domingo, 21 de setembro de 2014

QUATRO DÉCADAS DEPOIS, O LEÃO DE REGRESSO À GUINÉ-BISSAU

"A pegada é inequivocamente de leão" conta Annemarie Goedmakers à agência Lusa em Bissau.
 
O achado foi feito por um colaborador da fundação Chimbo que preparava estações de observação de chimpanzés na floresta do Boé e que registou um som que identificou como um rugido de leão: para tirar dúvidas, no dia seguinte voltou ao local e lá estavam as marcas no solo.
 
"Isto surge como uma espécie de história paralela ao nosso trabalho", focado na proteção de chimpanzés, "mas mostra que a floresta está a ser protegida", ao ponto a espécie sentir condições para voltar, comenta a presidente da organização holandesa.
 
As evidências foram encontradas em maio perto da aldeia de Burquelem, um sítio recôndito no interior da floresta, mas há pelo menos três anos que Annemarie ouve os residentes falar do leão que por ali anda. Se é um ou mais, não se sabe, mas há relatos recentes de avistamento de dois animais adultos com uma cria, testemunhos que para Annemarie Goedmakers merecem credibilidade.
 
"Porque é que a população havia de inventar uma coisa destas", questiona. A bióloga Aissa Regalla espera que um dia destes alguém consiga fazer fotografias que ilustrem as descrições e duvida que a espécie represente perigo para a população.
 
"É uma zona de baixa densidade" de povoamento, explica a técnica do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau. Se algum dia um leão por ali se cruzar com alguém, o mais provável é que encontre "quem vai à caça e já esteja preparado para enfrentar estes animais".
 
"Não sabemos de onde vêm", refere Aissa Regalla, mas a presidente da Chimbo suspeita que, para além da vizinha Guiné-Conacri, podem ser oriundos do Parque Nacional de Niokolo-Koba, no sul do Senegal, uma área que é Património Mundial da UNESCO.
 
A floresta do Leste da Guiné-Bissau foi berço da nacionalidade: a declaração unilateral de independência face a Portugal foi lida a 24 de setembro de 1973 em Madina do Boé. Hoje, a Chimbo é uma das organizações internacionais que, juntamente com o IBAP, preparam a criação de um parque natural que preserve a biodiversidade daquela zona.
 
Annemarie Goedmakers, bioquímica de formação e com um vasto currículo em matérias ambientais, vai fechar este mês de setembro com um nova visita às aldeias envolvidas na monitorização da comunidade de chimpanzés.
 
O leão é bem-vindo e espera-se que, depois desta, surjam mais espécies a fazer crescer a diversidade animal na floresta guineense.
 
"É um sinal positivo para a África Ocidental", contrariando os números que apontam para um recuo da vida selvagem, conclui Annemarie. Fonte: Aqui
 
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