segunda-feira, 18 de novembro de 2013

ANGOLA: “DIPLOMACIA DO SILÊNCIO” PODE MELHORAR RELAÇÕES COM PORTUGAL


 


Angola está a exercer "a diplomacia do silêncio, ao invés da diplomacia pública" para resolver a crise nas relações com Portugal, disse hoje o adido de imprensa da embaixada angolana em Lisboa.
 
Convidado para participar numa conferência sobre "o estado actual das relações Portugal-Angola", na Universidade Lusíada, o embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, fez-se representar pelo adido de imprensa Estêvão Alberto, que usou da palavra apenas uns minutos e justificou que o convite para a sessão "chegou muito tardiamente".
 
Além disso, recordou, "todos os responsáveis" angolanos "já falaram" o que tinham a falar sobre o assunto e o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, encontra-se a preparar uma "comunicação ao Estado português".
 
É preciso "deixar que evoluam com naturalidade" os "contactos diplomáticos" em curso, disse o adido de imprensa da embaixada de Angola. "Pretende-se a melhoria das relações entre Angola e Portugal", assegurou ainda.
 
Promovida pelo Centro Lusíada de Investigação em Política Internacional e Segurança, a conferência contou ainda com o embaixador português Martins da Cruz, que apontou as causas e os riscos da "recente turbulência" entre os dois países.
 
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros apontou algumas das razões que justificam "o mal-estar angolano", entre as quais as "fugas de informação" sobre casos envolvendo dirigentes angolanos em apreciação na justiça portuguesa, "que só podem ter partido do interior do Ministério Público" e que foram acompanhadas por "ruído" na comunicação social portuguesa.
 
Além disso, "Angola está a ser usada como arma de arremesso entre os partidos políticos portugueses", apontou, sublinhando que as relações bilaterais se processam "Estado a Estado e não partido a partido ou empresa a empresa".
 
Na opinião do embaixador, "o Governo português procedeu bem" no caso, ao manter uma diplomacia de 'low profile' [discreta] e encarando as relações com Angola com a mesma normalidade que tinham antes do discurso do Presidente angolano".
 
A 15 de Outubro, José Eduardo dos Santos anunciou, perante o Parlamento angolano, a suspensão da anunciada parceria estratégica com Portugal, alegando não estarem reunidas condições.
 
Também "Angola continuou a comportar-se da mesma forma do que antes", pois "não tinha interesse nenhum em levar mais longe" a tensão com Portugal, assinalou Martins da Cruz, reparando que Luanda "procurou desactivar a turbulência". Porém, o caso "dura há dois meses e ainda não se encerrou", lamentou, vincando que "a política externa não pode ter estados de alma".
 
Recordando que Angola é o quarto mercado de exportação para Portugal e que todas as empresas do índice bolsista PSI-20 estão representadas no país africano lusófono, onde 150 mil portugueses estão a trabalhar, o embaixador alertou ainda para "o risco" de desvalorização da política externa portuguesa, na qual "um dos activos" é "a relação privilegiada com os países africanos de língua portuguesa".
 
"Não estaremos num clima de Guerra Fria", mas é preciso "um desanuviamento", referiu, por seu lado, António Luvualu de Carvalho, professor na Universidade Lusíada de Angola, sublinhando que, "para que possa haver parceria, é necessário haver igualdade nas relações e respeito mútuo".
 
Porém, de acordo com os "estereótipos" em Portugal, a riqueza dos angolanos "implica corrupção e ilicitude", disse.
 
Considerando que os angolanos são alvo de "perseguição" em Portugal, o investigador questionou por que é que "só os angolanos são perseguidos pela justiça portuguesa" e "só os dinheiros angolanos são questionados".
 
Lusa