segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

CABO-VERDE, ACONTECIMENTO DO ANO EM SÃO VICENTE: NOVE HOMICÍDIOS NUMA CIDADE QUE SE TORNOU SANGRENTA

Não há como fugir à realidade: nove homicídios ocorridos na ilha de São Vicente durante o ano de 2014 são uma marca negra e vergonhosa para uma ilha que se diz ser “pacata e de bons costumes”. Mas, pior que a quantidade, é natureza dos crimes: uma violência que, nalguns casos, atingiu o macabro e o hediondo, como o caso da idosa que no dia 27 de Dezembro foi violada e esquartejada na sua moradia. São acontecimentos que atingem a tragédia. É quase uma guerra e é mesmo uma guerra se juntarmos os crimes resultantes da violência doméstica, da violação de menores e de condutores embriagados. Passemos o filme macabro de assassinatos que marcaram o ano em São Vicente.
 
No mês de Janeiro registaram-se dois homicídios, sendo um por negligência. Em Fevereiro, mais dois casos de homicídio, um em Março, dois no mês de Abril e mais um em Maio. Os meses seguintes foram mais calmos, mas com outros casos de mortes por acidentes e ingestão de bebidas alcoólicas.
 
O ano de 2014 registou um aumento dos casos: em Janeiro, Maria Francisca Silva de 43 anos que exercia a função de cabeleireira, foi a primeira vítima, ao ser assassinada com 7 facadas pelo ex-companheiro Augusto  na localidade de Monte Sossego. Um crime em que a Polícia Judiciária, aquando da realização da autópsia, frisou que “foi um homicídio violento pois ela não tinha como sobreviver, uma vez que os golpes de faca desferidos pelo autor do crime foram fatais, nomeadamente, os que atingiram o tórax da vítima”.
 
Negligência
 
Ainda em Janeiro, o Ministério Público registou um caso de homicídio negligente. Amílcar Gomes faleceu vítima de uma paragem cardíaca após sofrer um golpe no pescoço e ficar tetraplégico. O homem de 39 anos estava num convívio com um grupo de amigos na zona do Lazareto quando se envolveu numa troca de golpes com o autor da sua morte. Hermenegildo Soares, de 34 anos, agarrou os braços da vítima e, ao golpeá-la por trás, provocou-lhe uma lesão no pescoço que lhe afectou a coluna cervical e vertebral.
 
7 de Fevereiro. Um cidadão de 60 anos, Pedro Silvestre Faial foi morto numa rua na localidade de Monte. O crime foi praticado por “Rei”, trabalhador do Mercado do Peixe que desfez o rosto da vítima a pontapés. Dada a violência com que o homicídio foi praticado, a vítima ficou com a cara desfigurada e a sua identificação só veio a ser efectuada na Casa Mortuária do Hospital Baptista de Sousa através de uma tatuagem que tinha no braço.
 
Volvidos três dias, o pastor Manuel Lima foi encontrado sem vida num terreno baldio situado nas imediações da lixeira de São Vicente. Mas o caso continua a ser um mistério que a PJ procura esclarecer. Manuel dos Santos, pastor de animais do Talho Pimenta & Verduras foi morto com uma arma de fogo. Os indícios recolhidos pela PJ apontam que o pastor foi atingido por tiros de caçadeira ou “boca bedjo”.
 
Em Março, uma jovem de 24 anos, Alcione da Luz, foi morta em Vila Nova pelo ex-namorado. Pelo exame médico que foi realizado ao corpo de Alcione da Luz, as autoridades apuraram que o homicídio foi perpetrado com uma faca com cerca de 30 cm.
 
O mês de Abril foi marcado pelas mortes de Chindubo, um cidadão Nigeriano e da jovem Mileidy Santos de 21 anos. O corpo de um cidadão Nigeriano foi encontrado sem vida num beco a cerca de 300 m do cyber-café que pertencia ao mesmo. A vítima estava de barriga para o chão e trazia vestido apenas um calção. O resto da roupa de Chindubo foi encontrado debaixo de uma pedra, a 60 metros do local onde estava o corpo. Chindubo era dono de um cyber-café situado na estrada de acesso à localidade de Chã d´Faneco. A autópsia revelou que morreu por asfixia. Até agora o autor do crime continua a monte.
 
O assassinato da jovem Mileidy Santos de 21 anos, em Chã d´Cemitério, São Vicente, estão centradas no interrogatório dos cidadãos indicados como testemunhas no processo de averiguação. O caso continua a ser investigado de forma minuciosa para desvendar o motivo da morte da jovem e quem cometeu o crime, uma vez que o autor se pôs em fuga depois de agredir Mileidy com uma faca.
 
Em Maio, Arison Jorge, jovem de 28 anos, encontrou a morte na sequência de uma briga com um amigo de infância por causa de uma “amizade doentia” por uma amiga dos dois que não era namorada de nenhum deles. O desentendimento aconteceu quando Hernani agrediu e insultou Suelene Correia, por quem tinha um sentimento não correspondido que ia para além da amizade. A vítima Arison entrou no conflito para defendê-la. O juiz do 2º Juízo Crime do tribunal de São Vicente decretou prisão preventiva para Hernani Lima dos Santos, de 24 anos de idade, suspeito de ter morto Arison Jorge, de 29 anos de idade.
 
O pior estava guardado para o fim. No dia 27 de Dezembro, Cecília Brito, conhecida por mana Cecília, de 92 anos de idade, moradora em Alto São Nicolau, em São Vicente, foi encontrada morta dentro de uma mala. Os exames preliminares indicam que houve violação e que depois o corpo foi esquartejado e colocado dentro de uma  mala. A Delegada de Saúde recusou-se a  avançar as causas da morte, mas disse aos familiares que “os restos mortais podiam ser entregues num saco de plástico”. E talvez, por essa razão, determinou que os “restos mortais  fossem enterrados imediatamente”. Quando os bombeiros retiraram o corpo, pôde-se ver “um embrulho  contendo lençóis ensanguentados”. Quem esteve na cena do crime fala de um “acto bárbaro, digno de um psicopata”. FONTE: NN