quinta-feira, 23 de março de 2017

POPULARES DE PIRADA ‘VACINADOS’ A SUPORTAR PROBLEMAS SOCIAIS CLAMAM POR ÁGUA POTÁVEL

Os populares do Sector de Pirada, região de Gabú no Leste do país, pedem água potável, infraestruturas escolares, rodoviárias e o aumento de técnicos para o único centro de saúde que dispõem para mais de 29 mil habitantes do sector. Pirada é constituído por cinco secções e a pequena cidade de Pirada, conta com mais de cinco mil habitantes, na sua maioria comerciantes, criadores de gado, bem como de pessoas que desempenham pequenas atividades agrícolas.

O sector de Pirada fica à 56 quilómetros da cidade de Gabú e é considerado uma das zonas mais quentes do país, como também é fortemente ameaçado pelo deserto. O rio que passa pelo sector e que “regava” algumas bolanhas daquela zona e que era aproveitado como regadio e que dava água para os animais, encontra-se neste momento totalmente escorrido, o que obriga os criadores dos animais à percorrerem quilómetros a procura de água.

De acordo com a população local, a falta de água, melhor dito, a seca que ameaça o sector tem a ver com o fecho do rio [no território senegalês] por parte das autoridades daquele país vizinho.

POPULARES DE PIRADA SENTEM-SE ESQUECIDOS PELAS AUTORIDADES GUINEENSES    


A preocupação dos populares deste sector foi manifestada ao Chefe de Estado da Guiné-Bissau, aquando da sua passagem pelo sector no âmbito da ‘Presidência Aberta’ na semana passada, para se inteirar da situação de vida das populações. O Chefe de Estado informou igualmente aos populares das razões da crise política e parlamentar que assola o país há cerca de dois anos.

Uma das maiores preocupações da população local e que querem que seja resolvida em curto prazo é a questão da falta de água potável, o que afecta negativamente as suas vidas e as dos seus animais. A cidade dispõe de um depósito de 15 mil litros para cobrir a necessidade de mais de cinco mil habitantes.

O depósito instalado conta com sete fontenários usados para bombear água. Segundo a população local, isso é insuficiente tendo em conta as suas necessidades e se se tomar em conta as movimentações das pessoas naquele sector que se situa na linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e o Senegal.

Conforme as pessoas abordadas pelo repórter, o sector de Pirada foi esquecido pelas autoridades centrais que apenas se lembra delas nestas circunstâncias de propaganda política. Contaram ainda que Pirada é um sector estratégico para a economia do país, por isso devia merecer certa atenção das autoridades e, sobretudo estas deviam trabalhar para melhorar a vida das pessoas que lá vivem.

A população local entende ainda que as autoridades guineenses têm obrigação de melhorar as suas vidas, pelo menos que lhes ajudem com a água potável e que façam furos de água para os animais. Muitas vezes as mulheres brigam por água nos fontenários, que são abertas a partir das 12 horas.

ESTRADA DE PIRADA NÃO BENEFICIA DE OBRAS DE REPARAÇÃO DESDE A INDEPENDÊNCIA

A estrada que liga o sector à cidade de Gabú é a via mais usada para a entrada de camiões que transportam mercadorias a partir do Senegal para o território nacional, sobretudo para a capital Bissau.

A cidade é muito frequentada por comerciantes que usam a mesma via para ir fazer compras no Senegal. Muitas vezes os comerciantes passam a noite na cidade, ou seja, na paragem até o dia seguinte para prosseguir a viagem.

Ainda de acordo com as informações apuradas, a estrada de pirada contribui muito para o crescimento do Produto Interno Bruto da Guiné-Bissau, razão pela qual a população local exige a sua reabilitação.

Aliás, uma preocupação igualmente levanta por José Mário Vaz, que deixou orientações claras ao executivo através do titular do pelouro das Obras Públicas, Marciano Silva Barbeiro, presente no local, advertindo-lhe que a estrada deve ser reabilitada e que ele (Presidente da República) voltaria aquela zona no período da campanha eleitoral, mas antes quer que o troço que liga o sector de Pirada e a cidade de Gabú seja totalmente reabilitado.

RÉGULO DE PIRADA PEDE PRIMEIRO ÁGUA POTÁVEL, DEPOIS A REABILITAÇÃO DA ESTRADA

O Régulo de Pirada, Serifo Só, contou ao repórter do semanário ‘O Democrata’ que viveu naquele sector mais de 40 anos e nunca testemunhou uma obra de reabilitação do troço. Afiançou neste particular que a maior preocupação da população de momento é a falta da água potável bem como água para os seus animais, por isso apelou às autoridades que comecem primeiro com os furos de água, bem como melhoria de condição do funcionamento do centro de saúde e depois pode-se avançar com a reabilitação da estrada.

Sobre o fecho do rio no território senegalês, Serifo Só apelou às autoridades guineense e em particular ao Chefe de Estado para usar a sua influência junto do governo senegalês no sentido de se encontrar uma solução que seja benéfica para os dois países, porque a “seca já está a ser sentida fortemente pela população”.

“O rio já não tem água neste período e as bolanhas estão secas. Os nossos animais sofrem com isso. É urgente resolver essa situação na base de boa vizinhança, porque se não a seca tomará a conta do sector. O sector é muito quente e eu percebi que o nível da temperatura aumenta a cada dia neste momento. Também fazemos parte da população deste país, portanto merecemos uma atenção especial do governo”, assegurou o régulo.

Relativamente à situação do ensino, o régulo informou que o sector possuía apenas o ensino primário (1ª a 4ª classe), mas que nos últimos tempos foi estendido para o ensino básico complementar, ou seja, de 1ª classe a 6ª classe.

“Aqui na vila de Pirada temos cinco escolas e todas são do ensino básico unificado. E contamos ainda com uma escola gerida pela ONG PLAN, que tem quatro salas de aulas. As autoridades alegam que o sector não possui o número suficiente de alunos que implicasse a implementação do ensino secundário (Liceu), mas nós discordamos. Imaginem quantos alunos saem daqui para continuar o ensino secundário no sector de Gabú. Se houvesse um liceu aqui, certamente que iriam construir mais infraestruturas escolares para albergar os alunos”, notou.

Revelou ainda que o maior problema enfrentado neste sector tem a ver com a falta de infraestruturas escolares, o que permitiria a abertura de mais salas de aulas e consequentemente o alargamento do nível de ciclo para liceu, pelo menos até a nona classe (ensino secundário).

Explicou, no entanto, que o sector foi totalmente abandonado pelos sucessivos governos, porque “desde a independência até à data presente os sucessivos governos não fizeram nada para desenvolver o sector de Pirada, sobretudo no concernente às questões da educação, saúde, infraestruturas rodoviárias e a questão da água potável”.

“Desde a independência, cada vez que recebemos a visita de um Chefe de Estado, tanto do Presidente Nino Vieira, Koumba Yalá e Malam Bacai Sanhá, fizemos os mesmos pedidos. Transmitimos as nossas preocupações no concernente a falta da água potável, saúde, educação e a infraestruturas rodoviárias, mas nunca essas preocupações foram resolvidas. Não vamos deixar de pedir ou de transmitir a nossa preocupação, porque Pirada faz parte deste país e as autoridades têm obrigação de resolver a nossa situação”, defendeu o régulo.

Em relação a situação da saúde, Serifo Só informou que o edifício do centro de saúde está em boas condições, dado que beneficiou de uma reabilitação em 2012, com o apoio de um país amigo da Guiné-Bissau. Contudo, assegurou que o centro trabalha com limitações em termos de pessoal técnico para cobrir todo o sector.

Avançou ainda que o número das pessoas que recorrem ao serviço do centro ultrapassa a capacidade de atendimento do mesmo, razão pela qual apela às autoridades do país no sentido de aumentar o número de técnicos e mais serviços no centro, para que assim possa corresponder às necessidades da população que tem vindo a crescer.

“O que nos envergonha mais aqui é transportar um doente para uma vila no Senegal, Nhanau. Esta vila fica a 8 (oito) quilómetros de Pirada, mas tem um centro de saúde com melhores condições em termos técnicos. Muitas vezes preferimos viajar até lá, em vez de Gabú que é muito mais longe. Para ir até Nhanau gastamos muito dinheiro, porque paga-se o aluguer do carro e as consultas. É urgente criar condições para os nossos hospitais, porque a saúde é muito importante e sem ela não conseguiremos fazer nada”, disse.


Por: Assana Sambú