são bajuladores que nunca dizem a verdade, portanto se o líder cai nessa asneira tem sempre problemas. Tem que ter pessoas críticas dentro desse grupo para diversificar as opiniões ser capaz de tirar o melhor para encontrar uma solução.
OD: É isso que está acontecer dentro do PAIGC, atualmente?
MSN: Em parte sim…
OD: O senhor é tido como um bom conhecedor dos corredores da CEDEAO, em particular da Nigéria. Qual é a sua relação com o actual chefe de Estado nigeriano, Mahamadu Buhari?
MSN: Sabe que a minha vivência no parlamento da CEDEAO ajudou-me bastante a ter contactos e relações. Estive 11 anos no parlamento da CEDEAO e não passei só de largo. Estive na máquina e na parte final fui o primeiro vice-presidente. Geri o destino daquele parlamento durante um bom período. Isso facilitou os meus contactos a nível da CEDEAO e a minha amizade com muitos, portanto não é só a Nigéria, mas sim todos os países da nossa região.
É raro não ter num desses países da CEDEAO pessoas influentes que sejam amigos. Eu tentei cultivar amizade com várias pessoas e essas pessoas estão bem posicionadas em vários sectores. Agora não nos conhecemos pessoalmente, o Presidente Buhari e eu, mas no staff dele há pelo menos três elementos muito importantes que são meus conhecidos.
Agora em termos de figura, o presidente Obasanjo é como um pai e o Presidente Jonathan é um amigo e um irmão. Alguém que disponibilizou todo o seu apoio para mim e mesmo depois da minha estada na Presidência, foi sempre quem me acarinhou e deu-me apoio total. Eu tenho relações extraordinárias com essas pessoas. Portanto, na Nigéria, independentemente do actual Presidente e dos ex-Presidentes, vários senadores foram os meus colegas no parlamento da CEDEAO.
Sinto-me muito bem em três países da nossa região, designadamente a Costa do Marfim, o Senegal e a Nigéria. Gana e a Guinée-Conacri em segundo plano, mas nesses três países que mencionei tive grandes amigos e continuo a tê-los.
OD: O fenómeno do terrorismo é uma realidade na nossa região. Já se registam atentados em grande escala protagonizados pelo grupo ‘Boko Haram’ da Nigéria e da rede ‘Al Qaeda do Magreb’ que tem as suas células na África Ocidental. O que fazer para combater o fenómeno a nível do espaço da CEDEAO, em particular no nosso país onde se começa admitir a presença de elementos da rede jihadista?
MSN: O terrorismo internacional não tem fronteiras. Defendi e defendo sempre que o terrorismo não pode ser combatido apenas por um país. Tem de ser uma rede internacional para combatê-lo e especificamente ao ‘Boko Haram’. Este grupo não pode ser e nem deve ser tido como um mal gelado só para a Nigéria, Níger, Camarões, ou seja, apenas para aquela zona.
Essas organizações têm contactos, por isso qualquer país de África e particularmente da nossa região tem de se acautelar muito, porque são redes que se aliam com narcotráfico para poderem capacitar-se economicamente e acabam por abrir bases em diferentes países para poderem ter maior mercado. São redes muito perigosas e são pessoas que circulam entre nós e que ninguém consegue identificar até cometerem erros. E é por isso que tem de ser uma luta conjunta de toda a sub-região.
OD: A nível interno o que é preciso fazer?
MSN: Capacitar as nossas inteligências bem como envolver a população nessa luta patriótica. O guineense gosta de dizer ‘Ami n ka mutrus’, mas quando os nossos serviços de inteligências não são informados, eles não podem fazer milagres. Cada um de nós conhece os seus vizinhos e quando vir alguém estranho, deve contactar as autoridades, portanto isso é para salvaguardar-se.
Porque senão passarão a ser cúmplices e vítimas da sua cumplicidade. Tem de haver essa colaboração nacional no combate, caso contrário, dificilmente poderemos ter sucesso no combate ao terrorismo ou qualquer crime. Veja por exemplo, os prisioneiros que escaparam há dias. Não sei se eram 25 ou mais, mas apenas oito é que foram detidos até hoje.
Acredita que outros estão no mato?… Não, estão aqui em Bissau, coabitando com todas as pessoas. Há pessoas que sabem onde estão, mas não dizem. Portanto, não há colaboração. A força dos Estados Unidos de América reside no patriotismo. Todos são defensores da sua paz, da sua estabilidade e fazem valer os seus direitos. Quando notam alguma coisa que não está certa, contam às autoridades e as autoridades ganham mais capacidade para agir.
OD: A emigração clandestina é um dos assuntos que está a preocupar e muito o nosso continente, sobretudo a nível da nossa região. Que medidas devem ser tomadas a nível do continente e em particular da CEDEAO para estancar esse fenómeno que está a tirar vidas de jovens africanos?
MSN: É preciso pensar numa boa política de desenvolvimento para a juventude. Por exemplo, eu sou de uma aldeia a sete quilómetros de sector de Mansaba (região de Oio, norte do país). Se tivesse em Mansaba Infrasestruturas capazes de me reter lá e eu não viria para Bissau, ou então viria apenas para conhecer a capital.
Não havendo condições para a retenção da juventude, ou melhor, não havendo coisas que possam aliciar essa juventude a ficar naquela zona, certamente vão sair para buscá-las. Porque cada jovem é ambicioso e quer conhecer mais e viver em melhores condições.
Todos queremos melhores condições e essa ambição de estar a arriscar para o desconhecido não é mais do que querer afirmar-se e ter algo diferente. As boas políticas é que podem ajudar nesse sentido, sobretudo as boas políticas sociais, económicas, educacionais. Poder-se-ia enquadrar e orientar a juventude para os locais onde haja algo interessante.
Agora a nível interno, a tendência não é para melhorar um pouco. Lembro-me do triste acontecimento que ocorreu na gestão da transição com os chamados de emigrantes nigerianos, que deu origem a invasão da Embaixada da Nigéria. Aquilo era político, porque as pessoas na altura acharam que a Nigéria é que estava a proteger o grupo de transição e apoiaram os emigrantes para cometerem barbaridades.
As pessoas que orquestraram isso continuam aqui em Bissau, mas tinham outro objectivo, o de criar um mal-estar político. Até diziam que a ‘ECOMIB’ estava a proteger os dirigentes da transição. Agora pergunto, depois de dois anos, é a direção da transição que pediu a renovação da ‘ECOMIB’? Não! Hoje a força da ‘ECOMIB’ é premiado e condecorado… afinal não era tão mau!
Isso demostra que há intenções políticas por detrás daquilo. As pessoas, quando lançam teorias, esquecem-se que estão a lançar sementes e que essas sementes poderão revoltar-se contra eles um dia, porque criar distúrbios e uma relação de vandalismo, acaba por afectar todos nós. A política deve ser feita com cabeça e pensar sempre no melhor, mas não tentar fazer uma política de baixo nível, de autodestruição permanente.
Portanto, é essa tendência de acusar a emigração como se costuma dizer: ‘Nô fronteira está abertu djintis na entra, entra só’ estão a entrar, mas nós também estamos a viajar para outros sítios. Não podemos proibir ninguém de vir para a Guiné. Também não podemos reter os nossos jovens e impedí-los de viajarem para outros sítios. O que se deve fazer é fazer políticas de forma para enquadrar quem vem, mas também proteger quem sai.
Temos um complexo e muitas vezes quem vem consegue dar ordens, de uma forma anárquica. Assisti tristemente a essa história da ‘Orange’ e da ‘MTN’. Quem são as pessoas que estão a dar força a essas empresas estrangeiras? São nacionais. Alguém que está lá e que está a beneficiar simplesmente o bolso dele, que está a trabalhar contra os seus compatriotas.
É verdade também que os nossos profissionais, quando digo isso, digo-o com provas, porque eu tive uma empresa e tive um gabinete de estudos privados. Temos hábito de férias todo o tempo, sobretudo para as cerimónias de ‘toca tchur, cerimónias e utrus kusas’ e se se pretender avançar com sansões, começam com pedidos de todos os lados.
Funcionamos mais com esquemas, não somos muito profissionais, porque? Porque deixamos andar?… são desleixos desnecessários e isso demostra que o profissionalismo está muito aquém das nossas ambições. Mas não justifica ter um guineense com estatuto e ter um estrangeiro com outro estatuto numa única empresa.
OD: Nos últimos tempos, o senhor chefiou várias missões de observação eleitoral em diferentes países africanos. O que isso representa para si?
MSN: É um conforto psicológico. Por isso, cada um de nós tem de trabalhar mais. Também é um reconhecimento e uma oportunidade para me destacar, apreender e ser útil, sobretudo nas duas missões mais destacadas que eu dirigi, para além de outras nas quais participei.
A nível da sub-região, senti que podia ser útil para a minha sub-região. Quando se lembram de mim e seleccionam-me, é um estímulo e um conforto psicológico pessoal. E quando subi de degrau para o nível da União Africana, senti-me ainda muito mais confortado. Apreendi com duas instituições internacionais.
O sistema da CEDEAO da observação eleitoral e da defesa da democracia, depois do da União Africana é muito mais amplo que o da sub-região. Apreendi também e convivi com experts que me facilitaram a tarefa.
OD: Manuel Serifo Nhamadjo será candidato às eleições presidenciais de 2019?
MSN: Eu sempre defendi as questões de candidatura como resultado de um trabalho para que uma pessoa possa ser candidata a alguma coisa. Deve ser o fruto do colectivo e nunca autoproclamar-se. Eu não sou das pessoas que se autoproclamam para serem alguma coisa.
Em todas as funções que eu desempenhei e em todos os serviços que eu participei, fui merecedor de confiança das pessoas, seja elas profissionais, sociais ou políticos. Eu estaria disponível se merecesse essa confiança política, mas não faz parte do meu projecto autoproclamar-me candidato! Jamais o faria.
Mas asseguro-vos que estou muito bem como estou agora, servindo o continente e a sub-região, do que ficar restrito apenas à Guiné-Bissau. Pelo menos nessas condições, as pessoas não me insultam de golpista e estarei mais tranquilo… eu gostaria de ser muito mais atuante na sub-região e no continente.
OD: É verdade que o senhor é um dos maiores accionistas da radio Makaré FM?
MSN: Lembro-me que no início, na abertura dessa rádio, o proprietário, que foi meu assessor no período de transição, disse-me a brincar o seguinte: Bu sibi kuma djintis ta fala abó ku tene é Radio, bu ta sukundi nan nha trás. Fiquei um pouco pasmado e disse-lhe “meu caro amigo, nunca meti os nomes dos meus filhos ou de parenteses nos meus bens”.
Eu sempre assumi tudo que tenho em meu nome, porque eu conquistei aquilo que tenho. Por isso se tivesse uma Rádio, seria uma rádio de Manuel Serifo Nhamadjo e eu estaria a frente dela. Nunca fiz e nunca farei parte, porque não entendo nada de comunicação social. Se fosse uma empresa de construção de estradas, com certeza que faria parte, porque é isso que eu sei fazer e tenho 30 anos de experiência nisso. Não faço parte de projecto ‘Makaré’ e nunca fiz.
OD: O senhor presidente é amante de desporto e em particular do futebol. Que mensagem quer deixar aos dirigentes da federação e aos guineenses em geral, dado que o país já se qualificou para o ‘CAN – 2017’, no Gabão…
MSN: O desporto e futebol em particular é a minha paixão. É a única coisa que me pode tirar da minha casa para ir ao outro sítio do bairro. Aliás, a única coisa que me consegue galvanizar é o futebol, nessas condições e tirando a parte séria que é a política.
Fui presidente da Assembleia Geral da Federação e muitos não sabem disso. Naquele período, o presidente da Liga era o Luís Gomes, também estava la na direção o sportinguista Venâncio e o falecido Presidente Henrique Rosa. Portanto eu vivo pelo desporto.
A selecção da Guiné-Bissau deve ser acarinhada por todos, independentemente daquilo que o Estado guineense possa dar. O povo podia também mobilizar-se para dar a sua contribuição para que a nossa selecção tenha condições de apresentar-se com maior dignidade.
Quando digo o país ou o povo, é possível. Mesmo que alguém tenha apenas 100 francos cfa, é possível. Isso poderá permitir que a selecção tenha condições financeiras, materiais e morais para ir representar pela primeira vez o povo guineense.
Por: António Nhaga/Assana Sambú e Sene Camará
Foto: Marcelo Ncanha Na Ritche