sexta-feira, 12 de agosto de 2016

RACISMO: "O MACACO SAIU DA JAULA EM LONDRES E FOI CAMPEÃO NO RIO DE JANEIRO"

Cansados dos insultos e ataques racistas, muitas vezes por parte de seus próprios compatriotas, os atletas brasileiros que participam nos Jogos do Rio resolveram contra-atacar.
 
"Esta medalha é para todos os que disseram que eu tinha que estar numa jaula", declarou na segunda-feira, com lágrimas nos olhos e de medalha de ouro ao pescoço, a judoca Rafaela Silva, de 24 anos, instantes depois de vencer na categoria de 57 quilos, competição em que a portuguesa Telma Monteiro foi medalha de bronze.

"Sirvo de exemplo para crianças da comunidade, que só por serem negras já são mal vistas. Você passa na rua e a mulher já tira a bolsa perto de você achando que você vai mexer", desabafou a atleta, desclassificada em Londres-2012 por um golpe ilegal e então vítima de uma onda de ataques racistas nas redes sociais.

Cerca de 52% dos 204 milhões de brasileiros são negros ou mulatos, e sofrem com os ecos da escravidão até os dias de hoje. 

Os brasileiros podem ser muito duros com os seus atletas. Muitos jogadores sofrem insultos racistas no campo ou na internet, inclusive por parte dos adeptos do seu próprio clube.
Nos estádios olímpicos de Rio-2016 há basicamente brancos. Os negros são o pessoal de limpeza, agentes de segurança e os próprios atletas.

Depois da sua desclassificação em Londres, Rafaela passou por um período de depressão."Não foi a derrota que me afectou. Foi o racismo", explicou.

Mas, para chegar até o ouro, Rafaela lançou-se numa nova disputa: combater o racismo com a arma da sua nova popularidade. "O macaco saiu da jaula em Londres e foi campeão no Rio de Janeiro", disparou numa conferência sobre racismo.

Rafaela lamentou que quando saem notícias na imprensa sobre negros, geralmente é "sobre um negro assaltando alguém".

"Agora não é um negro que está assaltando, e sim dando alegria ao povo brasileiro. Quero mostrar que temos coisas boas e não apenas ruins", insistiu.

O governo preparou um desdobrável bilíngue intitulado "Olimpíadas sem racismo" para distribuir nos complexos olímpicos do Rio.

"Precisamos lutar (...) quero o povo negro no comando deste país. Quero ver negro deputado, senador, governador, médico, engenheiro, juiz, ministro de Estado", afirmou na mesma conferência Luislinda Valois, a primeira juíza negra do país e hoje secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do governo interino de Michel Temer.

O desdobrável explica que o racismo é um crime, dá pistas para identificá-lo e indica o que fazer no caso de ser vítima de racismo ou injúria racial.
 
Atacada pela sua origem e por ser de esquerda

A nadadora Joanna Maranhão também foi atacada duramente na terça-feira, nas redes sociais, depois de perder na natação e ser eliminada dos Jogos

"Não é possível que alguém te deseje que você seja violada ou morta. Não precisam gostar de mim, mas é preciso ter respeito", afirmou, chorando depois da derrota.

Joanna não é negra, mas foi atacada por sua origem - Recife, nordeste do país - e por ser de esquerda.

"O Brasil é um país machista, um país racista, um país homofóbico, um país xenófobo. Não estou generalizando, mas há pessoas assim, infelizmente", declarou, assegurando que o seu apoio ao partido PSOL, de extrema-esquerda, não mudará.

Ela anunciou no Twitter que o seu advogado apresentará queixas contra as pessoas que a agrediram e que, com o dinheiro que ganhar de indemnização, ajudará uma ONG de luta contra a pedofilia, a Infância Livre.

Fonte: Aqui