domingo, 1 de fevereiro de 2015

30 de Janeiro: HEROÍNAS DA LUTA ARMADA IGNORADAS PELOS COLEGAS DA LUTA

30janeiro
Uma equipa de reportagem do semanário O Democrata ouviu as testemunhas de algumas mulheres que decidiram dar as suas vidas aos 15 anos da idade para a causa da independência, mas que actualmente se sentem ignoradas pelos colegas da luta bem como por parte das autoridades. Essas ex-combatentes, heroínas vivas da nossa luta, entendem que as autoridades nacionais não souberam reconhecê-las, elas que tanto lutaram pela libertação do povo guineense. Trata-se das ex-combatentes, professora Maria Teresa Cabral e a radista da luta Maria Fernanda Vieira que atualmente enfrentam enormes dificuldades para viverem o seu dia-a-dia.
 
A professora reside numa casa arrendada sem nenhumas condições de habitabilidade, o que não dignifica esta senhora que dedicou a sua vida para a causa da independência. A radista mora em casa própria no sector de Safim (região de Biombo). A casa tem um telhado de chapas de zinco, mas que está totalmente danificado. De acordo com a radista, na época das chuvas ela é obrigada a ficar de pé com os seus filhos quando chove, porque as chapas estão em más condições e metem água por todos os lados.
 
Maria Teresa Cabral, ex-combatentePROFESSORA COMBATENTE DA ESCOLA PILOTO SENTE-SE ESQUECIDA PELOS COLEGAS DA TRINCHEIRA
A combatente, que se ocupava da educação das crianças na Escola Piloto bem como dos estudantes na República de Cuba, contou a nossa reportagem que atualmente se sente ignorada e não reconhecida pelos seus colegas de luta, tendo ainda garantido que muitas pessoas que passaram pelo poder no pós-independência foram alunos da Escola Piloto ou estudaram em Cuba.
Maria Teresa Cabral disse que faz parte do primeiro grupo enviado para estudar em Cuba, concretamente na cidade de Havana. Explicou ainda que se formou na área de Educadora Infantil e que desempenhou as funções da responsável dos estudantes enviados para estudar neste país sul-americano nas diferentes especialidades.
Acrescentou que para além das funções de responsável dos estudantes e cuidava também das crianças guineenses órfãs que se encontravam em orfanatos em muitas cidades cubanas. Explicou ainda que durante visitas às crianças os temas das conversas eram as razões da luta armada da libertação nacional.
 
“Passei oito anos em Cuba para servir os estudantes enviados pelo partido, ao mesmo tempo desempenhei um papel importante na sensibilização dos soldados enviados para o treinamento militar”, vincou.
 
Maria Teresa Cabral assegurou que regressou ao país em 1975. Lamentou a morte do líder de guerra, Amílcar Cabral, que considera ter sido uma perda grande para o país.
“A morte de Cabral foi uma perda grande para o nosso país, sobretudo nós que tivemos a oportunidade de trabalhar com aquele homem. Sabemos que contribuição daria para o desenvolvimento do nosso país, se ainda estivesse vivo”, asseverou.
 
Declarou que existem muitos ex-combatentes, desconhecidos, que deram brilhantes contribuições para a independência da Guiné-Bissau, mas que foram simplesmente esquecidos ou ignorados por colegas que tiveram a oportunidade de estar no poder.
A professora combatente afirmou que depois da independência todos vieram para a cidade, e que alguns dos ex-combatentes se envolveram depois em actos de fuzilamento de camaradas por causa do poder. Teresa Cabral assegurou que nenhum combatente é superior a outro, porque todos deram as suas contribuições para a libertação do país e de diferentes formas.
 
“Cabral dizia que mesmo aqueles que cozinhavam para os guerrilheiros eram combatentes, por isso não se devia ignorar ninguém. Os que tiveram a oportunidade de chegar ao poder não deveriam pensar que são combatentes mais do que os seus companheiros porque se trata apenas de uma questão de oportunidade. Os próprios dirigentes do partido que conduziu a luta não nos reconhece como combatentes. Depois da independência passaram a preocupar-se mais com os seus interesses”, lamentou a ex-combatente.
 
BIOGRAFIA:
 
Maria Teresa Cabral nasceu em 15 de Outubro de 1950. Foi responsável pelas crianças da escola piloto na Guinée-Conakri e chegou a desempenhar o papel da tradutora da língua portuguesa na China. Em 1975 exerceu a função da directora de Jardim infantil de Bolama e de responsável da Juventude Amílcar Cabral (JAC). Em 1984, foi directora da Escola Internato Titina Silá na Base Aérea. Reformou-se em 1991.
 
Maria Fernanda Vieira, ex-combatenteRADISTA DA LUTA AFIRMA QUE SACRIFICOU A VIDA PARA A LIBERTAÇÃO DO POVO GUINEENSE
 
A ex-combatente, Maria Fernanda Vieira, que desempenhava as funções de radista na luta armada da libertação nacional, contou à reportagem do semanário “O Democrata” que aceitou sacrificar a sua vida para a libertação do povo guineense do jugo colonial. Explicou também que o povo guineense estava totalmente escravizado pelos colonialistas portugueses.
 
Maria Fernanda Vieira contou a nossa reportagem que foi dos primeiros alunos da escola piloto. Mas abandonou os estudos aos 15 anos de idade para aderir à luta armada de libertação nacional vindo a desempenhar as funções de radiotelegrafista.
 
Aquela combatente afiançou que desempenhava a função de radiotelegrafista na altura com orgulho e determinação, porque estava fazê-lo por uma causa justa que é a libertação do povo guineense.
 
“A minha função era muito ariscada e difícil, mas aceitei enfrentar tudo isso para que o nosso país fosse livre e independente”, assinalou a ex-combatente que confessou a nossa reportagem que inspirava-se na heroína Titina Silá, que considerava uma mulher corajosa e determinada e que lutava na frente com os homens.
 
Assegurou que apesar de todos os sacrifícios consentidos, os governantes não reconheceram os combatentes como pessoas que deram as suas vidas para que o povo guineense pudesse tornar-se livre e independente do jugo colonial.
 
“Os combatentes recebem fundos de pensão de 20 mil francos que nem sequer chegam para garantir a sobrevivência de uma família durante uma semana. Merecemos respeito, honra e dignidade como pessoas que aceitaram sacrificar a sua juventude para a independência”, afirmou.
 
Maria Fernanda Vieira disse que os combatentes enfrentam uma vida de miséria e de abandono por parte dos governantes, por isso voltou a trabalhar como a radista da FISCAP a fim de poder garantir a sobrevivência da sua família.
 
BIOGRAFIA:
 
Maria Fernanda Vieira nasceu no dia 13 de Fevereiro de 1955, em Catió (região de Tombali). Foi para a luta com apenas 15 anos da idade, quando foi chamada da escola piloto para desempenhar a função da rádio telegrafista. Fernanda Vieira encontrava-se na barraca da povoação de Calaqui, dirigida pelo falecido Presidente, General Nino Vieira.
 
Depois da luta de libertação nacional, foi colocada no quartel da Marinha de Guerra Nacional para desempenhar as mesmas funções em 1974. Após algum tempo no interior do país, conseguiu transferir-se para Bissau onde trabalhou em alguns quartéis. Desmobilizou-se em 1991 e actualmente trabalha como radiotelegrafista da FISCAP
 
Por: Aissato Só/Rafaela Iussufi Quetá