segunda-feira, 28 de maio de 2018

OPINIÃO

Ponto a reter: 500 anos de colonização não foram suficientes para que os portuguese preparassem os guineenses para tomarem conta das suas terras?

Estimado amigo Joaquim Luis Fernandes, não me rendo a esta batalha de reflexão e de contraditório saudável que nos tem sido característica, mas confesso de que não me sinto a vontade para lhe responder com a frieza que este tema merece ser tratado, mas também não ficaria bem comigo mesmo se não fosse capaz de ser obediente a minha consciência. Vou escolher as melhor palavras possíveis para transmitir os meus pensamentos, se por ventura exagerar, aproveito desde já para pedir as minhas desculpas.

Descordo com a denominação de “ português guineense “ dado ao GUINEENSE Amílcar Cabral, se e pelo logicismo de ele ter nascido no que chamaram a Guiné-Portuguesa, perde todo o sentido quando não denominamos nem atribuímos a nacionalidade portuguesa aos Antigos Combatentes que se encontram na Guiné-Bissau, e alguns ainda no activo e que a obtenção da nacionalidade portuguesa poderia ser a boia de salvação das suas vidas bem como uma ajuda necessária a remodelação da classe castrense. Jamais poderemos comparar as barbaridades cometidas pelo regime colonial com as que foram praticas pela guerrilha do PAIGC. Não se podem comparar, nem pelo tempo que elas duraram e muito menos pelas qualidades desalmada dos colonos. A que monstruosidade podemos comparar a venda de um ser humano com objectivo de ser escravizado? A que maldade podemos comparar a INVASÃO ( o que chamaram de descobrimento )? Somente estas duas darão a noção de que não podemos comparar a guerrilha do PAIGC com os colonos, imagine agora, se formos a comparar o número de mulheres portuguesas (brancas ) que foram estupradas pela Guerrilha do PAIGC, com o número de mulheres guineenses estupradas pelos colonos? Os colonos seriam vencedores com um resultado de talvez um milhão para os colonos, contra 0 para o PAIGC.
As maldades feitas aos homens, essas quem até tiver coragem de as escrever neste post, teria que ter muito sangue frio para o fazer, pois há homens que até hoje vivem com essas marcas, e se sentem envergonhado de dizer que foram vitimas de tais praticas.

O que realmente desconheço, é a dor de quem não tem o nome do pai no bilhete de identidade, de quem nasceu quase branco, quando a mãe conta histórias da sua juventude apaixonada por um Guineense ( preto ), mas com vergonha de dizer que o filho foi fruto de abuso de poder ou pura violação.

Respondendo a sua questão, caro amigo, os invasores estão a muito identificados ( portugueses ).

Os traidores, esses foram os que disparam contra os seus irmãos de sangue a favor de quem escravizou os seus irmãos de sangue.

Os traidores são os Comandos-Africanos, que refugiados na casa dos seus patrões ( Portugal ), sentem que não tem o mesmo tratamento, que tem os antigo-combatentes portugueses. ( agora se lembram da Guiné-Bissau e exigem protecção por parte de quem não ajudaram para ter poder de os proteger )

O traidor é aquele que disse a um tropa português ( vou procurar essa reportagem e colocar aqui o link ), quando viram uma criança de etnia balanta, disse o seguinte:

- Mata-o... é Balanta, eles já nascem rebeldes.

São esses que são preciso identificar, para que os nossos filhos conheçam quem foram os traidores da sua pátria.

Ilustre Joaquim, EU NÃO TROCO A LIBERDADE DO MEU POVO ERRAR NA CONSTRUCAO DO SEU DESENVOLVIMENTO, POR NENHUMA BENFEITORIA FEITA PELOS COLONOS.

Ainda me pergunto também. Que benfeitorias?

Levaram 500 anos para fazer um Hospital, duas ou três fábricas, uma única estrada, um bairro ( Bissau bedjo ) organizado para eles e para as suas famílias?

Quantos guineenses foram formados durante esses 500 anos de Colonização?

A taxa de analfabetismo, quando os portugueses saíram da Guiné-Bissau era superior 90%, isso demonstra o quanto os portugueses estavam preocupados em preparar os guineenses para assumirem os comandos da Guiné-Bissau.
O resultado da governação que temos hoje lhe surpreende? Creio que não!

44 anos depois apresentamos uma taxa de analfabetismo que não chega aos 50%, portanto, por esse andar, daqui a mais 20 anos de independência ( total 64 ) ultrapassaremos categoricamente as benfeitorias alcançadas pelos invasores em 500 anos de ocupação e teremos homens capacitados e preparados para colocar a Guiné-Bissau a competir com os país mais desenvolvidos em Áfrika.

Quando me pergunta “O que poderia ser hoje a Guiné-Bissau, se o processo de independência, tivesse sido de outra forma?”, onde ainda argumenta que “Poderia ter sido um processo gradual, de auto-determinação progressiva, com uma retirada igualmente progressiva da Administração Portuguesa, até à Independência Completa.”

Essa questão dá-me forças para redarguir com a seguinte questão:

500 anos de colonização não foram suficientes para que os portuguese preparassem os guineenses para tomarem conta das suas terras?

Meu estimado amigo, os portugueses falharam.

Não somente por não terem preparado os guineenses de forma a continuarem o que foi bem feito durante os 500 anos de colonização, bem como falharam desde que aculturaram um povo, desde que abandonaram os antigos Comandos Africanos nas mãos daqueles que haviam morto os seus familiares, aqueles que as suas mulheres e filhas foram vitimas de estupro, falharam até na forma de perder a guerra.

Lamento a perda 3 Majores, 1 Alferes metropolitanos e 3 Soldados locais, mas foram essas “ crueldades “ que deram coragem a Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo-Verde para lutarem pela liberdade do seu povo.

Mesmo que hoje, se tivesse que ser a vida do Gaio a pagar pela liberdade de 5 países, eu consideraria um preço baixo para algo de tanto valor.

É muita pena que os nosso historiadores, sociólogos, escritores, estejam dedicados a fazer politica, e não interessados em utilizar os conhecimentos que adquiriram, em nos trazer a versão do nosso lado da história, de forma fria, sem rodeio.

Mas tenho esperança que um dia alguém venha ganhar coragem e fazer um projecto de recuperação e restauração da verdade da colonização, bem como a recuperação dos laços de amizade e de amor criados durante a invasão, para dar sentido a frase que muitos políticos gostam usar nos seus discursos: "Portugal é um pais irmão da Guiné-Bissau.

Esta demagogia, faz me lembrar um passado amargo que sempre me leva a questionar, será Portugal um país irmão da Guiné-Bissau? Passei quase 3 anos para obter um visto para os meus filhos pisarem uma terra, de quem esteve 500 anos na minha terra.

É me difícil aceitar que Portugal ( estado ) veja os guineenses como um povo irmão.

Daí me questionei o ano passado numa publicação, se:

“PORTUGAL É UM PAÍS IRMÃO DA GUINÉ-BISSAU?

Em que circunstâncias os guineenses se sentem privilegiados em relação a outros estrangeiros em Portugal?

Os guineenses-portugueses ( Comandos Africanos ) recebem o mesmo tratamentos que os antigo-combatentes portugueses?

Não seria uma medida de apoio real e de combate a corrupção que existe nas atribuições de Junta Médica na Guiné-Bissau, que " Portugal " montasse um centro clínico de inspecção, com a finalidade de verificar quem realmente necessita de Junta Médica?

Portugal como um Estado irmão mais maduro, em momentos de conflitos como o que vivemos hoje, não seria de louvar que ele assumisse o papel de promotor de debate entre os intervenientes da crise guineense, ao invés de proporcionar mais tempo de antena a uma só parte desta crise agudizando, prolongando e patrocinando mais a crise?

Será que Portugal se interessa em verificar se as ajudas que oferece ao povo guineense chegam as mãos dos guineenses que realmente precisam, ou não se importa que fique em mãos alheias ou o fazem por ser uma forma de garantirem privilégios dados pelos os guineenses que acabam por ser usufruidores dessas ajudas?”

Nha amigu Joaquim, desde o inicio da nossa amizade que eu deduzi que esta amizade seria uma escola para mim, e os seus comentários revelam que as minhas previsões estavam certas, mesmo do modo como se dirige as pessoas, que apesar de terem pensamentos e conhecimentos antagônicos, bem como no conteúdo dos seus acrescentos. Reconheço a minha necessidade de estudar mais a história escrita, mas nesta temática da colonização, atribuo a importância a esses escritos sabendo que está á ser relatada pelo meu ( antigo) inimigo, ciente da necessidade de a acompanhar com a versão dos meus de sangue.

Mas permita-me trazer algo que fui ler a minutos para poder responder a algumas questões aqui colocadas, que através do Google refresquei a memória que Portugal invadiu a Guiné por volta dos anos de 1446, que foi por essa altura que o Português Nuno Tristão chegou á Guiné-Bissau e essa invasão veio a ser legitimada pela conferencia de Berlim, e deste essa altura que foi interrompida o desenvolvimento da Guiné-Bissau pensada pelos seus filhos, até que um dia, Cabral iniciou a luta de libertação nacional, nos devolvendo a independência em 1974 e hoje ainda lutamos para o afirmar.

Não ignoro os conhecimentos dessa história escrita, por calcular que a sua maioria não ter sido escrita pelos meus, mas dou grande importância à historia contada pelos meus, por muitos deles não terem tido a oportunidade de adquirir conhecimentos que lhes possibilitasse transporta-los para letras. Mas deixo a minha promessa de apresentar aqui neste espaço as versões ocultas da nossa história ( umas por vergonha, outras por medo de reactivar ódio e vingança ), narradas pelos participantes delas, nomeadamente as dificuldades dos próprios Comando Africanos de adquirirem a nacionalidade portuguesa em Portugal. Essa foi uma das tantas ingratidões apresentadas pelo estado português , para com aqueles que lhes deram a esperança de se manterem na reinança da Guiné-Bissau.

E muitas outras que não são contadas pelos meus, por os próprios não se terem apercebido que foi uma estratégia dos próprios portugueses, no focar em recrutar indivíduos da etnia Fula ou da religião muçulmana ( aqueles que hoje representam a maioria da população ) facilitando assim o ódio entre os guineense para melhor reinar.

Acto esse, que leva, que até hoje, alguns desatentos letrados, a afirmarem que os fulas ou os muçulmanos são traidores, colocando-nos hoje ainda na necessidade de relembrar a frase de Amílcar Cabral, em que diz;

“ para nascer a nação as etnias tem que morrer “.

Em relação á responsabilidade que eu atribui a Portugal pelos fuzilamentos, eu poderia simplesmente sustentabilizar dizendo que um documento assinado por si só não trava as represálias de inimigos de luta, assim como, os documentos de muitas organizações internacionais a solicitar que Portugal atribuísse a independência de forma pacifica não teve efeito, e muito menos um documento reconciliaria todo um povo martirizado por 11 anos de luta armada, que deixaram marcas que até hoje ainda são visíveis.

Eu acredito que mesmo que os soldados não os tivessem fuzilado, muitos deles seriam mortos nas mãos de alguns cidadãos revoltados, por essa reconciliação não ter sido bem preparada.

Uma verdadeira reconciliação presume-se que seja onde ocorra um debate exaustivo, avaliando os níveis de prejuízo das vitimas, reconhecendo os erros por parte dos opressores, pedindo desculpas aos familiares das vitimas, recompensando as perdas humanas e materiais, resumindo um EXERCICIO DE JUSTIÇA.

A semelhança do o que eu disse no ano passado, eu ainda continuo a atribuir grande responsabilidade a Portugal pelo estado em que a Guiné-Bissau se encontra em 2018.

Diria que Portugal é responsável por, em 2018 ainda não sermos capaz de uma acção cívica que outrora em Portugal , em meados de 1976 a comissão de moradores de Setúbal já se deslocavam à porta dos políticos, a meio da tarde, e só saiam de lá a meio da noite, exigindo a satisfação das suas necessidades, numa dinâmica admirável.

AINDA HOJE NÃO SOMOS CAPAZ DE TAMANHA OUSADIA, PELOS ANOS QUE FOMOS SERVIÇAIS DOS PORTUGUESES NA NOSSA PRÓPRIA TERRA.

Será que, está nossa passividade, não é fruto dos 500 anos de submissão, onde fomos obrigado aprender a esperar pela VONTADE do colono em nos oferecer migalhas, para garantir a nossa própria sobrevivência?

Portugal tem a responsabilidade de dar, as melhores orientações aos nossos políticos, por nos terem obrigado a uma luta de 11 anos na REIVINDICAÇÃO DE UM DIREITO NATO. ( LIBERDADE )

Portugal é responsável pelo nosso fraco desenvolvimento, POR TER INTERROMPIDO O NOSSO DESENVOLVIMENTO COM A SUA INVASÃO.

Portugal é responsável pelo fuzilamento dos seus aliados ( Comando Africanos ), que durante uma guerra de 11 anos, onde exibiu nas tabancas cabeças espetadas em paus, violou mulheres, matou crianças, torturou sem piedade guineenses...

DEIXAR OS SEUS MANDANTES COM AS VITIMAS DESSE TERRORISMO, SEM ANTES CRIAR CONDIÇÕES PARA UMA VERDADEIRA RECONCILIAÇÃO, É SINÓNIMO DE CONCENTIR AS SUAS EXECUÇÕES.

Os Comandos Africanos que não seguiram os seus mestres, foram tão cobardes e irresponsáveis, quanto à acção que tiveram ao aderir ao Comando Africano.

Fico por aqui, ILUSTRE JOAQUIM, e o senhor é merecedor da denominação de ILUSTRE. QUEM dera a muitos dos doutorados terem a capacidade de compreender a necessidade de participar nos debates, mesmo quando o assunto é sensível a ferir susceptibilidades, mesmo quando a pessoa que admirados é respeitamos tem uma visão díspar da nossa. Quem dera a muito doutores terem esta sua capacidade de transmitir a sua ideia e visão sem ofender ninguém.

Quem dera a muitos ilustres da nossa praça, poderem vir aqui a este espaço e dizer " Eu amei os seres humanos, mesmo quando disparamos uns contra os outros "

Na verdade sinto-me emocionado com as suas palavras que demonstram o comportamento que assumiu durante o colonialismo. O meu obrigado por ter partilhado a dor e ter incentivado o respeito pelo meu povo.

Obrigado pela oportunidade de trocar letras consigo ILUSTRE

/ Gaio Martins Batista Gomes /,via facebook