quarta-feira, 4 de junho de 2014

CABO-VERDE, O NOVO ROSTO DA PROSTITUIÇÃO: DO BANCO DA ESCOLA PARA A BEIRA DA ESTRADA

Lucibele, Mirella, Josi deixaram os “bancos da escola” porque tiveram filhos, porque não tinham condições ou porque quiseram e resolveram dedicar-se à prostituição. Como elas, existem dezenas na cidade do Mindelo que não praticam a prostituição clássica. Vão à procura dos clientes que circulam de carro em determinadas zonas da cidade e praticam preços considerados baixos.
Por isso, não são vistas com bons olhos pela concorrência, isto é, são acusadas pelas profissionais do sexo mais antigas da cidade de serem um obstáculo, uma vez que lhes criam dificuldades para darem o próprio expediente. É que para além de serem “sangue novo” nas ruas do Mindelo, pois têm entre os 13 e os 23 anos, são criticadas pelas prostitutas seniores por fazerem biscates a qualquer preço.
Para estas jovens, o período de crise que assola a ilha veio mudar o modo de operar com os clientes. Na sua maioria têm filhos em casa para sustentar e a enfrentar dificuldades fizeram-se à vida nas ruas do Mindelo. Na perspectiva de viverem dias melhores, dizem que encontraram no próprio corpo, um instrumento de trabalho.
Sustento
Mirella, de 22 anos, tem dois filhos e explica o motivo que a levou a descer para a “Morada” e a ficar na berma da estrada a aguardar por alguém que procura ter sexo. “Deixei a escola aos 15 anos quando surgiu a minha primeira gravidez e fui morar com o pai dos meus filhos. Só que em Novembro de 2012, ele foi para a cadeia e, a partir desse momento, passei a viver na penúria. Há dez meses que vivo esta vida e o que importa é que consigo dar de comer aos filhos, pagar a renda da casa e a propina do meu primeiro filho”.
Engate
Já Josi, de 18 anos e Lucibele, de 16, colegas de Mirella explicam essa política afirmando que “barco parado não ganha frente”, isto é, estar ao pé dos balaios à espera do cliente faz parte do passado. É caso para dizer que elas “inovaram a prostituição em São Vicente” com uma reestruturação nos preços e na forma de prestar serviços.
“Ficamos à beira da estrada e quando passa um carro acenamos com a mão. Quando se consegue um engate, entramos no carro com um preço combinado e seguimos com o cliente para um local à beira-mar. É sexo rápido, por menos de 600 escudos e, às vezes, há um extra quando fazemos actos cujo segredo é o sucesso do nosso ofício” sublinham Josi e Lucibele.
Quadro
Os engates que fazem numa noite rendem-lhes dinheiro para sustentarem os filhos, a própria barriga e ainda sobra dinheiro para irem às discotecas e comprarem roupas e sapatos nos chineses para “estarem à altura” da concorrência.
O que chama a atenção para essas jovens que trocaram os bancos da escola, trabalhos de empregada doméstica ou uma vida sedentária nos bairros, é a forma como se vestem e se produzem para as noites de trabalho no Mindelo: “são charmosas, sempre com um sorriso no rosto, estão perfumadas, com roupas e sapatos à medida para encantarem os clientes e, acima de tudo, para a sua prevenção, só fazem sexo com preservativos”. Fonte: Aqui