As ditaduras em África nunca acabarão, embora haja a tendência para que o seu número diminua, afirmou, na Cidade da Praia, o ex-presidente da Assembleia da República portuguesa António Almeida Santos.
Em declarações aos jornalistas, à margem do fórum "Cidadania e Integração Regional", que decorreu sábado na capital de Cabo Verde e que serviu também para celebrar o 80.º aniversário do ex-presidente cabo-verdiano Pedro Pires, o dirigente político socialista defendeu, por isso, que África tem de fazer o seu caminho "sozinha".
"(As ditaduras) nunca acabarão. Vai continuar uma ou outra, mas haverá cada vez menos. Hoje, o número de ditaduras em todo o mundo é muito restrito do que há alguns anos", sublinhou Almeida Santos, que foi ministro da Administração Interterritorial português e quem negociou a descolonização nas antigas colónias portuguesas da Guiné e Cabo Verde (1974) precisamente com Pedro Pires.
"África tem de fazer o seu caminho sozinha. Ninguém vai tirar as castanhas do lume para lhas dar. Ninguém se iluda sobre isso. África tem, com a sua juventude, com a sua experiência, que já é alguma, de encontrar os caminhos do seu futuro, que não são os mesmos da Europa nem de qualquer outra região do mundo", defendeu.
E o futuro, "para onde já caminha", acrescentou, passa pelo facto de a natureza "ter sido generosa" com o continente, ao proporcionar-lhe uma "riqueza incalculável" como petróleo e diamantes.
"Hoje, das grandes fontes de riqueza no mundo, África tem cerca de um terço".
"Tem de rentabilizar essa riqueza que a natureza lhe deu e não a desperdiçar. Mas não tem de seguir os caminhos de quem não tem essa riqueza. Tem de seguir os caminhos de quem a tem. Penso que África vai ter um futuro brilhante, cada vez mais brilhante nos próximos anos", observou.
Sobre Pedro Pires, com quem mantém uma amizade de quase 40 anos, Almeida Santos disse tratar-se do "irmão" que nunca teve, lembrando que a descolonização de Cabo Verde foi feita pelos dois, "sozinhos".
"Tanta coisa que tenho para dizer. Trabalhamos muito quer na descolonização da Guiné-Bissau quer sobretudo na de Cabo Verde. A descolonização de Cabo Verde foi feita por nós os dois, sozinhos. Isto marca uma vida e uma amizade. Desde então que o considero como o irmão que não tive. É ele o meu irmão. Tive só irmãs, felizmente, mas não tive um irmão", afirmou.
Por essa razão, brincou, é que considerou uma "crueldade" só ter cinco minutos, os mesmos a que a quase uma dezena de oradores tiveram direito no fórum, para falar de uma "profunda amizade" de quase quatro décadas.