Bissau,
31 jan (Lusa) - Luís Mateus deixou Portugal para se dedicar à agricultura na
Guiné-Bissau, sem nunca pensar que passaria a ser um dos principais
fornecedores de eletricidade nos arredores da capital.
Tudo
começou quando a empresa agrícola que representa, em Safim, instalou um gerador
para abastecer um estaleiro.
"Não
estava previsto fornecermos eletricidade, mas um grupo de pessoas pediu para
lhes levarmos energia para casa", nas imediações, dado que na Guiné-Bissau
não há redes de eletricidade nem água, explica Luís Mateus. O que resta do
serviço público só por vezes funciona nalgumas zonas da capital.
O
negócio cresceu e hoje, para além de produtos agrícolas, os geradores da Agro
Safim fornecem eletricidade 24 horas por dia a cerca de 200 clientes, entre as
quais entidades públicas, e com nova expansão no horizonte.
"Estamos
a contar chegar até perto do aeroporto", à entrada de Bissau, acrescenta o
responsável pela empresa, que acredita na viabilidade do negócio.
Num
país onde não há eletricidade, a firma de capitais portugueses abastece os
clientes desde fevereiro de 2013, 24 horas por dia, com técnicos disponíveis
para resolver quaisquer problemas.
"Este
é um país com muitas oportunidades, porque há pouca coisa", acredita Luís
Mateus.
Tanto
é assim que não se demove com avaliações como a que foi feita no final de 2013
pela revista internacional Forbes que classificou a Guiné-Bissau como o pior
país do mundo para fazer negócios, entre 145 - usando indicadores como direitos
de propriedade, impostos, corrupção e liberdades.
É
preciso "coragem", mas "é mesmo por isso que viemos para cá:
aqui vamos ser bons e se fosse noutro pais, se calhar, não eramos",
ironiza Luís Mateus.
Ele
é a face da Agro Safim com capitais portugueses e que ocupa 15 hectares em
Safim, às portas da capital, com uma equipa luos-guineense de algumas dezenas
de pessoas, num país onde se conta pelos dedos das mãos quem faz agricultura
mecanizada.
Nos
terrenos saltam à vista as estufas, coisa rara, e os canais, abertos depois de
construído um pequeno dique que permitiu travar as marés de água salgada que
inviabilizavam qualquer cultura.
O
projeto dura há pouco mais de um ano, ainda não dá lucro, mas aos poucos
"ganham-se clientes" e a confiança das autoridades e parceiros
internacionais, que ainda há poucos meses incluíram a propriedade num roteiro
ministerial e de parceiros internacionais, de visita a bons exemplos de
exploração agrícola.
"Tentamos
abastecer o mercado. Fazemos experiências com tomate, cebola, alface, pepino,
melão e melancia", descreve Luís Mateus.
Produtos
difíceis de encontrar e com os quais já conquistou vários restaurantes,
vendedoras de feira e outros estabelecimentos, refere
"É
um projeto a longo prazo e na agricultura são necessário vários anos para
alcançar objetivos", conclui, antes de mostrar a próxima aposta: pequenas
laranjeiras, trazidas de Portugal e que vão crescer num recanto da
Guiné-Bissau. Lusa