quinta-feira, 30 de março de 2017

HOSPITAL DE PITCHE SEM SALAS PARA INTERNAR DOENTES

[REPORTAGEM] O setor de Pitche, Região de Gabú, leste da Guiné-Bissau, tem apenas quatro profissionais de saúde para fazer cobertura a uma população estimada em 45.594 (quarenta cinco mil quinhentos noventa e quatro) habitantes. Também não tem nenhuma sala e camas para internar os pacientes que todos os dias se deslocam até ao hospital, a procura de cuidados de saúde.
 
Além do número reduzido de pessoal de que dispõe, o centro de saúde de Pitche não tem uma única sala para internar pacientes. Tem apenas uma cama, onde se faz quase tudo, desde pequenas cirurgias, curativos e outras assistências.
 
Pitche tem quatro enfermeiros entre eles, um técnico de laboratório e uma enfermeira que trabalha como enfermeira-parteira.
 
O centro de saúde de Pitche é um pequeno anexo, cujas dimensões não ultrapassam os oito quartinhos. Esse fato constitui um enorme obstáculo para a população local, assim como para os profissionais de saúde afetos ao hospital, que se deparam com falta de espaço para atenderem adequadamente os doentes.
 
No centro sanitário onde falta tudo, a equipa de reportagem do jornal ‘O Democrata’ viu uma grande procura. Os utentes que ali estavam quase ocupavam todo o espaço da varanda. Entre elas encontravam-se jovens, homens, mulheres e crianças acompanhadas das mães.
 
Tem marquesas rotas e a maternidade tem apenas duas camas. Sobre esta situação, o responsável da área sanitária de Pitche, Cesar Alberto da Silva, contou à nossa equipa de reportagem que as vezes dão luz no centro três ou quatro grávidas num só dia, acrescentando que o centro não tem condições de dar assistências e seguimento às mães devido a falta de meios e de espaço.
 
“As mães que dão luz aqui são obrigadas a deixar o centro de saúde antes do tempo adequado, porque não temos camas para lhes acolher, por isso, têm que ir para as casas de familiares. Se houver uma urgência, elas voltam de novo ao hospital. Nem temos as mínimas condições de seguir as mães pelo menos 24 horas depois do parto, para nos inteirarmos do seu estado. São obrigadas a ir embora”, lamentou.
 
O hospital de Pitche recebe muitos casos de paludismo nos adultos, assim como nas crianças. A pediatria conta apenas com uma cama, que muitas vezes acolhe três até quatro crianças. É a única cama destinada às crianças neste centro de saúde.
 
Os enfermeiros do centro atendem até quarenta pacientes diariamente, isto é, um enfermeiro atende 40 doentes num só dia. Pitche tem uma população que procura o centro sanitário, motivo pelo qual, os técnicos de saúde local trabalham todos os dias, mesmo aos sábados e domingos.
 
Cesar pediu ao Ministério de Saúde Pública que agilize e faça alguma coisa em relação à situação do centro de saúde de Pitche, enviando pelo menos um médico e mais enfermeiros.
 
“Não podemos continuar nessa situação, onde um enfermeiro atende até quarenta a cinquenta pacientes por dia, enquanto que alguns centros de saúde em Bissau têm mais de dois médicos e muitos enfermeiros que não fazem nada. Aqui no interior a situação é bem grave. As estradas não são boas e temos muitas dificuldades em evacuar os doentes nesta área sanitária”, explica Da Silva.
 
Os doentes que habitam nas aldeias distantes do centro de cidade de Pitche, caso necessitem de um internamento, são obrigados a estender alguma coisa no chão, seja pano ou qualquer peça para poderem ficar no centro de saúde. Já para os moradores da cidade muitos internam em suas casas.
 
O hospital de Pitche tem uma ambulância para evacuar os doentes caso seja necessário, mas o veículo recém-reparado não tem as baterias. Arranca apenas com empurrões de pessoas ou a reboque de um outro veículo. Se parar no caminho, o pessoal do hospital recorre a população da zona para empurrá-lo.
 
Recentemente, em fevereiro, uma tentativa de evacuar uma mulher grávida para Hospital Regional de Gabú correu mal. Ela acabou por falecer no caminho. Segundo os responsáveis do centro, a ambulância saiu de Pitche às vinte e três (23) horas, mas quando chegou a Gabú às duas da manhã, a grávida já estava morta.
 
Setor de Pitche apresenta mais casos de doenças como paludismo, bronquite, diarreia e infeções respiratórias.
 
O centro não dispõe de um lugar para as sensibilizações e aconselhamentos sobre VIH/SIDA, mas faz tratamento do vírus da sida.
 
Pitche apresenta mais os casos de HIV1, sendo um setor situado numa zona que faz fronteira com as duas repúblicas vizinhas, a Guiné-Conacri e o Senegal. É considerado pelos técnicos de saúde com sendo uma área vulnerável às contaminações do vírus da sida.
 
O hospital de Pitche tinha um médico, mas foi transferido para Gabú sob o pretexto de que o hospital regional estava com falta de médicos. Isso deixou o centro local sem médico.
 
POPULARES DE PITCHE LAMENTAM FALTA DE CONDIÇÕES DO CENTRO
 
A nossa reportagem registou a opinião dos pacientes que procuram o centro de saúde para se tratarem. Um dos entrevistados revelou ao ‘O Democrata’ que o centro de saúde não pode responder a todas as necessidades da população de sector.
 
“O centro de saúde é muito pequeno para a população e os funcionários também são muito reduzidos, por isso não conseguem dar cobertura eficiente. Este sector tem duas fronteiras e com um grande número de habitantes”, notou, para depois realçar a necessidade de aumentar o pessoal de saúde e a capacidade do centro.
 
O entrevistado denunciou que ficam horas a espera de serem atendidos no centro e que muitas vezes acabam por regressar para casa sem serem atendidos. Depois voltam no dia seguinte para tentar a sorte.
 
Uma mulher que levou a sua filha de um ano à consulta contou que o atendimento do hospital é muito moroso, por causa dos técnicos insuficientes para cobrir outros serviços. Lembrou ainda que a questão da morosidade registada no centro originou a morte de muitas crianças.
 
Explicou ainda que não conseguem internar no hospital mesmo que a doença seja grave e que precisem de cuidados intensivos de um médico, porque o centro não possui condições de internamento.
 
“Se ficar em casa com o paciente e se este vier a complicar-se a altas horas, os familiares ficam a espera da sorte e que o paciente não morra”, lamenta.
 
 
Por: Alcene Sidibé 
Fotos: Sene Camará
Fevereiro de 2017, enviados especiais de O Democrata na zona leste