terça-feira, 2 de maio de 2017

ABEL CAMARÁ: «USAM-ME COMO O PATINHO FEIO»

Abel Camará: «Usam-me como o patinho feio»
Avançado critica adeptos que o tentaram agredir.

Ameaçado no domingo depois da derrota do Belenenses frente ao P. Ferreira, Abel Camará falou esta terça-feira sobre a situação e visou os adeptos que o têm criticado ao longo dos últimos anos. O capitão dos azuis esteve na sede do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol e destacou uma situação que "ultrapassou todas as marcas", quando até a sua companheira, que está grávida, foi alvo de uma tentativa de agressão, segundo o próprio.

"Chegou a altura de falar porque sofro com isto há muito tempo e nunca me levantei para dizer basta. A situação de domingo ultrapassou todas as marcas. Enquanto forem mensagens no Facebook e assobios, consigo lidar com isso. Mas tendo em conta que partiu para a parte física, tendo em conta que a minha mulher grávida estava no local, é uma situação insuportável. Magoa-me muito. Estou há oito anos no clube, tenho dado muito pelo Belenenses. Estive com o Belenenses à porta de acabar e fiz muito por este clube. É injusto o que certos adeptos tentam fazer comigo. Usam-me como o patinho feio e isto deixou-me mesmo de rastos. Tive de vir limpar o meu nome. São muitas acusações, todas falsas", destacou o avançado, que teve o apoio de todo o plantel do Belenenses, presente na sala.

Quem também 'ouviu' um recado foi... Patrick Morais de Carvalho, presidente do clube. "Nada de grave aconteceu porque tive certos companheiros que estiveram lá a acalmar a situação. Esse senhor, Patrick Morais de Carvalho, é o presidente do clube e até hoje, desde que assumiu a presidência, nunca entrou no balneário. Estamos aqui 23 ou 24 jogadores a quem nunca disse olá. Não estava lá, não pode falar do que não viu. Quem viu sabe o que se passou", acrescentou.

Além disso, Abel Camará explicou que os insultos, críticas e assobios são algo que já tem estado presente na sua vida nos últimos tempos. "Ao longo de muitos anos tenho abafado o caso e tenho pedido aos meus colegas para não fazerem conferências e deixarem-me resolver as coisas da melhor maneira, que era ignorar até ao dia de hoje. Todas as pessoas têm os seus limites. Todos os jogos em casa tem sido assim. Consigo sempre suportar e sair de cabeça erguida, mas quando tentam atingir a mim e à minha família já não tenho como aceitar", rematou.

Autor: Pedro Gonçalo Pinto
http://www.record.pt

Leia o comunicado de Abel Camará na íntegra: 

"Esta é a minha oitava época de ligação ao Os Belenenses. Cheguei em 2008, para o escalão de juniores, para uma equipa que, treinada pelo actual seleccionador de sub-21, ficou em terceiro lugar na zona Sul do campeonato nacional. Desde então, servi a equipa sénior, na primeira e na segunda divisão, e estive cedido a outros clubes, em Portugal o Estrela da Amadora e Beira-Mar, e no estrangeiro o Petrolu, da Roménia, e o Al-Faisaly, da Arábia Saudita. No total, como sénior, já vesti a camisola do clube mais de cem vezes - 122, para ser mais exacto. Sou internacional pela Guiné Bissau.

E a verdade é que aguentei muito. Desde a época em que regressei da cedência ao Petrolul, em 2014/15. Nessa temporada, convém recordar, conseguimos o apuramento para a Liga Europa, mas também não me esqueço de que fui insultado logo no primeiro jogo de preparação, contra o Oriental. O grupo e toda a estrutura, liderada pela Presidente Rui Pedro Soares, não deixaram que um pequeno grupo de gente que se assume como anti-Belenenses SAD me incomodasse ou desestabilizasse a equipa e, pouco a pouco, fomos superando o sucedido.

Este ódio por parte dessa pequena facção vem da época 2011/12. No final de um jogo contra o Sporting da Covilhã, alguns adeptos manifestaram a sua legítima insatisfação, mas houve então um grupo que resolveu rodear e insultar a mãe do nosso capitão da altura, Sérgio Barge. Nesse momento resolvi intervir, separei as pessoas e acalmei a situação, tendo posteriormente sido acusado de ter agredido esses adeptos. Até hoje, contudo, ninguém o provou nem apresentou queixa. Se tivesse havido incorrecto da minha parte, por que não teriam apresentado queixa?

Na semana seguinte, jogámos contra o Trofense e infelizmente perdemos. No final do encontro, e como sempre sucede - como sucedeu, de resto, no último domingo -, alguns dos meus familiares e amigos aguardaram a minha saída do estádio. Mais uma vez, um grupo de adeptos acusou-os de agressão e de terem mostrado facas e armas. Até hoje, mais uma vez, ninguém o provou nem apresentou queixa. E após cada jogo no Restelo os mesmos familiares e amigos continuam a aguardar a minha saída, exactamente no mesmo local.

Infelizmente, por razões que realmente me ultrapassam e que até hoje não consigo entender, a situação tomou outros caminhos e um pequeno grupo de desordeiros espera sempre uma falha minha para me atacar e desestabilizar, como voltou a acontecer no jogo deste domingo, contra o Paços de Ferreira. Não conseguem, desde logo porque serão sempre mais os que me apoiam dos que os que me assobiam. E porque tenho uma personalidade forte e saio sempre de cabeça erguida, seja de um jogo ou de um treino, e com a consciência de tudo ter dado pelo Belenenses.

Este domingo, à saída do estádio, quando esperava a minha companheira, deparo-me com um grupo de desordeiros a insultar-me e a tentar agredir-me. Um deles tentou inclusivamente agredir a minha companheira, que está grávida. E isso eu não admito. Assobiar e insultar faz parte, infelizmente, da vida de jogador, e faz parte sobretudo da cultura desportiva que desde algum tempo se instalou em Portugal. Mas partir para a agressão é algo intolerável e que jamais admitirei. Sendo certo que basta ver as redes sociais para saber que tudo isto e uma campanha organizada, e todos sabem quem são as pessoas que a organizam e incentivam.

Apesar do sucedido, e porque a minha ligação ao Os Belenenses não começou ontem, e sobretudo porque sou um profissional sério e dedicado, continuarei focado em ajudar a equipa, que muito me orgulho de capitanear, a terminar a temporada da melhor forma. O meu percurso no futebol profissional já é longo e felizmente por onde tenho passado todos, sem excepção, têm reconhecido a minha dedicação e o meu carácter. E é isso que me faz ter a consciência tranquila."

http://www.record.pt