terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ANGOLA: DIRECTOR DA DNIC IMPEDE INVESTIGAÇÃO DE ASSASSINATOS PRÁTICOS POR OPERATIVOS SOB SEU COMANDO

O director nacional da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), comissário-chefe Eugénio Pedro Alexandre, é acusado de estar  a impedir, pessoalmente, a investigação criminal dos assassinatos de três jovens indefesos, a 3 de Junho passado, no Golfe II, por operativos sob seu comando, afectos à Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC).
 
Fonte: Club-k.net
 
A 7 de Dezembro passado, a DPIC promoveu uma acareação com as testemunhas oculares do assassinato dos três jovens, a dois passos do portão da casa de Helena Zua, que testemunhou a morte de dois jovens. A sua filha Joice, assistiu à execução do irmão Damião Zua “Dani”, o primeiro a ser assassinado pelos operacionais.
 
Joice contou, na altura ao Maka Angola, o que aconteceu: O seu irmão Dani, que se encontrava no seu quarto, pediu-lhe para ir atender a porta. Joice saiu à rua, ouviu um estrondo e viu uma viatura Hyundai Accent imobilizada, com dois ocupantes, na esquina da rua, enquanto um viatura Toyota Hiace bloqueava a estrada e alguns dos seus ocupantes saíam armados. O seu irmão saiu de casa e dirigiu-se ao carro, ao reconhecer que era um amigo que ia ao volante, para ver o que se passava.
 
Segundo Joice, “os agentes deram dois tiros para o ar, para afugentar as pessoas, e depois dispararam contra o meu irmão. Um tiro atingiu-o na cabeça e outro na virilha”.
 
“Comecei a gritar ai, meu irmão! Ai, meu irmão! O meu irmão levantou a cabeça olhou-me apenas e morreu. Eu estava a gritar demais”, disse a irmã.
 
“Depois de matarem o meu filho, que foi o primeiro e a poucos passos de casa, eu saí à rua ao ouvir os gritos da minha filha. Eu reconheci o Sr. Vasco, da investigação criminal [Grupo Operativo da 32ª Esquadra]. Eu vi o Sr. Vasco a disparar contra o carro e a dizer para os outros recuarem”, explicou Helena Zua, na altura, ao Maka Angola.
 
A mãe enlutada reconheceu um dos membros do “esquadrão da morte”. “O Sr. Vasco frequentava muito este bairro. É muito conhecido aqui na zona. Eu conheço-o bem”.
 
Segundo Helena Zua,  “eles vieram num [Toyota] Hiace azul e branco que primeiro estacionou mesmo junto ao meu portão. Desceram seis camaradas, deram dois tiros no ar e depois é que começaram a matar os rapazes. Depois de muitos gritos da vizinhança, eles meteram-se no carro, aos tiros, e foram.”
 
Do lado dos supostos autores do crime, compareceram também, para além do agente Vasco e outros membros da sua equipa, a comandante Maria Helena, da 32ª Esquadra, a partir da qual o esquadrão da morte da DPIC tem actuado.
 
Todavia, a presença de um advogado da Associação Mãos Livres, que acompanhava as famílias dos assassinados, causou a suspensão, por tempo indeterminado, do processo. A investigação criminal não queria que a acareação tivesse lugar na presença de um advogado.
 
O Club-K soube, de fonte policial, que a 13 de Dezembro passado, o director nacional Pedro Alexandre, indeferiu a tramitação do caso de processo de averiguação para processo crime.
 
Para o comissário-chefe Pedro Alexandre, o caso deve ser tratado apenas pelo gabinete jurídico do Comando Provincial de Luanda, como um mero processo de informação disciplinar.
 
Por outro lado, o mesmo director da DNIC tem feito movimentos no sentido de instaurar um processo disciplinar contra o agente policial que denunciou a operação de assassinato, ilibando assim os seus autores e mandantes.
 
Qual é o suposto crime do agente que denunciou a operação?
 
O último jovem a ser morto, Manuel Contreirias, pernoitara em casa do irmão mais velho Tiago Contreiras que, na altura, era o primeiro subchefe do Posto Policial do Fubu, no município de Belas.
 
Depois dos assassinatos, Tiago Contreiras foi chamado pelo oficial Beto Kinjila, chefe da Linha Operativa do Kilamba Kiaxi.
 
“O chefe Beto informou-me de que o grupo operativo, comandado pelo Toledo, tinha abatido três marginais no Golf e ordenou-me para ir com uma patrulha fazer a remoção dos corpos. Eu disse que aquela zona era da responsabilidade da Unidade do Kilamba Kiaxi e saí para cuidar de outra missão”, disse publicamente o subchefe Tiago Contreiras, após o funeral do seu irmão.
 
Familiares seus dirigiram-se, minutos mais tarde, ao posto policial para informá-lo que o seu irmão tinha sido executado por agentes policiais.
 
“Só então me apercebi de que os meus colegas mataram o meu irmão. Fui perguntar ao senhor Beto Kinjila sobre quem matou aqueles três marginais. Nessa altura, ele [Beto Kinjila] já sabia que os seus homens tinham matado o meu irmão. Então, ele disse-me que eu estava a acusá-lo e que faria uma informação a pedir a minha demissão e expulsão da polícia”, contou Tiago Contreiras.
 
“Eu conheço bem o Toledo, sabia que ele ia ao volante do Hiace. E todos os outros elementos, depois disso, vieram ao Posto. São colegas. Só não sabia que tinham assassinado o meu irmão”, disse o policial enlutado no dia a seguir aos assassinatos.
 
O seu irmão vivia em Malanje e tinha pedido apenas uma boleia até à estrada principal de Viana, onde apanharia o autocarro de regresso àquela província. Tinha vindo visitar a família por poucos dias.
 
Gosmo Pascoal Muhongo Quicassa “Smith”, de 25 anos,  proprietário da viatura, morreu ao volante atingido com 14 tiros, concentrados na parte esquerda do corpo.
 
Manuel Contreiras, de 26 anos, tinha sido atingido apenas no pé. Desceu da viatura e implorou aos executores que poupassem a sua vida. Explicou que tinha pedido uma boleia e regressava à sua terra, Malanje, segundo testemunhas oculares.
 
“O assassino olhou-o apenas. O motorista do Hiace desceu da viatura e com a AK atingiu o meu irmão no abdómen e deu-lhe outro tiro na cabeça”, lamentou Samuel Contreiras, irmão do malogrado. 
 
Até hoje a polícia recusa-se a prestar quaisquer informações públicas sobre os assassinatos e se havia razões para tamanha barbaridade.
 
Também não se sabe qual é o interesse pessoal do comissário-chefe Pedro Alexandre em encobrir o crime, para além de que o seu mandato tem sido marcado por vários assassinatos cometidos por homens sob seu comando, incluindo Alves Kamulingue.
 
Carlos Neto