segunda-feira, 17 de agosto de 2015

ASSOCIAÇÃO DE GUINEENSES EM PORTUGAL APELA À ESCOLHA DE OUTRO PRIMEIRO-MINISTRO

Fernando Ka, presidente da Associação Guineense de Solidariedade Social e ex-deputado ao parlamento português pelo Partido Socialista considera que a melhor solução para a crise política que atravessa o país é a escolha de um novo primeiro-ministro.

Num artigo de opinião publicado no Público, este domingo, Fernando Ka escreve que «a incompatibilidade entre o presidente e o primeiro-ministro é inultrapassável, portanto, não se pode fazer desta questão uma tragédia paralisante à caminhada para um futuro risonho».

«A solução realista e melhor para a Guiné é o PAIGC, como partido responsável e vencedor das eleições, indicar outra personalidade para encabeçar o novo governo, demostrando assim o seu verdadeiro sentido de estado, em vez de se envolver em polémicas inúteis ao país, embora podendo discordar da decisão do presidente. Os supremos interesses da Guiné deveriam estar acima dos interesses pessoais ou do grupo», conclui.
Fonte: abola.PT
 
Leia o artigo: Guiné-Bissau e o Futuro
 
A solução realista e melhor para a Guiné é o PAIGC, como partido responsável e vencedor das eleições, indicar outra personalidade para encabeçar o novo governo.
 
O país está mergulhado mais uma vez na crise existencial da sua afirmação como nação independente, porém, sem o total domínio sobre a respectiva soberania em que se faz sentir mais a vontade alheia aos legítimos interesses nacionais. É verdade a culpa não é dos terceiros, mas sim, dos sucessivos governantes que têm levado o país à reedição da dramática situação que se verifica neste momento.
 
A melhor contribuição que as pessoas verdadeiramente preocupadas com o que passa na Guiné podem fazer é uma reflexão séria e profunda sobre os graves problemas apontados pelo presidente da república e ajudar a encontrar o caminho certo para a saída da crise. Também é certo ninguém estava à espera deste desfecho em tão pouco tempo, o que é lamentável, porque poderá pôr em causa os esforços da comunidade internacional para ajudar o país a ultrapassar a sua endémica crise. Mas, uma vez que se está perante o facto consumado, forçar a reversão do processo é um ideal semelhante à construção de um castelo sobre areia movediça.
 
A solução realista e melhor para a Guiné é o PAIGC, como partido responsável e vencedor das eleições, indicar outra personalidade para encabeçar o novo governo, demostrando assim o seu verdadeiro sentido de estado, em vez de se envolver em polémicas inúteis ao país, embora podendo discordar da decisão do presidente. Os supremos interesses da Guiné deveriam estar acima dos interesses pessoais ou do grupo. Assim sendo, todas as forças vivas da sociedade, sobretudo os partidos políticos, deveriam concentrar-se na procura da nova solução consensual sempre inspirada naquilo que é melhor para o país neste preciso momento. Já não vale a pena querer voltar ao passado recente de triste memória. A incompatibilidade entre o presidente e o primeiro-ministro é inultrapassável, portanto, não se pode fazer desta questão uma tragédia paralisante à caminhada para um futuro risonho.
 
Ora, a tragédia é quando um povo, confrontado com uma situação difícil, se mostra incapaz de a resolver, refugiando-se nas acusações mútuas. Não se pode dar ao luxo de perder mais tempo na discussão sobre os verdadeiros culpados de actual crise. Todos já sabem mais ou menos quem são e cada um já tem a sua opinião formada. Todavia, não é isso que vai resolver os problemas actualmente existentes.
 
Os guineenses têm de saber ultrapassar rapidamente o seu permanente olhar nostálgico do passado, em vez de agirem, coerentemente, no presente com vista às boas perspectivas no futuro. O que deveriam fazer a partir de agora era começar a trabalhar no sentido de chegar a um acordo do regime, acautelando todos os percalços que poderão surgir aqui e ali na longa caminhada, por forma a garantir a confiança do povo nas suas instituições e da comunidade internacional, convencendo-a, através de actos de boa governação, de que ainda vale a pena de continuar a apoiar o país.
 
É de toda a conveniência que não se avance precipitadamente com as ameaças e chantagens para o regresso à situação anterior. Este cenário terá, necessariamente, os efeitos contrários, porque não servirão os verdadeiros interesses da Guiné, podendo até ser aproveitados por alguns de fora para agudizar ainda mais a crise. Não se pode ignorar que há muitos interesses de fora que olham para a Guiné como milhafres andam à procura das presas e não desperdiçam a primeira oportunidade para se lançar ao ataque. Quando uma pessoa se sente ameaçada, tenta procurar quem vem ao seu auxílio. Auxílio esse que não é concedido de graça.
 
Por outro lado, há que ter em conta a periclitante situação do país, com a reforma das forças armadas por fazer desde há muito tempo e já não se fala mais sobre isso, porque caiu, perigosamente, no esquecimento dos responsáveis dirigentes. O seu adiamento sine die numa situação de permanente instabilidade poderá aguçar a sua desastrosa vontade de intervir. Por isso, tudo deve ser feito no sentido de avançar para a rápida normalização de funcionamento do país, evitando assim qualquer veleidade que possa agravar ainda mais a tão débil situação.
 
Presidente da Associação Guineense de Solidariedade Social

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