sábado, 13 de dezembro de 2014

UMA FRUTA QUE NÃO CAIU! – I



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Martinho Júnior, Luanda
 
1 – A 28 de abril de 1823, John Quincy Adams, Presidente dos Estados Unidos no período entre 1825 e 1829, em relação a Cuba proferiu esta esclarecedora sentença:
 
“Quando se der uma olhada ao curso que tomarão provavelmente os acontecimentos nos próximos cinquenta anos, é quase impossível resistir à convicção de que a anexação de Cuba à nossa república federal será indispensável para a continuação da união e a manutenção da sua integridade.
 
Há porém leis de gravitação política, tal como as há de gravitação física e assim como uma fruta separada de sua árvore pela força do vento não pode, ainda que o queira, deixar de cair no solo, assim Cuba, uma vez separada de Espanha e da rota de conexão artificial que a liga a ela, é incapaz de suster-se a si própria e tem de gravitar necessariamente em direcção à União Norte-Americana, porquanto à mesma união, em virtude da própria lei, ser-lhe-á impossível deixar de a admitir no seu seio”.
 
Essas palavras foram proferidas num momento de euforia, quando dos treze estados originais, os Estados Unidos se expandiam para oeste, com a compra da Luisiana aos franceses (em 1803), uma cedência de território dos britânicos no norte (em 1818) e a anexação da Florida aos espanhóis (1819).
 
Nessa euforia seguir-se-iam, depois de John Quincy Adams ter passado pela presidência, outras integrações de território em proveito dessa expansão:
 
- A anexação do Texas (1845);
 
- A cedência pela Grã Bretanha do Oregon (1846);
 
- A cedência mexicana junto ao oeste, costa do Pacífico (1848);
- A aquisição de Gadsen, à custa do México (1853);
 
- A compra do Alaska à Rússia (1867);
- Em 1898, a tomada e anexação do Havaí, de Guam (transformada em base naval) e de Porto Rico (que Espanha cedeu para pagar os gastos das guerras), bem como a aquisição das Filipinas (compradas por 20 milhões) e a tutela por via de intervenção de Cuba, marcaram a vitória norte americana na guerra hispano-americana, com a neutralização das forças independentistas.
2 – O nascimento da potência Estados Unidos foi efectivamente feita nessa época, dando sequência à colónia que foi, à independência arrancada à força à Grã Bretanha a 4 de junho de 1776 (com reconhecimento pelo Reino Unido a 3 de Setembro de 1783, por via do Tratado de Paris) e à guerra de secessão, que terminou a 28 de junho de 1865, com a transferência dos bancos de família que comandavam os destinos da Europa desde os tempos imediatamente anteriores às guerras napoleónicas, sustentados pelos empreendimentos colossais que caracterizaram a revolução industrial, com investimentos privados que foram também sendo experimentados e aplicados no esforço de expansão para oeste.
 
Dessa expansão se alimentou desde logo o imperialismo, que instrumentalizou as culturas anglo-saxónicas tornando-as dominantes face às culturas francófonas e hispânicas, que na altura perdiam sua capacidade de colonizar a América por não terem absorvido ao nível, as tecnologias da revolução industrial que já haviam sido conseguidas pelos poderes económicos e financeiros que se transferiam sobretudo do Reino Unido e do império britânico para os “povoadores do novo mundo”que deram corpo aos Estados Unidos.
O nexo entre a expansão e o imperialismo foi por demais evidente nessa época, um gérmen que influenciou o carácter dos relacionamentos dos Estados Unidos até aos nossos dias, em que o seu refinado poderio, agora nas mãos duma poderosa minoria que constitui 1% de sua população que de há muito controla a própria Reserva Federal, está a ser aplicado de acordo com uma globalização capitalista e neo liberal, nos termos duma hegemonia unipolar que procura a todo o transe ditar as regras da globalização e neutralizar todo o tipo de resistências, inclusive os processos nacionalistas.
3 – Em 1898, depois do fecho do território entre a costa leste (Atlântico) e a costa oeste (Pacífico) e da aquisição do Alaska, a expansão alimentou desde logo os apetites imperiais manifestados por via do Havaí (que foi conquistado e integrou como novo estado da federação), de Porto Rico (anexada pela foça das armas e com Espanha a entregar o país, como indemnização dos gastos de guerra), das Filipinas, (vendida por 20 milhões e assumida em 1903), Guam (transformada em base naval) e de Cuba (cuja independência foi imediatamente posta sob tutela e intervenção, desde quando sacudiu o jugo colonial espanhol).
 
Foi por via do Tratado de Paris de 10 de Dezembro de 1898, que a coroa espanhola cedeu aos Estados Unidos, (excluindo qualquer exigência das nações que até então manteve sob ocupação colonial, apesar da luta pela independência que ocorreu e em que foi derrotada em Cuba), Guam, Porto Rico, Cuba e as Filipinas!
 
As Filipinas viram-se na contingência de, depois da expulsão dos espanhóis, lutar pela sua independência subvertida pela tutela norte-americana, com um auto-governo que só entrou em vigor em 1934 e com os Estados Unidos só a reconhecerem a independência em 1946, após a IIª Guerra Mundial, através do Tratado De Manila, sem contudo deixarem de agenciar em função dos seus interesses a oligarquia nacional.
 
Desse processo de subversão resultou a aculturação dos filipinos, que adoptaram o inglês e se abriram a outras religiões que não as do dominador colonial, com os islamizados a fazerem o contraponto em relação ao domínio instalado em Manila…
 
Os acontecimentos históricos provam assim os nexos entre colonialismo e neo colonialismo, de forma a sustentar o domínio imperialista, que desse modo, em relação a toda a América, começou a praticar todo o tipo de ingerências com vista a fortalecer e defender os seus próprios interesses, passando a arregimentar as oligarquias locais, resultantes da pulverização de estados que face ao poderio do império foram pasto de todo o tipo de vulnerabilidades.
 
Duma forma ou de outras, as frutas iam caindo de maduras, um fenómeno que foi ocorrendo durante o século XX, todavia com a maior das contrariedades em Cuba.
 
Cuba tornou-se efectivamente assim, ao longo de mais das cinco últimas décadas, não só uma fruta que não caiu, mas um exemplo de luta para todos, para que não caíssem! 
 
Ilustração: cronologia da expansão norte-americana de leste para o oeste, para depois se tornar ultramarina.