Moçambique é um «caso sério» no que diz respeito à SIDA. O país figura entre os 15 países com o maior número de pessoas com a doença, segundo um relatório do Programa Conjunto da ONU para o VIH/Sida (ONUSIDA). O documento, de 400 páginas, destaca que Moçambique se situa na região do mundo mais atingida pela epidemia. Até dia 17 de julho vamos abordar o tema através de diversas peças sobre as doenças infeciosas que mais atingem o continente africano.
Os 15 países referenciados pela ONUSIDA são África do Sul (18%), Nigéria (9%), Índia (6%), Quénia (5%), Moçambique (4%), Uganda (4%), Tanzânia (4%), Zimbabwe (4%), Estados Unidos (4%), Zâmbia (3%), Malawi (3%), China (2%), Etiópia (2%), Rússia (2%) e Brasil (2%), que representam em conjunto cerca de dois terços dos 35 milhões de pessoas que em 2014 estavam infetadas.
Moçambique, que contabilizava 1,6 milhões de doentes em 2014, cerca de 400 mil mais do que em 2005, quando foram então registados 1,2 milhões de pessoas infetadas, registou no mesmo período um aumento do total do número de mortes relacionadas com a Sida: passou de 73 mil óbitos, em 2005, para 82 mil, em 2014.
Relativamente às novas infeções a nível mundial (2,1 milhões, em 2014), Moçambique representa 5% desse valor, que sobe para 8% quando se consideram as novas infeções na África subsaariana (1,5 milhões, no mesmo período).
Por género, o estudo salienta que as mulheres são mais vulneráveis a novas infeções. No caso de Moçambique, a prevalência é de 7% entre as adolescentes, e de 15% a partir dos 25 anos.
As regiões em Moçambique mais afetadas pela epidemia coincidem com as rotas mais importantes de transportes e portos marítimos, como a rota da Beira até Mutare, no vizinho Zimbabwe, e o porto de Quelimane, centro do país.
Mulheres e jovens são as maiores vítimas
Apesar de o vírus não escolher géneros, a diretora do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Sida, o Pepfar, iniciativa norte-americana para prestar auxílio aos portadores do VIH, afirma que raparigas e mulheres estão a ser desproporcionalmente contaminadas pelo vírus. Deborah Birx revela que 7 mil mulheres são infetadas a cada semana com o vírus da Sida no mundo, a maior parte delas em África. Existe hoje um número muito maior de jovens do que na época em que a epidemia começou. E em nenhum lugar isso é tão visível como na África subsaariana.
Deborah Birx está a liderar um esforço para proteger mulheres e raparigas, e mudar o curso desta epidemia: «As pessoas já sabem há algum tempo que mulheres e raparigas, especialmente as mulheres jovens, apresentam uma incidência maior da doença, e que o vírus está presente num número muito maior nas mulheres do que em homens da mesma faixa etária. Isso começa muito cedo, ao redor dos 14 ou 15 anos, e continua até pouco depois dos 20 anos. Nessas faixas etárias, o número de mulheres infetadas é quase o dobro do registado entre os homens».
Birx diz que muitas das contaminações entre raparigas e mulheres podem ser causadas por pessoas com quem elas se relacionam. Aquela responsável afirma que a disparidade mostra que as raparigas e as mulheres não são infetadas ao relacionarem-se com pessoas da mesma idade, mas sim com homens de idade diferentes, com cerca de dez anos a mais do que elas.
A responsável revela que os oficiais de saúde têm ainda muito a aprender sobre os motivos pelos quais raparigas adolescentes e jovens mulheres se envolvem nesses relacionamentos. No início da epidemia, grande parte do problema foi relacionado com a chamada síndrome dos «sugar daddies» - em português, numa tradução literal, quer dizer os «papás doces» -, na qual jovens raparigas se envolvem com homens mais velhos que são ricos e as sustentam. Mas Birx diz que a «situação é mais complicada do que isso». Fonte: Aqui