Os populares da secção de Cutia, sector de Mansoa na região de Oio, norte da Guiné-Bissau, enfrentam enormes dificuldades relativamente a água para o consumo humano, obrigando-lhes a deslocarem-se três quilómetros a procura deste líquido precioso e indispensável para a sobrevivência humana.
Cutia tem um furo de água potável, mas falta instalar 12 (doze) tubos que permitirão que a água chegue à população. Apesar disso, os cutienses deparam-se com falta de meios financeiros para suportar os custos da compra da dúzia de tubos, por isso, apelam às autoridades e à qualquer entidade que possa ser útil à sua preocupação que façam algo para minimizar o seu sofrimento.
Os habitantes da secção que fica situada entre os sectores de Mansoa e de Mansaba deslocam-se até a localidade que chamam de Cutia de Baixo, a três quilómetros do centro, para obter a água potável.
A secção Cutia é habitada por 1.250 (mil e duzentos e cinquenta) pessoas e situa-se a 15 (quinze) quilómetros da cidade de Mansoa e a 15 (quinze) do sector de Mansaba, ou seja, localiza-se no meio dos dois sectores da região.
Os seus 1.250 (mil duzentos e cinquenta) habitantes vivem sem um centro de saúde que preste os primeiros socorros aos populares, mas neste momento a sua maior preocupação tem a ver com a água para beber e fazer outras necessidades básicas.
A par da secção, outras tabancas da região têm a mesma preocupação, nomeadamente as aldeias de N’djasan, Mansaba Sutun, Candenqué Mandinga, Tambató e Santambató.
Na qualidade de porta-voz das mulheres de Cutia, Binta Seidi lamenta a situação com que população local se depara, no concernente à falta de água potável.
“Somos obrigados a deslocarmo-nos três quilómetros para conseguir a água a fim de resolvemos as nossas necessidades básicas. Ninguém sai da sua casa para pedir comida, mas saímos das nossas casas para pedir água para beber. Quem não tem água para beber tem vida curta! Aqui não temos boa escola e saúde não existe em Cutia, ajudem-nos neste sentido”, implorou.
POPULAÇÃO DE CUTIA QUER MAIS SALAS DE AULA NA SECÇÃO
A procura do ensino aumentou na secção. A população local pediu a intervenção do estado com vista a aumentar as escolas. Pedem mais salas de aulas, o que fez com que os responsáveis da educação no local construíssem algumas salas improvisadas em barracas.
Cutia conta atualmente com os níveis de 1ª (primeira) à 9ª (nona) classe. Os pais e os encarregados de educação exigem ao governo guineense que alargue os níveis, pelo menos até 12º (décimo segundo) ano de escolaridade, facilitando desta forma a retenção de jovens e evitar o êxodo rural, o que ajudaria na manutenção de produção das famílias.
Os pais e encarregados de educação da secção confessaram que lhes custa muito mandar os seus filhos estudar longe dos familiares, tendo em conta que carecem de meios financeiros para custear os estudos dos mesmos em Mansoa ou Bissau onde a vida é mais cara.
O chefe das tabancas de secção, Agostinho Martins, manifestou a sua preocupação relativamente à falta de água potável, pedindo à Administradora de sector de Mansoa para agilizar no sentido de solucionar a crise.
No que refere à falta de salas de aulas, Martins pede apoios para aumentar os pavilhões de salas de aula. Atualmente Cutia conta com um pavilhão com duas salas, assim como duas barracas improvisadas, cada uma tem apenas uma sala.
“Queremos mais salas para que os nossos filhos possam aprender a ler e escrever. Aqui nós os pais, obrigamos os nossos filhos a irem à escola, porque inscrevemos-lhes para isso”, disse uma das mães ao repórter do jornal O Democrata que esteve recentemente no sector de Mansoa.
IMAME CENTRAL DE CUTIA PROMOVE ENSINO OFICIAL E CORÂNICO
O imame central da mesquita de Cutia, Bubacar Seidi, é um dos promotores do ensino oficial (português) e corânico naquela secção. De acordo com o líder religioso, para que uma pessoa tenha conhecimento daquilo que passa a volta do mundo tem que estudar para saber como está o mundo, assim como conhecer os lugares onde não tem oportunidade de chegar, mas através do livro é capaz de conhecer.
“Levanto-me para o desenvolvimento de ensino oficial e corânico aqui na secção de Cutia. Os professores são testemunhas disso, mas ainda não temos força para fazer aquilo que pretendemos fazer, porque estamos um pouco limitados. Temos os níveis de 1ª a 9ª classe, mas queremos que seja alargada até 12ª classe”, observou o líder religioso, para de seguida salientar que os seus filhos terminaram o liceu em Cutia, mas não tem meios financeiros para mandar-lhes para a capital Bissau para prosseguirem os estudos, acrescentando que muitos pais estão na mesma situação.
Bubacar Seidi já tem outros filhos a estudar na capital, mas com dificuldades para pagar os seus estudos, assim como a sua estadia em Bissau, porque não tem casa nem residência na capital. Por isso não quer mandar mais filhos para Bissau, mesmo tendo estes concluído os níveis disponíveis em Cutia. É um motivo forte para o líder islâmico exortar ao Estado que construa mais escolas e alargue o nível de escolaridade na localidade, o que ajudará os pais e encarregados de educação sem meios económicos para mandar seus filhos para fora de Cutia.
AGRICULTORES DE CUTIA PEDEM MÁQUINAS AGRÍCOLAS PARA MELHOR PRODUÇÃO DE ARROZ
Sendo uma população essencialmente agrícola, os populares de Cutia pediram ao Estado da Guiné-Bissau que afectasse a vila com máquinas, o que ajudaria na melhoria e maior produção de arroz. Segundo os responsáveis cutienses, aquela secção dispõe de boas bolanhas que produzem arroz de boa qualidade.
“Estamos cansados de fazer os trabalhos manuais nas nossas bolanhas, por isso apelamos ao Estado da Guiné-Bissau que nos ajude com tractores. Isso facilitaria os nossos trabalhos e consequentemente teriamos melhor qualidade de arroz e maior quantidade de produção nas nossas boas bolanhas”, disse Agostinho Martins à equipa de reportagem do semanário ‘O Democrata’.
Binta Seidi, em representação das mulheres de Cutia reforçou o pedido de apoio no que tange às máquinas de lavoura para ajudar a população local nas culturas das bolanhas.
“Temos boas bolanhas, mas não temos máquinas que nos ajudem nas nossas bolanhas. Aqui em Cutia, a maioria já não tem idade para os trabalhos de bolanha que exigem muita força. Temos uma boa espécie de arroz que chamamos aqui de Nema Tullai. Se o comer no almoço pode ficar sem jantar, desde que tenha água para beber. Por isso peço que nos ajudem com máquinas de lavoura, porque já não temos forças suficientes para produzir bastante nas bolanhas. Não queremos passar pelo mesmo sacrifício como os nossos ancestrais”, vinca Binta Seidi.
Os populares de Cutia pedem ainda máquinas de descasque de arroz, o que facilitaria muito as famílias de Cutia.
O Imame local, Bubacar Seidi, afirmou que têm bolanhas enormes. Trabalhando à mão, é muito difícil para uma pessoa trabalhar um hectar. Mas se for com tractores, a produção seria maior. Os cutienses estão disponíveis para pagar o aluguer dos tractores.
Recorde-se que os populares de Cutia aproveitaram a ocasião da comemoração do ‘Dia Mundial da Tolerância Zero a Mutilação Genital Feminina”, celebrado no dia 6 de Fevereiro de 2017, tendo como palco central a secção de Cutia, para reiterar todas essas preocupações, na presença da Primeira-dama da Guiné-Bissau, Maria Rosa Vaz, que depois de ouvir o seus pedido de socorro prometeu transmitir ao governo da Guiné-Bissau as dificuldades que ouviu dos cutienses.
Por: Sene Camará