sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

HERÓIS DE 23 DE JANEIRO PEDEM RECONHECIMENTO DA PARTE DAS AUTORIDADES DO PAÍS

combatentes

O jornal O Democrata traz na sua edição impressa desta semana, as vozes dos heróis vivos do ataque ao quartel de Tite no dia 23 de Janeiro de 1963, sob o comando de Arafam Mané (N’Djamba). Este ato marcou igualmente o início da luta armada de libertação nacional. Os heróis vivos entrevistados contaram a nossa reportagem que se sentiram orgulhosos pelo esforço e contribuição que deram durante a luta armada da libertação nacional, numa altura em que o partido não reunia condições em termos de armamento e de homens preparados para o combate. Por outro lado, pediram igualmente o reconhecimento da parte das autoridades do país.
 
Recordam com orgulho e satisfação que na altura do ataque nem todos os combatentes tinham armas, porém o quartel de Tite estava muito bem protegido pelo exército português, com homens bem preparados e armados.
 
imageMAJOR INFÁMARA DABÓ: SINTO-ME ORGULHOSO PELO MEU PAPEL NO ATAQUE AO QUARTEL DE TITE
O Major Infámara Dabó explicou a nossa reportagem que no dia 23 de Janeiro, as equipas formadas para atacar o quartel de Tite tinham apenas uma arma para mais de dez homens. Os restantes combatentes levaram catanas e paus. Recordou que ficaram na mata desde muito cedo pela manhã à espera da chamada dos seus colegas para atacar, o que acabaria por acontecer apenas a partir da uma hora (01) de madrugada. No rescaldo do ataque houve dois mortos e dois feridos.
 
O combatente explicou ainda que o grupo partiu da barraca que se encontrava na aldeia de Nova Sintra, sob a orientação do comandante Arafam Mané e que este os tinha instruído da forma como deveriam organizar-se e atacar o aquartelamento. Avançou ainda que o grupo de que fazia parte estava a ser dirigido por Tchambu Sanhá.
 
Infámara Dabó disse que durante o ataque levou um tiro no pé que lhe causou ferimentos graves. Lembra-se que passou mais de 30 horas sobre uma árvore sem beber água e que perdeu muito sangue. Com o calar das armas retiraram-se do quartel e foram procurar zonas mais seguras para tratar os feridos.

“Os portugueses seguiram-nos e durante alguns dias andaram a nossa procura. Algumas pessoas que faziam parte do grupo do ataque foram apanhadas ao longo da estrada, mas defenderam-se dizendo que estavam em viagem e que não conheciam os indivíduos que atacaram o quartel. Conseguiram assim escapar-se dos tugas”, narrou o herói.
 
BIOGRAFIA: Infámara Dabó, nasceu em 1944 em Gantongho, sector de Tite na região de Quínara, sul do país. Aderiu a luta quando tinha apenas 19 anos de idade. Fez parte do grupo de guerrilheiros que se encontravam na barraca da aldeia de Nova Sintra. Foi mobilizado pelos seus colegas na altura para aderir a causa da independência. Foi Comandante adjunto de logística do Estado-maior (zona centro) em 2000. Foi promovido ao posto de major em 2004. Atualmente tem 70 anos de idade.
 
imageQUEBADJAM DJASSI: SOBREVIVENTES DE 23 DE JANEIRO NÃO FORAM RECONHECIDOS

 Quebadjam Djassi, que actualmente padece de trombose, caminhando com ajuda de uma bengala, contou à nossa reportagem que os sobreviventes do ataque ao quartel de Tite não foram reconhecidos pelos sucessivos governos, tendo afirmado que as autoridades lembram-se deles apenas nas comemorações do 23 de Janeiro.
 
Djassi apelou ao respeito e à consideração para os combatentes, dado que no passado foram eles que tiveram a coragem e a ousadia de atacar um aquartelamento das tropas portuguesas, em Tite. Esclareceu que não pedem dinheiro ou algo a mais, mas querem o reconhecimento da parte de Estado da Guiné-Bissau.
 
Durante a nossa entrevista, lembrou que o ataque ao quartel de Tite fora organizado de uma forma muito segura e que começou com a mobilização de régulos, chefes de tabancas bem como pessoas influentes nas diferentes aldeias.

“Na altura os régulos já tinham armas de fogo que recebiam dos portugueses. Depois de termos tido o apoio dos régulos decidimos reunir para analisar a forma como atacaríamos o quartel de Tite”, informou este sobrevivente de 23 de Janeiro.
 
“Avançamos para o ataque ao quartel de Tite depois da concentração de toda agente na barraca de Nova Sintra. O nosso objectivo principal não era apoderar do quartel, porque sabíamos que não tínhamos nem meios nem homens suficientes para uma ocupação definitiva. Queríamos sim libertar os prisioneiros que os tugas lá tinham, dado que muita gente estava lá detida. Infelizmente não conseguimos libertar um único prisioneiro, devido a uma ordem que recebemos mais tarde de apenas atacar e sair”, explicou.
 
O tenente-coronel Quebadjam Djassi informou ainda ao nosso jornal que desempenhou as suas funções sem receber salário durante sete anos de exercício e que ainda (Estado) deve-lhe salários correspondentes a nove anos de funções como major. Estes valores não foram pagos até a data presente.
 
Este sobrevivente da luta de libertação e do ataque ao aquartelamento de Tite encontra-se doente desde 2007, vítima da Trombose, e que não recebeu nenhum apoio financeiro para tratamento.
BIAGRAFIA:

 Quebadjam Djassi nasceu no dia 05 de Maio de 1946. Aderiu à luta aos 20 anos de idade na base da Nova Sintra. Depois da independência foi promovido ao posto de capitão, mais tarde subiu para o de major. Desde 2001 é reservista com patente de Tenente Coronel. Este sobrevivente de 23 de Janeiro encontra-se na sua casa lutando contra a trombose que o paralisou.
 
Por: Aissato Só