sábado, 25 de janeiro de 2014

APRESENTAÇÃO: O PODER ESTÁ NAS VOSSAS MÃOS, O FUTURO ESTÁ NAS VOSSAS MÃOS!


 Umaro Djau, GBissau.com
…o maior fracasso na implementação da democracia na Guiné-Bissau tem sido a “fragmentação” propositada dos grupos, instituições e etnias e a “neutralização” sistemática das frentes políticas do país. Claro, com mais de 40 partidos políticos num universo eleitoral de menos de 700 mil votantes, ninguém podia esperar a “fortificação” de influências partidárias ou a convergência de liderança. Ninguém me poderia convencer de que esta diversidade política e numérica reflecte apenas só o espírito competitivo do tecido político guineense. (…) Antes pelo contrário, esta “diversidade” reflecte várias realidades: a desunião, o egocentrismo, o individualismo e a falta do espírito colaborativo e do compromisso entre os guineenses.

Por Umaro Djau | umarodjau@gmail.com

O ano de 2014 que agora começa, apesar de todas as incertezas e dúvidas, apresenta-se como um ano com grandes promessas para o Povo da Guiné-Bissau, com a realização das eleições legislativas e presidenciais no país. Apesar das incertezas sobre as consequências eleitorais, o seu cumprimento rigoroso e cabal irá representar um ponto de partida para a Guiné-Bissau.

E na expectativa de que acontecimentos do tipo 12 de Abril de 2012 é um sobressalto que pertence ao passado, resta-nos esperar que, desta vez, o Poder estará nas mãos do Povo, assim como o futuro político da Guiné-Bissau.
As frases “o poder está nas vossas mãos”, e “o futuro está nas vossas mãos” apresentam-se como simples, mas constituem lemas poderosos, cujos objectivos visam criar a confiança, elevar a auto-estima e ensinar as pessoas a escolher as suas acções, comandar as suas vidas e aceitar os resultados e as consequências das suas acções, em vez de culpabilizar algo ou alguém. Sei que se trata de uma visão optimista e até ingénua, mas também alcançável, na minha perspectiva.
Mas, em primeiro lugar, analisemos o contexto da Guiné-Bissau e a minha assunção optimista “o poder está nas vossas mãos”.
Para muitos guineenses esta assunção parece mais uma realidade virtual que está fora do alcance de uma vasta maioria da população. Provas disso, conforme argumentam muitos, podem ser encontradas em todos os lugares: nas aldeias, nas cidades, nos mercados, nos negócios, nos meios de comunicação sociais, nos órgãos governamentais, nas instituições civis, sociais e religiosas. E em cada uma dessas instâncias tem havido um enraizamento da cultura da “impotência” física, psicológica e mental face aos problemas e aos desafios crónicos do país.
Estranha-me que um país como a Guiné-Bissau (repleto de quadros e pessoas inteligentes e capazes dentro e fora do seu território e de uma juventude vibrante) esteja circunscrito à tamanha “impotência” e ao espírito de “não sermos capazes” de tirar o país da situação actual!
Em qualquer viagem para a Guiné-Bissau, somos confrontados com um dos cenários ou um conjunto de práticas ou hábitos que sempre fizeram falhar o país e desiludir as esperanças do Povo. E este Povo da Guiné-Bissau, anteriormente conhecido pelas suas fortes capacidades de luta e de adaptação, aprendeu agora a viver com esta “impotência” e o espírito de “Djitu Katen”.
E este mesmo Povo vai injuriando os “culpados” e vai reclamando nos seus encontros de “djumbai”, nas suas reuniões de bairro ou em pequenos círculos em torno de um café ou uma refeição. Mas, este mesmo Povo – desgastado pelo espírito de impotência – já não se lembra de que o Poder absoluto está nas suas mãos. Ao invés de fazer algo para reclamar, influenciar e alterar os destinos do seu país, o Povo, mas sobretudo a franja mais influente da vida política e intelectual guineense prefere ignorar a realidade e, consequentemente, por imposição própria, neutralizar-se. Ainda assim, cada pessoa individual vai tentando encontrar um papel para si ou “fabricar” uma razão de continuar a agir da forma como tem tido, ou seja, a aceitação da aparente realidade.
Baseado nesta minha modesta observação, diria que o maior fracasso na implementação da democracia na Guiné-Bissau tem sido a “fragmentação” propositada dos grupos e etnias e a “neutralização” sistemática das frentes políticas do país. Claro, com mais de 40 partidos políticos num universo eleitoral de menos de 700 mil votantes, ninguém podia esperar a “fortificação” de influências partidárias ou a convergência de liderança. Ninguém me poderia convencer de que esta diversidade política e numérica reflecte o espírito competitivo do tecido político guineense.
Esta mesma “fragmentação” político-partidária durante os 20 anos de democracia (1994-2014) reflecte várias realidades: a desunião, o egocentrismo, o individualismo e a falta do espírito colaborativo e do compromisso entre os guineenses. É esta a realidade política que tem alimentado a prepotência e a arrogância de uns poucos partidos que se consideram de “detentores” do país e do Povo guineense. Infelizmente, estes processos de imposição, por um lado, e de rendição voluntária, por outro, têm acontecido graças à cumplicidade do próprio Povo e, sobretudo, de tantos partidos “inflacionários” da Guiné-Bissau.
Assim sendo, a Guiné-Bissau tem-se tornado num “refém” de interesses mesquinhos e obscuros de pessoas, para além do Povo, que pensam deter o poder e sentir-se na obrigação de o usar em benefício próprio. Concordando ou não com a minha posição, a Guiné-Bissau tem sido historicamente “sequestrada” pelos condicionalismos e caprichos internos de certos partidos e políticos de elites que pensam deter o poder nas suas mãos à revelia dos interesses superiores do Povo e do País. Leia o artigo completo - gbissau.com