quinta-feira, 25 de setembro de 2014

40º ANIVERSÁRIO…

Pela primeira vez, assisti uma comemoração tão vazia de “esperança” e de ideais que galvanizam o meu povo. Confesso que estava curioso em conhecer a cosmovisão das novas autoridades legítimas. Como, na realidade, interpretariam o sagrado dia da nossa independência e da nossa identidade enquanto povo? No meu ponto de vista, os discursos proferidos na Assembleia Nacional Popular, deixam muito a desejar. As frases debitadas mais pareciam “recados” de “alguém” enviados  para nós.
 
Não tinham nada de inspiração pessoal dos intervenientes. Por outro lado, não houve parada militar digna de nome. Havia, sim uma banda militar de música que acompanhou o Presidente para ir discursar. Senti um vazio no meu peito, arrepiei-me logo ao recordar-me logo dos sacrifícios consentidos para que chegássemos onde estamos hoje. Só banalidades! Perguntei-me a mim mesmo: será que esses sacrifícios terão valido a pena? Sim, valeram e valerão sempre a pena, como disse o historiador e jurista Pedro Milaco. Mas, acreditem, “há sanguessugas no nosso seio”!
 
A dado momento, no discurso do Presidente Vaz, escutei uma espécie de analogia entre  “golpe de Estado”, luxo e aventura, ao exclamar “basta de sucessivas alterações da ordem constitucional seguidas de períodos de transição política”.
 
O que, de fato, não deixa de evidenciar  a nebulosa ideia que não consegue distinguir que, na verdade, são as sucessivas “má governação”  que precederam sempre as “sucessivas alterações da ordem constitucional” de que referia o Presidente da República, e nunca o contrário.
 
Ainda o Presidente da República, eleito pelo povo da Guiné-Bissau, chamou atenção ao “sinal forte”, uma espécie de ultimato cuja aceitação ou recusa depende a paz ou a guerra. Disse, a propósito do indulto aos cidadãos nacionais como gesto simbólico de reconciliação,  "Esperemos que interpretem corretamente este sinal forte dado pelos novos órgãos de soberania democraticamente eleitos. Fizemos o que nos competia, o que está ao nosso alcance, e agora tudo está do vosso lado".
 
Depois argumentou que todos merecem uma segunda oportunidade, como se na Guiné-Bissau não houvesse já 40.º vez de reincidência quanto à “má governação”, golpe de Estado, assassinatos, etc.  O que, na minha opinião, seria lógico era falar na Justiça, como um dos bens mais escassos na nossa terra.
 
Outra situação que me estoirou, por completo, foi o apelo lançado de “regresso dos emigrantes guineense desempregados”. Posso até dizer que sou um deles! Mas, não acredito na mensagem lançada pelo Presidente Vaz. Perguntem-me porquê? Para mim é só “show off” e não é assim que se fazem coisas sérias!  Por outro lado a mensagem passa ao lado, visto que nos países organizados, “desempregado” recebe subsídio de desemprego.
 
É preciso ser realista e ter capacidade para interpretar os sentimentos do povo. E não é só atirar-lhes com “ideias cor-de-rosa” na cara. Como é que se pode evitar “golpes de Estado”, falando desta forma? Não é fazendo apelos que os guineenses regressam ao país. Em todo o mundo, o desenvolvimento não brota do chão como as sementes que se lançam ao chão para dar plantas e árvores, mas sim dos braços do homem.
 
Teorias há muitas, o que importa é a prática, as obras feitas, o trabalho que atraem o ser humano. A cor dos olhos não nos diz nada! Eu que estou aqui, sou filho de Farim, de uma família camponesa e extensa. Não perguntam como cheguei a Viena, Austria.
 
Saí da minha aldeia, tinha os meus 24 anos de idade e sem profissão. Emigrei para Bissau e fiquei em casa de um tio meu, que depois faleceu. Nem vou explicar como morreu. Hoje, trabalho na hotelaria, há mais de 20 anos, casado com 3 filhos. Estando ou não desempregado, regressarei, a minha aldeia por minha conta e risco e nunca por causa do apelo lançado pelo Presidente da República.
 
O mesmo não poderei desejar a minha família, no que toca a educação e saúde, sobretudo, dos miúdos. . Portanto, temos que ponderar sempre o que vamos dizer as pessoas que durante os 40 anos foram obrigadas a emigrar para os outros países, seja por falta de emprego, ou outras questões quaisquer. O que, na verdade, atrai são as realizações ou a “boa governação”. Nada me impediu o regresso, por isso posso considerar que a mensagem tem o seu destinatário que não seja eu.