domingo, 9 de abril de 2017

Região de Gabú: ESQUADRAS DE POP DE SECTORES SEM MEIOS DE TRANSPORTES E AGENTES DESLOCAM-SE A PÉ

[REPORTAGEM] As esquadras da Polícia de Ordem Pública (POP) dos sectores da região de Gabú deparam-se com dificuldades e falta de meios de transporte que facilitem a deslocação dos agentes para o combate à criminalidade. Muitas vezes são obrigados a deslocar-se a pé à procura de criminosos ou infractores. Certas vezes alugam ou pedem emprestadas motorizadas e bicicletas às populações para se deslocarem.
 
A preocupação foi apresentada pelo Comissário Adjunto da POP na Província Leste da Guiné-Bissau, Major Vicente N’Bana, durante uma entrevista exclusiva ao semanário “O Democrata” [março de 2017] para falar das dificuldades bem como dos trabalhos ou sucessos obtidos por aquela corporação policial no combate à criminalidade naquela que é considerada a maior região económica do país.
 
A região de Gabú é constituída por cinco sectores, mas apenas três estão sob o controlo da POP, designadamente: os sectores de Gabú, Pitche e Sonaco. Os sectores de Boé e Pirada estão sob o controlo da Guarda Nacional (GN). A repartição de sectores para as forças de segurança enquadra-se no âmbito da restruturação feita no seio das forças de segurança. À GN foi atribuída a responsabilidade de controlar aqueles dois sectores da linha de fronteira.
 
COMISSÁRIO APELA ÀS AUTORIDADES PARA PRESTAREM ATENÇÃO ÀS FORÇAS DE SEGURANÇA NAS REGIÕES
 
 
ESQUADRA DE SONACO E PITCHE
 
O Comissário adjunto da POP na Província Leste e igualmente comandante da POP na região de Gabú, Major Vicente N’Bana explicou em entrevista exclusiva ao semanário ‘O Democrata’ que a cidade de Gabú melhorou muito em termos de segurança nos últimos tempos, dado que conseguiu-se, nos finais do ano 2015 e início do 2016, fazer um trabalho sério de patrulhas nos bairros, o que permitiu acabar com todos os grupos de assaltantes que havia na cidade.
 
“Havia um grupo perigoso que fazia assaltos à mão armada, portanto esse grupo perturbava muito os citadinos desta cidade. Nós conseguimos desmantelar essa quadrilha de assaltantes, e acabamos com o grupo, graças a uma operação levada a cabo em Agosto de 2015. Continuamos a operação no final do ano e inícios de 2016. Para já não se verificam assaltos à mão armada na região. Apenas se registam atos de agressões físicas com materiais, entre outros”, narrou o Comandante.
 
Interrogado sobre a metodologia do trabalho da parte do comando regional, dado que a região é muito grande e tem as suas características geográficas que muitas vezes dificultam os trabalhos, explicou que tendo em conta a restruturação das forças de segurança com o intuito da sua dinamização, a POP encarrega-se agora de controlar os três sectores da região de Gabú, designadamente: Pitche, Sonaco e Gabú.
 
Avançou ainda que os sectores de Boé e Pirada, que se encontram na zona da linha fronteiriça, estão sob o controlo das forças da Guarda Nacional. Acrescentou, no entanto, que as esquadras dos sectores enfrentam muitas dificuldades em termos de falta de agentes em número suficiente bem como de meios de transportes que ajudem no combate à criminalidade.
 
Não obstante a falta de meios que enfrentam, sobretudo os meios de transporte, o que os leva a alugar motorizadas e bicicletas, N’Bana disse que as esquadras de Sonaco e Pitche conseguem garantir a segurança das populações e dos seus bens.
 
“O trabalho da polícia é atípico nesta terra. Deparamo-nos com falta de homens e de meios! Os escassos recursos de que dispomos é que utilizamos para fazer o trabalho de combate à criminalidade, de forma a garantir a segurança das populações. As esquadras dos sectores não têm nenhum meio de transporte. Algumas vezes, os agentes deslocam-se a pé para fazer o seu trabalho. Muitas vezes alugam motorizadas ou pedem emprestadas algumas bicicletas para se deslocarem para um determinado sítio”, notou.
 
N’Bana considera de grave o facto de os agentes da polícia deslocarem-se a pé ou pedirem emprestadas bicicletas à população. Pediu, pelo menos, que haja uma viatura e motorizadas para as esquadras dos sectores. Acrescentou neste particular que apesar desta situação, são forças de segurança razão pela qual têm que fazer o seu trabalho de manter segura a população, com ou sem meios.
 
Relativamente à situação de roubo de gado no sector de Gabú, Vicente N’Bana disse que a referida prática também reduziu, em comparação com os tempos passados. Avançou que de momento se regista o roubo de gado apenas no interior das aldeias, mas com menos frequência.
 
Sobre o consumo de canábis (liamba) na região e em particular na cidade de Gabú, o comissário adjunto informou que canábis é muito consumida na região pela camada juvenil, tendo sublinhado que a população local não colaborava com as autoridades policiais no início, em termos da denúncia dos locais de venda da droga [canábis] na cidade e no interior.
 
Assegurou neste particular que actualmente, a nível da cidade, registou-se uma redução do consumo por causa de uma campanha de sensibilização levada a cabo pelas autoridades policiais, em colaboração com as estações emissoras locais, sobre as consequências do consumo da droga.
 
Frisou ainda que a iniciativa que chamou de ‘policiamento de proximidade’ ajudou muito na consciencialização da população, que nos últimos tempos tem mudado o seu comportamento. Realçou que toda gente sabe que a polícia trabalha em condições precárias, mas continua a trabalhar e se houvesse meios poderiam fazer muito mais.
 
Questionado se o número de efectivos do Comando da POP é suficiente para cobrir o sector de Gabú, que tem mais de 80 mil habitantes, respondeu que o número de efectivos que dispõem é insuficiente, tendo em conta as necessidades do sector.
 
Major Vicente N’Bana disse ainda que se depara com outro problema que tem a ver com a idade avançada de um número significativo dos agentes e que têm problemas da saúde. Isso muitas vezes dificulta o cumprimento dos seus deveres, porque por vezes o trabalho policial exige força e prontidão.
 
“É com esses efetivos que conseguimos combater a criminalidade neste sector. Hoje podemos dizer que está livre de assaltos a mão armada, mas a grande verdade é que precisa de mais homens e meios de transporte. Atualmente temos apenas uma viatura ‘velha’ com uma série de problemas mecânicos. Os meios de deslocação são a nossa maior dificuldade. Imagina uma região grande e muito importante como esta, mas sem condições de trabalho para as forças de segurança!”, contou.
 
Apesar das dificuldades enfrentadas e particularmente no concernente a falta de meios de deslocação, Vicente N’Bana informou que a polícia conseguiu estancar certos atos de criminalidade que se registavam na região, sobretudo na cidade de Gabú. Por este feito, receberam duas vezes o ‘Certificado de Mérito’ devido ao sucesso obtido no combate a criminalidade.
 
MAJOR VICENTE N’BANA AFIRMA QUE A JUSTIÇA GUINEENSE ESTÁ UM POUCO COXA
 
Uma das preocupações de momento do Comissariado Regional tem a ver com a situação da justiça, que segundo o comandante, não faz o seu trabalho da melhor forma possível, a semelhança daquilo que as forças polícias fazem todos os dias.
 
Lembrou que a polícia deteve um jovem de nacionalidade Conacri-guineense que roubava motorizadas há muito tempo naquela cidade, mas este acabou por ser libertado pelo tribunal por falta de provas. Frisou que a polícia tem ainda na cela um outro jovem por causa de roubo de motorizadas que será entregue à justiça assim que concluírem o processo.
 
Indagado se os agentes não correm risco de vida de cruzar com os detidos libertados pela justiça por falta de provas, quando a polícia conclui a sua investigação ou detém em flagrante os suspeitos de roubo ou outros crimes, reconheceu que correm risco de entrar em confronto com os ‘bandidos’, mas assegurou que os agentes estão sempre preparados para lidar com situações de género.
 
“Sempre recebemos ameaças dos bandidos que nós detemos nestas circunstâncias e libertados pela justiça mais tarde. Quem é responsável por essas ameaças? É o tribunal, porque como se sabe, a situação da nossa terra… essa situação fez-nos chegar a conclusão que a nossa justiça está um pouco coxa. Veja bem que muitas pessoas entendem que os problemas devem terminar aqui na polícia. Mas nós procuramos informar-lhes que é o tribunal quem resolve a situação da justiça e não a polícia”, explicou o comissário adjunto, que entretanto, avançou que até a população já está preocupada e cansada com a situação do tribunal.
 
Sobre os casos de homicídios que ocorrem na região, recordou que recentemente [no mês de dezembro de 2016] um homem agrediu a sua esposa que acabou por falecer, tendo frisado que o caso está no tribunal.
 
Assegurou ainda que muitos casos de homicídio nos últimos tempos relacionam-se com agressões de homens às suas esposas, e adiantou que é preciso trabalhar neste aspecto para a mudança de comportamento das pessoas.
 
“No mês de Fevereiro último, um homem que reside numa aldeia junto à pequena cidade de Sonaco, bateu a sua esposa que estava grávida de quatro meses. Ele trouxe a mulher ao hospital da cidade de Gabú para tratamento médico, mas esta não conseguiu resistir aos ferimentos e acabou por falecer. Conseguimos deter o homem e mandamos pedir a declaração da sua detenção junto do delegado do Ministério Público, depois de concluirmos o seu processo, remetemos tudo ao tribunal”, informa.
 
O comissário explicou que o homem suspeito por matar a esposa grávida devido à agressão foi apresentado ao juiz de instrução criminal da região para efeitos de audição e legalização da sua prisão, mas o juiz acabou por decidir libertar o suspeito no mesmo dia.
 
“Até hoje não compreendemos a decisão do delegado. Infelizmente, situações deste género acontecem sempre e a polícia nada pode fazer, porque, como se sabe, o Ministério Público é detentor de ação penal”, lamenta o comandante.
 
 
Por: Assana Sambú
Março de 2017