O Centro Escolar Attadamun, AMA, onde se encontra montado hospital de campanha dos médicos militares marroquinos e onde se encontra a equipa médica deste país amiga, tem vindo a realizar consultas e tratamento médico gratuitos à população guineense, este local transformou-se num centro de “salvação e de esperança dos doentes guineenses”, segundo o apelidaram aqueles que procuram os seus serviços. São tantos, vindos das diferentes zonas do país e não só, alguns até das localidades vizinhas do país. Os pacientes guineenses que chegam a pernoitar mais de uma noite, lamentam o custo de saúde no país, bem como a falta de acesso à mesma e ao custo dos próprios medicamentos.
Para alguns observadores atentos da situação do país, a aglomeração de guineenses nas tendas médicas dos marroquinos demostra claramente o elevado custo de saúde no país.
O semanário “O Democrata” efectuou uma reportagem junto do centro Attadamun onde constatou o esforço e o sofrimento de centenas de cidadãos nas filas à espera da sua vez para o atendimento médico. As consultas começam todos dias a partir das nove horas e se prolongam até às 14 horas.
Uma outra equipa de reportagem passou junto do centro Attadamun no período da noite e constatou “in loco” que um grande número dos pacientes faz questão de dormir ao relento em tapetes (esteiras) estendidos no chão, a fim de conseguirem uma vaga para consulta, porque normalmente, os madrugadores conseguem ocupar os primeiros lugares nas filas e são atendidos dentro das horas de atendimento.
Os médicos militares marroquinos, que inicialmente se deslocaram ao para tratarem apenas dos problemas de vista em particular cataratas, e, tendo em conta a solicitação e procura da parte dos pacientes guineenses com outras patologias, acabaram por estender os seus serviços a consulta em clínica geral. Uma grande parte dos pacientes passa a noite deitada em tapetes (esteiras) no chão em más condições, enfrentando a escuridão a chuva e aos mosquitos, na tentativa de conseguirem uma vaga de atendimento médico.
“TRATAMENTO MÉDICO E MEDICAMENTOSOS SÃO CAROS NA GUINÉ-BISSAU”
A nossa reportagem viu um paciente de 35 anos de idade que dormia num saco roto. Interpelado pela nossa reportagem, contou que padece de problemas de estômago que lhe transtorna a saúde há vários anos, pelo que decidiu recorrer aos médicos marroquinos a fim de ver se consegue tratamento.
“Fiz o tratamento em alguns centros hospitalares de referência do país, mas em vão. Diz que tentou igualmente o tratamento tradicional que resultou em nada. “Os nossos hospitais são muito caros, desde a consulta médica, análises e receita médica são todos caros. Esta é a razão que me trouxe aqui, a procura de um tratamento de qualidade e com bons medicamentos, gratuitamente”, explicou o paciente que na altura estava a contorcer-se, com dores.
Este paciente contou ainda que levou três dias a procura de consulta médica, mas não conseguiu devido a sua chegada tardia ao local, pelo que decidiu dormir ao lado do centro de forma a poder estar logo nas primeiras filas das pessoas que poderão ser atendidas.
Assegurou ainda que os guineenses debatem -se com problemas sérios de saúde, devido a falta de acesso à mesma e de dinheiro para o tratamento. Acrescentou ainda que “pode-se pensar que as pessoas estão aqui para aproveitarem do tratamento gratuito, mas outra coisa que se deve tomar em conta é a facilidade do tratamento e a qualidade dos medicamentos oferecidos”.
“Nos nossos hospitais temos imensas dificuldades em conseguir tratamentos por falta de dinheiro e, as vezes, por falta de um bom atendimento do pessoal de saúde. Outra preocupação é a qualidade dos medicamentos, dado que o paciente leva muito tempo a tomar medicamentos cuja validade está caduca e com a consequente perda de qualidade”, lamentou o doente.
MULHER DE 60 ANOS DE IDADE PROCURA CONSULTA MÉDICA HÁ DUAS SEMANAS NO CENTRO
Uma mulher de mais de 60 anos de idade contou a “O Democrata” que levou duas semanas a procura de consulta médica e tratamento, mas infelizmente não conseguiu. Frisou que não desistiria e que estava disposta a ficar todos os dias ali até conseguir.
Informou que padece de dores nas costas que as vezes não a deixam dormir e até andar, pelo que decidiu sacrificar-se todos os dias a procura de tratamento junto dos médicos militares marroquinos.
“Estou esperançada de que, com ajuda de Deus, um dia serei atendida. Estou a pensar em vir dormir aqui de forma a poder ser atendida. Muitas pessoas procuram este local para serem atendidas pelos brancos, porque fazem bom tratamento. Por isso é que estou aqui e espero que vou conseguir um dia ultrapassar a minha doença”, disse.
A “mulher grande”, aproveitou o microfone da nossa reportagem para agradecer ao Presidente da República, José Mário Vaz, pelos esforços de trazer o Rei Mohammed VI de Marrocos ao país, que igualmente mobilizou os médicos militares para tratar os pacientes guineenses.
“Apenas Deus é que pode pagar ao Presidente JOMAV e ao rei Mohammed VI. Muitas pessoas foram curadas aqui e até as pessoas que já tinha desistido de procurar tratamentos, porque aqui nesta terra seria impossível conseguirem tratamento. A consulta médica é muito cara e nós os carenciados temos dificuldades em custear o nosso tratamento e comprar os medicamento”, contou.
A nossa reportagem ouviu igualmente testemunhos de pacientes já tratados, que enalteceram o trabalho feito pela equipa marroquina. Confirmaram a “O Democrata” que estão a evoluir normalmente, ou seja, estão a recuperar muito bem do tratamento, graças aos medicamentos que estão a tomar.
Um dos pacientes ouvido pela nossa reportagem que foi submetido a uma intervenção cirúrgica de catarata, Braima Camará, veio do sector de Pirada (região de Gabú). Camará considerou de muito importante os trabalhos dos médicos militares marroquinos, porque a maioria da população não possuí meios financeiros para poder tratar-se nos centros mais especializados do país.
JORNALISTA DE “NÔ PINTCHA” OPERADO A APENDICITE COM SUCESSO PELOS MEDICOS MARROQUINOS
O jornalista do jornal estatal “Nô Pintcha”, Aliu Baldé, foi submetido a uma intervenção cirúrgica de apendicite. Este nosso colega explicou à nossa reportagem que está a recuperar normalmente, adiantando de seguida que já está em condições de retomar as suas actividades diárias.
Aliu Baldé justificou aglomeração de pessoas junto a vedação do centro de atendimento, por falta de meios económicos da população no sentido de procurarem tratamento nos hospitais de referência do país.
“As vezes as pessoas ficam em casa com as suas doenças sem procurar médicos por falta de meios económicos. E eu sou um dos exemplos dessa situação, porque informei-me dos vários preços para o tratamento de apendicite no Hospital Nacional “Simão Mendes”, contou Baldé, que entretanto, frisou que graças a missão médica marroquina conseguira tratar-se sem pagar nenhum franco CFA, nem para o tratamento, nem para os medicamentos.
Aliu Baldé disse a “O Democrata” que fez dois dias no centro e que durante esses dias toda a alimentação foi suportada pela missão marroquina. No entanto, aconselhou os guineenses e em particular os que padecem de qualquer doença para procurarem o centro da missão médica marroquina para tratarem-se, porque esta “é uma oportunidade disponível para se tratar independentemente das condições financeiras”.
Sobre as longas filas de pacientes no centro de atendimento, o Secretário de Estado da Gestão Hospitalar, Domingos Malú, disse que a situação não tem nada a ver com falta de capacidade de resposta do sector da saúde à população e nem justifica que saúde pública guineense é cara.
MÉDICOS MILITARES PODERÃO VIR FAZER CONSULTAS E TRATAMENTO GRATUITO NO FUTURO
Entretanto, a equipa de reportagem do semanário “O Democrata” contactou o responsável da Divisão de Saúde Militar, Coronel Tcham Na Man, a fim de falar da situação das consultas médicas efectuadas pelos militares marroquinos aos cidadãos guineenses, como também explicar se no futuro os médicos militares guineenses poderão dar consultas médicas e tratamento gratuito à população guineense.
O Coronel Tcham Na Man explicou que os médicos militares marroquinos ficarão no país por algum tempo para ajudar nas consultas e no tratamento dos guineenses. Informou que uma equipa da missão militar marroquina esteve no país a fim de fazer o levantamento das necessidades das forças armadas guineense, dado que aquele país do magreb pretende dar um apoio robusto às forças armadas, sobretudo no sector da saúde.
Assegurou que o registo das necessidade na área de saúde militar, assim como noutras áreas do sector da defesa será traduzido num protocolo de acordo a ser assinado brevemente, pelos executivos dos dois países.
O responsável da Divisão de Saúde Militar contou que o seu departamento apresentou uma lista de prioridades à missão marroquina de saúde militar que vão desde os equipamentos dos hospitais militares de zonas e a construção de um Hospital Militar de referência ao nível de sub-região, como também a formação especializada dos seus quadros.
“Este ano está prevista o envio de médicos militares guineenses para uma formação especializada em saúde militar no Reino de Marrocos, também o mesmo acontecerá em 2016. Se o país conseguir efectivar a assinatura do protocolo de cooperação na área de defesa com Marrocos, os equipamentos dos centros hospitalares militares no interior, bem como a formação dos médicos militares guineenses poderá ser uma realidade e talvez estaremos em condições de realizar campanhas médicas para a consulta e tratamento gratuito ao nível do país”, precisou.
De referir que a equipa de médicos marroquinos encontra-se no país desde o passado mês de Maio, no quadro da visita do Rei de Marrocos, Mohamed VI à Guiné-Bissau.
Por: Alcene Sidibé/Tiano Badjana