terça-feira, 20 de maio de 2014

PRÓXIMAS HORAS "SÃO DECISIVAS" NA GUINÉ-BISSAU - INVESTIGADOR


Lisboa, - As próximas horas "são decisivas" na Guiné-Bissau, conhecidos os resultados das presidenciais, que dão a vitória ao PAIGC, estima o investigador Eduardo Costa Dias, sublinhando que, "até ao fim de semana, muita coisa pode suceder".

De acordo com os resultados provisórios pela Comissão Nacional de Eleições, José Mário Vaz, candidato do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), obteve 61,9 porcento dos votos na segunda volta das eleições presidenciais, realizada no domingo, enquanto o candidato do Partido da Renovação Social (PRS), Nuno Nabian, conseguiu 38,1 porcento.

Em declarações à Lusa, o antropólogo e especialista em estudos africanos Eduardo Costa Dias confia que "a comunidade internacional vai fazer tudo para que seja formado um governo e o presidente hoje eleito tome posse", pois, caso contrário, corre o risco de "perder o respeito".

Esta é a única certeza, "o resto logo se vê" e "tudo é imprevisível", resume. "O que interessa agora é saber quais são as peripécias pelo meio", aponta, lembrando que se fala de constituir "um governo inclusivo", mas se desconhece em que moldes exatamente, e que "o PAIGC é um pouco uma manta de retalhos".

Nuno Nabian e os apoiantes do PRS "ainda não se deram por derrotados, ainda que tal não signifique que venha a haver um golpe", vinca. "Ninguém nos pode assegurar que não vão tentar uma jogada, tipo de tribunal", aponta, recordando que ainda esta manhã a candidatura do PRS reclamou, em comunicado, vitória nas eleições.

"Vamos ver agora, estas horas são decisivas, (...) até ao fim de semana muita coisa pode suceder", frisa o investigador do Centro de Estudos Africanos do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, assumindo "uma grande ansiedade e preocupação".

Acreditando que "muita coisa" pode ainda "suceder", Costa Dias descarta, porém, que haja "espaço para um golpe militar", não porque "internamente haja capacidade de afastar os militares", mas porque a comunidade internacional não o permitirá. 

Os militares "jogaram no voto no Nabian (...) e tentaram, de facto, influenciar as eleições, criando medo entre as pessoas", o que explica a queda do número de votantes em Gabú e Bafatá, realça o investigador. "Ninguém tem mão" nos militares, reconhece, confessando que gostava de "estar enganado".

Ora, o problema, assinala, é que a comunidade internacional na Guiné "é cada um por seu lado, uma coisa é a CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental], outra coisa é a União Africana, a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), a União Europeia e uma potência que, não estando diretamente lá, está indirectamente", enumera.

Costa Dias refere-se aos Estados Unidos, que têm tido "uma presença mais forte do que é habitual naquela região de África", devido, nomeadamente, ao tráfico de droga??.

Costa Dias antecipa também "alguma alteração em termos de pressão das Nações Unidas", que nomearam como novo representante na Guiné-Bissau o diplomata de carreira brasileiro Marco Carmignani, que sucederá ao timorense José Ramos-Horta. Fonte: Aqui


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