Martinho Júnior, Luanda, IN PG
O contraste entre o deserto (a norte) e a existência de água (no centro e no sul) do continente, tem correspondência humana, sob os pontos de vista antropológico, histórico, social e religioso.
A faixa do Sahel é atingida por elevados índices de fome e desnutrição, que podem ser facilmente agravados quando há conflitos (por exemplo na Mali, no Níger, no Chade, ou no Sudão), o que faz aumentar o êxodo de populações.
No que diz respeito à religião a influência islâmica sunita estende-se a norte e a influência cristã junto à costa do Oeste e Golfo da Guiné, como no centro, no leste e no sul do continente, polarizando-se secularmente por via das colonizações.
A migração humana, dadas as características físico-geográficas-ambientais, existe a partir de países islamizados abrangidos pelo Sahara e Sahel, centrifugadas em direcção ao Mediterrâneo e ao sul do continente.
O centro-sul rico em água, catalisa (tal como o Mediterrâneo e a Europa) a recepção desses migrantes, ocorrendo áreas de constante tensão nos Grandes Lagos (entre nilóticos como os tutsis mais cosmopolitas e os bantus mais sedentários como os hútus, por exemplo), no Uganda, no Ruanda, no Burundi e nos Kivus, precisamente na região das grandes nascentes, dos Grandes Lagos, o coração equatorial-tropical de África.
Qualquer conflito gera êxodos em África, mas quando os ocidentais se fazem sentir com seu poderio bélico, os desgastes multiplicam-se e expandem-se; foi assim que ocorreu quando a Líbia foi atacada pelos interesses AFRICOM-NATO.
Os estados que compõem a União Europeia não colocam como causa as deliberadas desestabilizações em África e no Oriente Médio, nem com o caos, nem com as correntes humanas que fogem ao caos.
Também escondem que afinal Kadafi era um obstáculo importante que impedia a instalação do caos.
Mantendo um padrão de hipocrisia e de cinismo inexcedíveis, além de nunca fazer referência a esse tipo de nexos, os estados europeus raramente consideram os que chegam à Europa como refugiados de guerra, como refugiados políticos, ou como refugiados económicos… para a Europa eles são apenas “migrantes”, como se essas torrentes humanas ocorressem nesta escala antes das agressões!
Desse modo esses estados escondem de seus próprios cidadãos qualquer papel que tenham tido nessas agressões e na instalação do caos!
Essa hipocrisia e esse cinismo exponenciais, são ainda agravados por que a hegemonia unipolar, de que a União Europeia é agenciada, cultiva várias ementas de caos como medida destinada a aumentar a dose de domínio sobre os outros, tirando o máximo de proveito desse mesmo caos.
Se há muita mão-de-obra não qualificada nessas torrentes humanas, há também técnicos superiores e médios, professores de todos os níveis, médicos e enfermeiros, um rol imenso de capacidades que desse modo são “exfiltrados” de seus países, onde fazem tanta falta.
A “fuga de cérebros”, que se incrementou com o caos, é um efeito directo, indirecto, ou “colateral”, pois as regiões que sofreram e sofrem os impactos do caos, uma vez desestabilizadas, não podem garantir suas actividades, seu trabalho e o exercício do seu papel humano nas sociedades e nas comunidades.
A dívida para com os povos do terceiro mundo alvos do caos premeditado, do caos produzido em laboratório, em África e no Médio Oriente, jamais será ressarcida e o colapso provoca o protelamento em muitos anos, da possibilidade de criar desenvolvimento sustentável, tendo em conta o que por vezes foi alcançado com tanto sacrifício por via de sucessivas gerações e foi destruído.
Há casos, como os de Tombuctu, ou Palmira, onde até bibliotecas seculares e monumentos que são património da humanidade, são destruídos irremediavelmente!
A outra faceta do problema está nas redes que fazem do êxodo um objecto de lucro, por vezes utilizando meios que não podem garantir o mínimo de segurança, como acontece na travessia do Mediterrâneo, onde os desastres ocorrem amiúde.
Os dispositivos navais europeus são insuficientes para fazer face a todos os problemas e a União Europeia recolhe uma parte do “efeito boomerang” das guerras que expandem o caos em África e no Médio Oriente, arcando com um enorme fardo de responsabilidades.
O Mediterrâneo tem-se vindo a transformar num cemitério e as mortes acrescem às vítimas directas e indirectas da expansão do crime contra todo o tipo de direitos humanos, de que o AFRICOM-NATO são os principais responsáveis!
Mapas:
1 – “Mortes de migrantes por região”;
2 – Êxodo humano fugindo ao caos;
3 – Fuga de cérebros no mundo.