sexta-feira, 19 de setembro de 2014

ANGOLA: TEMPO COLONIAL AINDA AFASTA ANGOLANOS DAS LÍNGUAS NACIONAIS, DIZ INVESTIGADOR

Um investigador de linguística afirmou em Luanda que a "carga negativa" do tempo colonial associada à utilização das línguas nacionais ainda hoje persiste em muitas famílias de Angola, que preferem que os filhos aprendam apenas português.
 
Bonifácio Tchimboto, que falava no terceiro Congresso Internacional de Língua Portuguesa, promovido pela Universidade Jean Piaget, de Angola, assumiu que a aprendizagem das línguas nacionais, possível a par da língua oficial, o português, pode estar comprometida.
 
Muitas famílias receiam que o tempo necessário para aprender a segunda língua, nacional, influencie as restantes atividades dos mais novos, optando apenas pelo idioma oficial.
 
Além disso, recordou o especialista, para muitos angolanos ainda persiste a lembrança da placa de madeira com a inscrição "burro", colocada aos estudantes mais novos "apanhados" na escola, no tempo colonial português, a falar umbundu, uma das línguas nacionais angolanas.
 
"Essa carga pesada sobrevive ainda hoje na cabeça de muitos. Temos entre os nossos concidadãos aqueles que olham para o bilinguismo como um defeito, que a competência em duas línguas é um defeito", defendeu Bonifácio Tchimboto.
 
Sublinhou, por isso, que se na altura do tempo colonial português "a luta era tentar evitar falar umbundu a todo o custo", hoje, "em público, muitos dizem que não se deve usar a língua africana".
 
Contudo, o investigador e docente garante que esse afastamento às línguas nacionais vai ainda mais longe. "Temos zonas de Angola em que por exemplo foi retirado da antroponímia, do nome das pessoas, todas as referências às línguas africanas.
 
Os nomes podem ser portugueses, ingleses e até russos, mas não podem tomar nada de África", ironizou. À margem deste congresso, o ministro da Educação de Angola, Pinda Simão, garantiu aos jornalistas que a aprendizagem das línguas nacionais nas escolas é um processo que está em curso e que já conta com material pedagógico elaborado.
 
"Mas é preciso encontrar professores para ensinar as línguas nacionais. A dificuldade é a esse nível, estamos a equacionar soluções", disse o governante.
 
Especialistas de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Timor-Leste, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe estão reunidos em Luanda, até sábado, para um congresso internacional que vai abordar os novos desafios da Língua Portuguesa.
 
O congresso pretende ainda divulgar os mais recentes estudos sobre a língua, discutir a diversidade linguística nos países lusófonos e analisar a associação da competência gramatical dos falantes das línguas africanas e do seu desempenho na língua portuguesa. FONTE: AQUI