quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ANÁTEMA FEUDAL – III


 
3 – A Federação Russa perdeu uma parte enorme de potencial militar em relação ao que foi a URSS, mas possui uma base científica-tecnológica capaz de superar os desafios e os obstáculos contemporâneos.
 
Sendo o maior país em extensão da Terra e o único com território em dois continentes (a Europa e a Ásia), a Federação Russa adopta uma doutrina defensiva e ao mesmo tempo dissuasora e por isso capaz de contra golpes.
 
A Rússia assestou contra golpes limitados em conflitos fronteiriços, ou próximos, como nos casos da Chechénia, da Geórgia, ou da Ucrânia, assim como garantiu capacidade de defesa à Síria no Mediterrâneo Oriental, de forma a simultaneamente alargar a malha de cobertura da sua frota do Mar Negro.
A Federação Russa é a potência que mais tanques possui, algo que tem a ver com as preocupações de cobertura de sua enorme extensão territorial, estando agora a introduzir novas e vantajosas tecnologias ao nível dos seus corpos de tanques, de blindados, de artilharia e de agrupamentos de mísseis.
 
A Rússia tem feito um aproveitamento das técnicas militares que tiveram seu curso durante o período de “Guerra Fria”, introduzindo tecnologias avançadas, algo que pode ser constatado nos vários ramos das suas Forças Armadas.
A Rússia possui poucas bases “ultramarinas” e nas suas fronteiras marítimas domina no Árctico, mantém uma força notável em relação ao Pacífico e sistemas defensivos em profundidade nos circuitos fechados do Báltico e do Mar Negro.
Sentindo a necessidade de dissuasão por via de contra golpes, a Federação Russa possui vantagens no número de ogivas nucleares e começa a estabelecer pontos de apoio a partir de alianças, inclusive fora da Euro-Ásia (caso da Venezuela, na América do Sul).
 
Em relação aos componentes dos BRICS, a Rússia é o principal fornecedor de armamento em relação à China e à Índia, em todas as componentes das respectivas forças armadas, podendo em breve vir a ser o principal fornecedor do Brasil.
 
A manobra militar russa ocorre no hemisfério norte e é muito rarefeita no hemisfério sul.
 
A poderosa frota do Norte serve de pontual reforço sempre que a Federação acha necessário, quer às frotas que cobrem o Atlântico (Báltico e Mar Negro), quer à frota do Pacífico.
Conforme escrevi em “Verão quente no leste da Europa”:
 
… “O facto da Federação Russa recorrer à memória histórica e épica da URSS na IIª Guerra Mundial, tem muito mais a ver com a mobilização para a resistência hoje, de forma a garantir a inviolabilidade da Federação Russa, do que com qualquer nostalgia dessa época, ou uma referência consistente ao socialismo de então!
 
O governo do tandem Putin-Medvedev é obrigado a enveredar por uma doutrina nacionalista com recurso a essa memória histórica, capaz de garantir o máximo de homogeneidade no imenso espaço euro-asiático da Federação Russa e os desfiles comemorativos do 70º aniversário da vitória sobre a Alemanha Nazi, são disso testemunho”…
 
É evidente que, com uma economia de mercado e vivendo o impacto de ideologias indexadas ao capitalismo, a Rússia, como os outros BRICS, é forçada à associação multipolar, onde encontra espaço para suas doutrinas de resistência à hegemonia unipolar.
 
É evidente também, perante um processo dialéctico desta natureza, que o anátema feudal acaba por se fazer sentir também na Rússia e,  prova disso, é o papel que está agora reservado à igreja ortodoxa, como factor que contribui para a coesão promotora da Federação Russa, face aos riscos de implosão.
 
Esse tipo de alianças, seriam impossíveis nos termos em que se regia a URSS e os países socialistas que compunham o Pacto de Varsóvia, pelo que na corrente guerra psicológica, o “conflito de civilizações” introduzido pela doutrina Bush, não perde de vista os factores religiosos e étnicos.
 
À dialéctica da “Guerra Fria”, entre o campo capitalista e o socialista, o anátema feudal teve e tem tudo a ganhar, pelo tipo de contradições que estão a ser geradas!