O embaixador e ex-combatente cabo-verdiano Luís Fonseca considerou esta terça-feira que o assassínio de Amílcar Cabral, há 42 anos, só beneficiaria os colonialistas portugueses e a sua Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).
Luís Fonseca, citado pela Inforpress, falava sobre o 42.º aniversário do assassinato de Amílcar Cabral, referindo que tudo o que se diz a esse respeito, e sobre a intervenção de determinadas pessoas ou entidades, é uma tentativa de «desculpar o colonialismo português».
Segundo o diplomata, trata-se de uma tentativa de «dar razão à PIDE e aos salazaristas, que diziam que a morte do pai das independências de Cabo Verde e da Guiné-Bissau era produto de rivalidades e de contradições entre cabo-verdianos e guineenses».
O embaixador cabo-verdiano refutou, por isso, a tese segundo a qual o antigo Presidente da Guiné-Conacri Sekou Touré estaria por trás do crime, recordando que, pouco a pouco, vão aparecendo documentos que «mostram claramente» que o colonialismo português estava a tentar financiar e incentivar essas rivalidades «para provocar cisões e divisões no seio das forças nacionalistas».
Luís Fonseca, que foi também secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mostrou-se convencido de que Amílcar Cabral foi vítima de um complot e de uma estratégia no sentido de ser eliminado pelos portugueses e admitiu que se tem tentado aproveitar pequenos factos para, de certa maneira, «diminuir a importância histórica de Cabral».
A morte de Cabral nunca foi devidamente esclarecida, havendo dúvidas sobre os mandantes do crime e reinando também o silêncio dos antigos companheiros no PAIGC, cuja sede durante a luta de libertação (1963/74) estava precisamente em Conacri.
Vários livros já deram pistas sobre o contexto que levou à morte de Cabral, como os do jornalista e investigador português José Pedro Castanheira, do historiador guineense Julião Soares Sousa, dos escritores são-tomense Tomás Medeiros e angolano António Tomás ou do cubano Oscar Oramas, mas todos são inconclusivos sobre um envolvimento de Portugal ou do PAIGC.
Por sua vez, o investigador e professor universitário cabo-verdiano Daniel Santos defendeu no livro «Amílcar Cabral - Um Novo Olhar», lançado em setembro último, a tese de que Sékou Touré, antigo Presidente da Guiné-Conacri, terá sido o «provável mandante» do assassínio.
Sabe-se apenas que o autor dos disparos que o vitimaram foi Inocêncio Kani, guerrilheiro do PAIGC, entretanto falecido, alegadamente a mando de outro alto dirigente do então movimento independentista, Morno Touré, em conluio com Mamadou Ndjai, chefe da guarda de Cabral.
O 42.º aniversário do assassinato de Amílcar Cabral foi no dia de ontem assinalado em Cabo Verde, com várias atividades políticas e culturais. Fonte: Aqui