Sandra Martins* – Afropress, opinião IN PG
Num país que não é racista como diz um jornalista “Nós não somos racistas”, parece que não é bem assim. Pelo menos, é o que vem ocorrendo com as inúmeras manifestações racistas que pululam em várias partes do país. A mais recente foi com Maria Júlia Coutinho, Majú, a Garota do Tempo do Jornal Nacional, que ao ter sua foto postada na página do noticiário no facebook, recebeu postagens com conteúdos racistas.
Este fato não é isolado. É a segunda vez que tal situação de racismo explícito ocorre contra a jovem e bela jornalista negra. O sucesso e a competência realmente incomodam. Em contrapartida, como da vez anterior, os contrapontos venceram as manifestações racistas.
De acordo com a matéria publicada no site do JN no dia “3 de julho é o dia nacional de combate à discriminação racial e uns 50 criminosos publicaram comentários racistas, de maneira coordenada, contra ela, na página do Jornal Nacional no Facebook. O inusitado agora é que o editor chefe do Jornal Nacional, Willian Bonner, com Renata Vasconcelos e toda a sua equipe gravaram um vídeo de apoio à jornalista Maria Júlia: #SomosTodosMaju.
Outra matéria da rede Globo nos traz um imenso prazer de ver que a menina vem de um belo berço de ativistas. Foi bem preparada, o que não quer dizer que não sinta a dor da chibatada, mas aprendeu a superar a dor e seguir em frente pisando firme, porque sabe que não está sozinha e muitos dependem dela. Tem gente que ela não conhece, que mora em lugares cuja televisão é compartilhada por várias famílias pobres e tão negras quanto a própria Majú. Ela é fonte inspiradora dessas crianças, desses jovens, dessas pessoas maduras e calejadas pela vida dura. Eles veem nela a esperança de um dia poderem também chegar a algum lugar de visibilidade positiva. Então o papel dela é fundamental: ela sabe de sua responsabilidade. E nós da militância sabemos o nosso, de apoiar nosso povo a enfrentar os racistas de plantão que não nos deixam descansar nem um segundo.
Diariamente vemos muitas Majús e muitos outros rapazes que estão passando por estes desafios de tentarem superar as barreiras do racismo que impõem um teto espesso de vidro que parece translúcido, mas é espesso, e quase inquebrantável. Quase... Quase não é inquebrável. Com o tempo aprendemos a desenvolver tecnologias sociais e ferramentas adequadas para quebrar os tetos de vidro. O problema é que eles são vertiginosamente autorecuperáveis. Temos que ser mais rápidos, construir mais e mais ferramentas, mais e mais cientistas, mais e mais pensadores, mais e mais profissionais em todas as áreas e seguir em frente sempre.
Como uma corrida de revezamento com obstáculos, temos sempre que deixar preparados os próximos atletas que substituirão os que da partida sairão. Agora, Majú, é sua vez de seguir em frente, firme, enquanto são preparados outros atletas para substituí-la no tempo adequado.
*Sandra Martins (na foto) é jornalista e integrante do Cojira/Rio/SJPMRJ
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