sexta-feira, 3 de julho de 2015

TELEFONES E POESIA AFRICANA DO SÉCULO XXI

A Badilisha X-Change é uma espetacular Torre de Babel que alberga poesia em catorze idiomas, na grande maioria em línguas nacionais africanas. No entanto, é também uma «estranha» Biblioteca de Alexandria, onde se guardam obras de mais de quatrocentos poetas. Sobretudo, Badilisha é uma ilha de literatura africana em que a arte não só é conservada, mas também alimentada com todas as condições para crescer. Na sua descrição mais simples, a Badilisha X-Change é uma plataforma online onde se guardam e se expõem obras de poetas africanos espalhados por todo o mundo.
 
Em muitas ocasiões torna-se complicado alcançar o equilíbrio entre a tradição e os tempos modernos e entre preservar uma manifestação artística ou expô-la para gerar mais cultura. A Badilisha X-Change resulta num bom exemplo deste equilíbrio. A poesia é provavelmente o género literário mais mal tratado pela industria editorial e, ao mesmo tempo, pode ser a manifestação mais firmemente ligada à tradição africana.
 
A plataforma, sediada na África do Sul, conseguiu catapultar a poesia africana para o século XXI diretamente, se é que já não lá estava. A iniciativa alberga poesia em formato áudio e está acessível em qualquer lado do mundo através da internet, para além de estar adaptada para smartphones. Em resumo, a Badilisha X-Change é o canal para que os africanos tenham a sua poesia nos telefones.
 
Projetada pela organização sul-africana Africa Center, estamos perante uma cultura inovadora e transformadora no continente. A iniciativa de fazer um arquivo poético sonoro tem ainda uma curta vida de evoluções, adaptações e redefinições, mas na realidade, cheia de dinamismo e vitalidade. A plataforma nasceu em 2008 como um festival poético anual; contudo, com os próprios eventos, as reuniões e os trabalhos realizados percebeu-se que era importante dar um próximo passo.
 
Em 2012 produziu-se a primeira grande reconversão, quando se passou a converter os textos em arquivo sonoro, como resposta à falta de interesse da indústria editorial, que limitava as possibilidades de os africanos, incluindo os próprios autores, acederem a outras obras, mas também de transcenderem os limites dos seus países e do continente. Mais recentemente, a plataforma foi relançada, mais adaptada a novos dispositivos, reorganizada e mais atrativa, de forma a conseguir o objetivo de alcançar uma audiência global. 
 
Financiado por patrocinadores privados e pelo próprio governo sul-africano, pouco a pouco este fundo literário sonoro alcançou os 408 artistas, espalhados por 30 países, que compartem as suas poesias em catorze línguas, nomeadamente o inglês, o francês, o alemão e o português, para além de dez línguas nacionais africanas. Fonte: Aqui