sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

EDITORIAL: QUEM SERÁ VÍTIMA DO REGRESSO DE CADOGO AO PAÍS?

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Os observadores atentos da vida política nacional estão quase unânimes que um eventual regresso do antigo Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior (Cadogo) que se encontra, neste momento, exilado em Cabo Verde, produzirá um efeito político interno no partido de Amílcar Cabral cujas consequências poderão acabar por vitimar alguns altos dirigentes do partido da praça dos heróis nacionais.
 
O espectáculo de Músico Binhan “Lifanti Pupa” num dos Hotéis da nossa capital é um exemplo e uma prova inegável da metodologia de captação da voz dos militantes do PAIGC, em relação ao efeito interno do regresso do Cadogo a sua pátria, onde tem todo o direito de viver como qualquer outro guineense. Quando o músico anunciou que o antigo Primeiro-Ministro é um dos seus apoiantes na sua carreira musical, a água da piscina do referido Hotel estava quase a ser absorvida pelos gritos dos adeptos do Cadogo.
 
Neste momento, nas hostes do PAIGC vive-se numa situação híbrida do poder, em que os militantes do PAIGC não conseguem ver José Mário Vaz (Jomav) na sede do partido como um simples militante e não Presidente da República.
 
Domingos Simões Pereira como presidente do partido libertador será a primeira vítima do regresso de Cadogo. Porque a verdadeira oposição ao seu governo nascerá nas hostes do próprio PAIGC que poderá ser difícil domesticar como domesticou o Partido da Renovação Social (PRS).
 
Domingos Simões Pereira que se cuide. Ao invés, o obstáculo da sua governação será internamente no barril de pólvora onde se encontra neste momento sentado. Por isso, não deve perder agora de vista a sua tríade que os guineenses o conheciam dele (o Humilde, o Intelectual e o Patriota). A preservação desta tríade poderá ser um bom remédio para combater de uma forma simbólica os efeitos do regresso de Cadogo ao País. A outra saída, talvez a mais arriscada, é de entregar, pura e simplesmente, o telecomando ao Cadogo para este assumir o Zapping do seu governo não só nas políticas públicas nacionais como também na definição das estratégias de cooperação internacional.
 
Ao entregar o telecomando do Zapping do seu governo ao Cadogo, o actual Primeiro-Ministro assassinará a sua própria jovem carreira política e dos seus seguidores. Se é que ele realmente ainda tem seguidores nestas hostes dos libertadores.

 A exposição constante de Domingos Simões Pereira nos Media nacional e internacional deixa claro a percepção pública que o actual Chefe de Executivo está a perder progressivamente a sua tríade que os guineenses gostavam que ele preservasse na governação do país. Sem pensar muito nos efeitos dos seus signos discursivos nos Media, o Chefe do governo tem vindo assumir o protagonismo na imprensa que até relegou para o segundo plano quem foi dado inicialmente como porta-voz do governo, nesse caso o Ministro da Presidência do Conselho dos Ministros, Baciro Dja.
 
É preocupante ouvir o Primeiro-Ministro e presidente do Partido no poder, com uma maioria parlamentar, apelar aos militantes do mesmo partido para enterrarem “Machado da Guerra” até depois da mesa redonda de Março em Bruxelas. Domingos Simões Pereira e Jomav podem ter os seus problemas pessoais, mas devem respeitar a vontade do martirizado povo da Guiné-Bissau que não quer mais querelas que conduzam à órbita da instabilidade. O povo quer diálogo franco e concertação permanente na implementação das políticas públicas.
 
A segunda vítima do regresso do Cadogo ao país será Jomav que se encontrará numa situação complexa. Não terá espaço de manobra. O actual Chefe de Estado passará a viver naquela situação típica de “entre a espada e parede”. Porque, terá tendência ou a tentação de apoiar o seu camarada e antigo Primeiro-Ministro Cadogo na orquestração interna no PAIGC para subtrair o telecomando do Zapping do governo ao Domingos Simões Pereira. Mas, o resultado do seu apoio ao Cadogo acabará com as suas pretensões de se recandidatar às próximas presidenciais, porque o principal objectivo político do Cadogo é, sem margem para dúvida, de concorrer às próximas eleições presidenciais. Concerteza que Cadogo, que declarara como candidato natural do PAIGC, não aceitará que alguém no PAIGC se levantasse cabelinho que fará um dedinho a sua frente para dizer que é candidato ao pleito.
 
Todos os que estão a preparar-se para a festa da recepção do Cadogo, sabem muito bem que a única missão política deste homem agora é de ser o próximo Presidente da República, a todo custo. O que vedará a recandidatura do Jomav. Aliás, o próprio Jomav sabe muito bem que nas actuais hostes do PAIGC o regresso do Cadogo poderá apagar a sua estrela política, porque ainda não existe o jomavismo no PAIGC suficiente para fazer face ao cadoguismo urbano.
 
A terceira e a última vítima será o próprio Cadogo que terá que saber conduzir muito bem a sua intervenção na orquestração interna da subtracção do poder ou da assunção do telecomando do Zapping do governo de Domingos Simões Pereira. Porque, não obstante, que a sua tríade esteja um bocado beliscado com o seu discurso e algumas medidas públicas consideradas de populistas, Domingos Simões Pereira conseguiu devolver, em alguns meses de governação, ao PAIGC a sua base popular da luta armada da libertação nacional que o Cadogo o havia retirado quando assumiu a liderança do partido libertador da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
 
Cadogo poderá ser vítima do seu próprio regresso porque as bases populares dos libertadores poderão não aceitar pacificamente a sua recandidatura às próximas eleições presidenciais. Foi Cadogo quem transformou o PAIGC num partido urbano e elitista, ignorando quase por completo a sua base histórica que sempre foi e será sempre a força eleitoral do PAIGC. Aliás, os confrontos que o Cadogo teve com algumas figuras de proa do PAIGC, e filhos dos antigos combatentes da liberdade da pátria teve uma forte doce de insatisfação resultante desta urbanização política e elitista das bases do PAIGC.
 
Cadogo não tinha a noção clara de que um partido da libertação como o PAIGC com a história moldada nas florestas densas do interior, não deve se transformar numa força política urbana e elitista numa lógica do total aniquilamento da história revolucionária dos camponeses. Se calhar essa transformação do paradigma foi uma das razões de golpe de Estado que o derrubou em Abril de 2012. Porque as bases históricas do PAIGC viam o partido a escapar o seu controlo e reagiram com o golpe de Estado para o afastar antes que ele se chegue a Presidência da República.
 
Ninguém se deve estranhar quando os pequenos partidos políticos de oposição, sem o assento parlamentar, apelam ao regresso do Cadogo ao país. Todos têm a consciência de que o seu regresso criará internamente uma oposição silenciosa e invisível no PAIGC contra o governo de Domingos Simões Pereira. A ver, vamos!
 
António Nhaga
Diretor-Geral