A
ascensão de 35 milhões de brasileiros à classe C passou a se refletir nas
telenovelas brasileiras, mas os negros e mestiços “ainda não têm espaço” nos
papéis mais prestigiosos, constata a revista francesa Télérama na edição desta
semana. A publicação, especializada em cultura, traz um especial de 29 páginas
sobre o Brasil.
Na
reportagem sobre as telenovelas, intitulada “A vida de branco”, a Télérama
explica que a novela Avenida Brasil trouxe para a telinha as
mudanças sociais da última década no país, ao ter uma cozinheira como
protagonista e um salão de beleza de subúrbio de cenário. Mas apesar de
deslocar a trama das mansões para a classe C, o “elenco permanece
monocromático, embora a maioria das novas classes médias seja formada por
negros e mestiços”, afirma a revista. Neste momento, Avenida Brasil está
sendo exibida no canal francês France ô.
A
constatação é uma prova de que “a democracia racial é um mito no Brasil”,
conforme o texto. De acordo com especialistas ouvidos pela publicação,
entretanto, “aos poucos os tabus das novelas começam a cair” no Brasil, a
exemplo do primeiro beijo entre homossexuais, exibido em janeiro, em Amor à
Vida.
Retrato do Brasil às vésperas da Copa do Mundo
O
especial sobre o país se inicia com uma entrevista com o cineasta Walter
Salles. A revista também convida quatro “artivistas” brasileiros a retratarem o
Rio de Janeiro de hoje, uma cidade “em plena mutação, cheia de contradições e
onde cada um procura suas marcas”. Coube ao escritor João Paulo Cuenca, à
cineasta Sandra Kogut, ao grafiteiro Toz (Tomaz Viana) e ao designer Marcus
Wagner descreverem como evolui o Rio de hoje onde, “em meio ao caos, uma
frase-chave é sempre repetida: tudo vai estar pronto nas Olimpíadas”, conforme
Kogut.
A
Télérama ainda apresenta aos franceses as novas vozes do rap paulista, “poético
e guerreiro, moderno e ancestral, digital e acústico”. Criolo, afirma o texto,
“encarna melhor do que ninguém a potência lírica e criativa das periferias que
inflamam os centros das cidades”.
A
publicação, referência em crítica de cinema e televisão na França, vai atrás
dos astros que estrelaram o sucesso internacional Cidade de Deus e constata que
o filme “formou uma geração de atores”. Já a favela Cidade de Deus, relata,
“conhece um renascimento cultural, mas o tráfico continua”, assim como a
violência. As iniciativas de pacificação, observa a revista, “trocaram as armas
dos traficantes pelas dos policiais”. RFI