O PAIGC nem sequer foi capaz de conservar, pelo menos, as infraestruturas e o património herdados da administração colonial, tudo se encontra na mais completa degradação.
A situação de ‘abandono’ em que se encontra a região de Bolama Bijagós, em particular a cidade de Bolama, que outrora era a capital administrativa do país, espelha a realidade cruel do sofrimento submetido à população guineense um pouco por todo o lado.
A população da cidade de Bolama, na sua maioria a juventude local, diz sentir-se abandonada e queixa-se de falta de tudo, particularmente das oportunidades para a formação bem como da independência económica e financeira de forma a poder ajudar no desenvolvimento daquela ilha.
A cidade de Bolama depara-se com a falta de tudo: centros de formação superior, postos de emprego para a juventude, espaços de lazer, tribunais, instituições bancárias, tudo isso obriga todos os funcionários estatais daquela região a se deslocarem no final de cada mês à Bissau para receberem os seus ordenados.
BOLAMENSES RESPONSABILIZAM O ESTADO PELA DEGRADAÇÃO DE EDIFÍCIOS PÚBLICOS
A imagem de Bolama aparenta-se de uma cidade abandonada, aliás, é a mesma coisa sentida pelas populações locais que não se cansam de responsabilizar os sucessivos governos pela situação em que se encontra a região. Os edifícios públicos construídos na época colonial estão todos num avançado estado de degradação.
Essa situação de ‘morte lenta’ submetida àquela ilha que podia tornar-se numa das zonas mais maravilhosas da Guiné-Bissau e maior centro turístico do país, obriga os populares locais a saírem da ilha a procura de melhores condições de vida noutros pontos do território nacional.
A falta de meios de transporte para ligar o arquipélago ao resto do continente constituiu igualmente uma das preocupações da população local, assim como a falta da luz eléctrica e a falta de linha de internet, para permiti-los a interagir com jovens de outros pontos do mundo. Dentro da cidade, as vias de acesso estão num estado muito avançado de degradação e só restam vestígios das obras da administração colonial.
Porém, é bem patente o sentimento de desespero na cara dos jovens bolamenses devido à falta de presença do Estado para salvar a cidade.
A cidade conta apenas, de momento, com único centro de formação de professores, isto é, Escola Superior de Educação (ESE), razão pela qual se pensa que todos os jovens são condenados a ser professores, mesmo sem vocação, porque não há alternativa.
Relativamente ao sector de saúde, a cidade de Bolama tem apenas um médico para uma população estimada em 10.206 (dez mil duzentos e seis) habitante. O hospital não possui meios próprios para evacuar pacientes para a capital Bissau, em caso de necessidade.
JUVENTUDE ELEGE MEIOS DE TRANSPORTE COMO PRIORIDADE PARA TIRAR A ILHA DO ISOLAMENTO
Lassana Cassamá, presidente do Conselho Regional da Juventude, explicou durante a entrevista concedida aos repórteres do semanário ‘O Democrata’ as dificuldades enfrentadas pelos jovens. Contudo, avançou que de momento a prioridade de Bolama é conseguir um meio de transporte seguro que faça uma ligação regular e tirar o arquipélago do isolamento.
Acrescenta ainda que aquisição de um grande navio de transporte seguro para a região vai permitir aos empresários investirem na região e criar emprego para a juventude. Sublinhou neste particular que a falta de luz eléctrica e de água potável constituem maiores preocupações dos citadinos da região.
“Há mais de 20 anos que a região vive na escuridão. Recentemente, conseguimos beneficiar de candeeiros nas vias principais financiados pela cooperação timorense e UEMOA. Essa ajuda é importante, mas é insuficiente para iluminar toda cidade e tirá-la da escuridão”, notou.
O estado avançado de degradação das infraestruturas mereceu também a análise do responsável juvenil, que no seu entender, as mesmas deveriam ser reabilitadas e permitir a administração local produzir mais e desenvolver a região.
Lamentou ainda a falta de emprego para os jovens que, na sua visão, constitui um dos maiores entraves ao empoderamento da juventude local, na economia e criação de riqueza.
Lassana Cassamá apelou, neste sentido, a intervenção de governo central na criação de centros de formação para os jovens de Bolama Bijagós para evitar que todos se transformem em professores, mesmo sem a vocação.
Assegurou ainda a necessidade de construção de um centro multifuncional para a juventude, equipado com computadores e internet, para permitir que os jovens interajam com jovens de outros pontos do mundo.
Na ocasião, o responsável da juventude regional pediu a intervenção de Presidente da República e do Governo para facilitar a organização alemã “Fundação West Afrique” que manifestou a intenção de investir na região e concretizar o seu projecto de desenvolvimento na ilha.
Lassana Cassamá diz acreditar que, com o investimento da referida organização alemã, tanto a juventude local como toda a população e o próprio país sairão a ganhar, na medida em que vai criar emprego, tirar a região do isolamento e permitir que turistas estrangeiros descobram a natureza daquele arquipélago.
Salienta-se que a cidade de Bolama tem uma população estimada em 10.206 (dez mil duzentos e seis) habitantes, de acordo com o senso do Instituto Nacional de Estatística (INE). A região de Bolama de Bijagós tem uma população estimada em 32.424 (trinta dois mil e quatro centos e vinte quatro) habitantes, distribuídos em 88 ilhas e ilhéus, dos quais apenas 21 são habitadas sazonalmente e 18 de forma permanente.
Por: Alcene Sidibé/Sene Camará
Abril de 2017