Nós vimos e assistimos muitas tolices por parte de algumas figuras públicas, na nossa terra. Recordo-vos que o barrete vermelho de Kumba Ialá - que não era peça de índole religioso - era alvo de troça e critica de muito boa gente. Depois da sua destituição, já no tempo de Malam Bacai Sanhá e de Carlos Gomes Júnior, vimos essas figuras usarem túnicas e gorros (sumbia) imitando Cabral. Nessa altura, mesmo com as suas cargas simbólicas, não houve escárnios ou críticas.
Ora, repugna-me sim o uso intencional de "vestes sacerdotais" pelas figuras públicas, representando instituições de um Estado laico, como é o nosso. As instituições do nosso Estado não são "Fazendas de Shebaa", território onde se cruzam fronteiras de várias proveniências. Não são lugares de culto ou de peregrinação da fé religiosa. Guardião ou autoridade pública em instituição de um Estado laico não se pode confundir com "balobeiro", aladje ou padre. O traje deve ser - sobretudo quando ainda não se tem consenso sobre o assunto - o usual entre os responsáveis ou representantes dos Estados semelhantes em outras partes do planeta terra.
Na Guiné-Bissau, as figuras investidas em cargos públicos não devem pensar que se tornaram "balobeiros" ou padres. Falo nisso a pensar na insistência de Cipriano Cassamá em usar túnica islâmica, sendo ele Presidente da Assembleia Nacional Popular de um Estado laico. Isso não é africanidade, mas sim religiosidade. A religião é profissão de fé individual e privado da cada um de nós. Não se pode inculcar aos outros a nossa fé religiosa e nem sequer ela se pode confundir com a cultura ou política.
Nababu Nadjinal